São Paulo, Sexta-feira, 05 de Março de 1999
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Leão à beira de um ataque de nervos

JUCA KFOURI
Colunista da Folha

Emerson Leão é um dos melhores técnicos do país.
No dia em que tiver um grande elenco na mão, sai de baixo.
E a torcida santista soube reconhecer seu trabalho, não só ao atender ao apelo que ele fez, comparecendo em bom número ao Morumbi, anteontem, como ao saudar o time em coro, mesmo diante da derrota para o Vasco, uma equipe superior.
Mas Leão precisa relaxar. Se não, pode até ter um troço.
Leão é ainda muito moço para já estar tão envenenado.
Parece até o mestre Telê Santana, bem mais velho, em seus últimos tempos no São Paulo.
É compreensível que um profissional de seu nível e que viva no futebol brasileiro esteja sempre revoltado. Melhor do que ninguém os profissionais devotados e atentos sabem como os bastidores são decisivos.
Telê reclamava, com razão, até da bola -que era muitas vezes de má qualidade, mas atendia aos interesses inconfessáveis do organizador desse ou daquele campeonato.
Leão acha que todos querem roubá-lo e, com frequência, tanto no Galo como no Santos, teve razão.
Mas precisa tratar dessa mania de perseguição, sob pena de graves prejuízos à saúde.
Que, a exemplo de Telê, Leão busque a perfeição, seja detalhista, nada a opor.
Mas que faça tudo isso mais feliz, com menos rancor, que se trate, faça ioga, meditação, qualquer coisa que o relaxe.
O cardiologista Adib Jatene gosta de repetir que o trabalho não mata, a raiva sim.
E que Leão entenda bem: não é só dentro de campo que existem pessoas permanentemente à beira de um ataque de nervos por causa da bagunça e da corrupção que caracterizam o futebol tetracampeão.
Fora também há. Gente que, no entanto, por mais ranzinza que às vezes possa parecer, trabalha sempre com alegria e com um sorriso nos lábios.
Don't worry, be happy, seu Leão. E vida longa.

Carlos Germano é o melhor, o mais frio e o mais elegante goleiro brasileiro da atualidade.
Mauro Galvão dispensa comentários. É o fino.
Não existe outro driblador como Felipe hoje em dia, exceção feita, talvez, a Alessandro.
Ramon é craque, e Juninho merece a seleção.
E tem Zé Maria, Odvan, Donizete, Luizão, Vágner, além de Luisinho, Zezinho e Pedrinho -já que o Huguinho o Pato Donald não liberou.
O Vasco tem tudo e tem em Antônio Lopes, técnico que atingiu a maturidade, político nas entrevistas, estrategista em campo. Melhor seria, é claro, se não tivesse o deputado.
Mas aí já é querer a perfeição, e, para que o Leão não me goze, é melhor parar por aqui.

Na noite dos ataques, os zagueiros só se deram bem quando foram à frente. E como!
Duas cabeçadas certeiras de Júnior Baiano, outra de Cléber, e o Palmeiras curvou o Defensores del Chaco diante do Cerro Porteño, com direito a educados aplausos na saída.
O campo, por sinal, estava bonito como nunca se viu, preparado para a Copa América.
Que o Olimpia tenha hoje a mesma sorte.

Por que Ricardo Teixeira diz não temer a CPI da CBF e faz tudo para evitá-la?


Juca Kfouri escreve aos domingos, às terças e às sextas-feiras


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