São Paulo, quarta-feira, 05 de abril de 2006

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TÊNIS

A vida nova de um sobrevivente

RÉGIS ANDAKU
COLUNISTA DA FOLHA

Em maio de 1992, Marko não tinha outra opção: precisava mandar a mulher e os filhos embora de casa, talvez para sempre. Hazira, Vlado e Ivan não queriam ir, muito menos sem o pai, mas também sabiam que não havia outra opção. Se ficassem, a guerra, cada vez mais próxima, poderia matá-los.
No ônibus, cheio de mulheres e crianças, Ivan fez o que o pai mandara: em nenhum momento deixou a mãe sozinha. Viu a mãe chorar. Viu o ônibus parar em cada uma das barricadas cheias de soldados sérvios armados.
Não bastou chegar ao aeroporto de Belgrado com segurança, às 10h. Ivan, Hazira e Vlado (além das outras crianças e mães) não poderiam sair até que um segundo ônibus, também cheio de refugiados, chegasse. A espera que tomava o dia poderia significar que o outro ônibus pudesse ter sido atacado e que seus ocupantes tivessem todos morrido. Só à meia-noite eles partiram de Belgrado.
O que seria o vôo salvador para a Eslovênia foi reduzido a pó. Já no ar, o avião teve negada permissão para descer no outro país. Acabou descendo perto da fronteira, e Ivan, com a mãe e o irmão, tiveram de atravessar a fronteira a pé, carregando as próprias malas.
A odisséia da família ainda estava longe do fim. Ainda haveria um outro ônibus depois da fronteira, a viagem sofrida até a capital Liubliana, uma semana tensa até a mudança para Rijeka, na Croácia, o mês de incerteza até a ida definitiva com outros refugiados para Opatija.
Ivan não se lembra de ter feito reclamações, exceto da saudade do pai. Vendo pela TV e por relatos de outros refugiados o horror da guerra entre sérvios e croatas, só teve alegria ao saber que tomaria a estrada de novo, desta vez para rever o pai, em Rijeka.
Foi lá que a família se reencontrou -e passou a viver. Foi lá que Ivan voltou a brincar de tênis, relembrando os tempos pré-guerra. E foi lá que participou de um programa para filhos de refugiados de guerra que, bons em algum esporte, poderiam ir à Itália treinar.
Talentoso desde pequeno -antes mesmo da guerra, mostrava mais habilidade e fascínio com tênis do que com o futebol, esporte nacional-, Ivan não demorou a se destacar entre garotos italianos. "Como não falava uma palavra de italiano, só me restava treinar, treinar e treinar", diria depois, entre humildade e timidez.
À escalada no ranking ao longo dos anos, desde que se tornou profissional, em 1998, seguiu a admiração dos colegas tenistas. Há um ano e pouco, enfim, Ivan Ljubicic colhe seus frutos. Subiu no ranking, ganhou títulos, virou top ten, passou a ser respeitado pelos rivais. Hoje, número 5 do mundo, ainda busca um Grand Slam ou um Masters Series.
No caminho, parece que só existe Roger Federer. Contra o suíço, foram sete partidas desde o ano passado -e sete derrotas. Quatro delas em finais. Parece um fardo.
Azar? Raiva? Frustração? Mágoa? "Na vida, aprendi a não ter sentimentos ruins", diz. "Não sou do tipo que detesta o cara que me derrota. Aliás, se é para perder de alguém, que seja para o melhor."

A novidade
Foram 161 jogadas definidas pelo replay nos jogos em Miami. Em 53 os tenistas tinham razão. Nas outras 108, não. Até tenistas inicialmente contrários à tecnologia já começam a repensar.

O desafio
Não só a altitude desafia o time de Fernando Meligeni em Cuenca. Os irmãos equatorianos Nicolás e Giovanni Lapentti, ainda que não atravessem boa fase, são osso duro de roer em Copas Davis.

O retorno
Pete Sampras volta às quadras amanhã à noite, para um jogo-exibição com Robby Ginepri, em Houston. A partida passa no www.usta.com. À ATP, ele garante não voltar -ao menos por enquanto.

E-mail reandaku@uol.com.br


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