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TÊNIS
A vida nova de um sobrevivente
RÉGIS ANDAKU
COLUNISTA DA FOLHA
Em maio de 1992, Marko não
tinha outra opção: precisava
mandar a mulher e os filhos embora de casa, talvez para sempre.
Hazira, Vlado e Ivan não queriam ir, muito menos sem o pai,
mas também sabiam que não havia outra opção. Se ficassem, a
guerra, cada vez mais próxima,
poderia matá-los.
No ônibus, cheio de mulheres e
crianças, Ivan fez o que o pai
mandara: em nenhum momento
deixou a mãe sozinha. Viu a mãe
chorar. Viu o ônibus parar em cada uma das barricadas cheias de
soldados sérvios armados.
Não bastou chegar ao aeroporto
de Belgrado com segurança, às
10h. Ivan, Hazira e Vlado (além
das outras crianças e mães) não
poderiam sair até que um segundo ônibus, também cheio de refugiados, chegasse. A espera que tomava o dia poderia significar que
o outro ônibus pudesse ter sido
atacado e que seus ocupantes tivessem todos morrido. Só à meia-noite eles partiram de Belgrado.
O que seria o vôo salvador para
a Eslovênia foi reduzido a pó. Já
no ar, o avião teve negada permissão para descer no outro país.
Acabou descendo perto da fronteira, e Ivan, com a mãe e o irmão, tiveram de atravessar a
fronteira a pé, carregando as próprias malas.
A odisséia da família ainda estava longe do fim. Ainda haveria
um outro ônibus depois da fronteira, a viagem sofrida até a capital Liubliana, uma semana tensa
até a mudança para Rijeka, na
Croácia, o mês de incerteza até a
ida definitiva com outros refugiados para Opatija.
Ivan não se lembra de ter feito
reclamações, exceto da saudade
do pai. Vendo pela TV e por relatos de outros refugiados o horror
da guerra entre sérvios e croatas,
só teve alegria ao saber que tomaria a estrada de novo, desta vez
para rever o pai, em Rijeka.
Foi lá que a família se reencontrou -e passou a viver. Foi lá que
Ivan voltou a brincar de tênis, relembrando os tempos pré-guerra.
E foi lá que participou de um programa para filhos de refugiados
de guerra que, bons em algum esporte, poderiam ir à Itália treinar.
Talentoso desde pequeno -antes mesmo da guerra, mostrava
mais habilidade e fascínio com tênis do que com o futebol, esporte
nacional-, Ivan não demorou a
se destacar entre garotos italianos. "Como não falava uma palavra de italiano, só me restava treinar, treinar e treinar", diria depois, entre humildade e timidez.
À escalada no ranking ao longo
dos anos, desde que se tornou profissional, em 1998, seguiu a admiração dos colegas tenistas. Há um
ano e pouco, enfim, Ivan Ljubicic
colhe seus frutos. Subiu no ranking, ganhou títulos, virou top
ten, passou a ser respeitado pelos
rivais. Hoje, número 5 do mundo,
ainda busca um Grand Slam ou
um Masters Series.
No caminho, parece que só existe Roger Federer. Contra o suíço,
foram sete partidas desde o ano
passado -e sete derrotas. Quatro
delas em finais. Parece um fardo.
Azar? Raiva? Frustração? Mágoa? "Na vida, aprendi a não ter
sentimentos ruins", diz. "Não sou
do tipo que detesta o cara que me
derrota. Aliás, se é para perder de
alguém, que seja para o melhor."
A novidade
Foram 161 jogadas definidas pelo replay nos jogos em Miami. Em 53
os tenistas tinham razão. Nas outras 108, não. Até tenistas inicialmente contrários à tecnologia já começam a repensar.
O desafio
Não só a altitude desafia o time de Fernando Meligeni em Cuenca. Os
irmãos equatorianos Nicolás e Giovanni Lapentti, ainda que não
atravessem boa fase, são osso duro de roer em Copas Davis.
O retorno
Pete Sampras volta às quadras amanhã à noite, para um jogo-exibição com Robby Ginepri, em Houston. A partida passa no www.usta.com. À ATP, ele garante não voltar -ao menos por enquanto.
E-mail reandaku@uol.com.br
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