São Paulo, sexta-feira, 05 de maio de 2000


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+ESPORTE - PENSE
"Barbosa" dá melancolia aos 50 anos de um fracasso

da Reportagem Local

Muito já se escreveu sobre a derrota do Brasil na final da Copa do Mundo de 1950, no Maracanã, seja em livros, jornais e publicações especializadas.
Até no cinema a tragédia que envolveu, entre outros, o goleiro Barbosa, responsável pela guarda do gol brasileiro naquele 16 de julho fatídico, já foi recriada.
Agora é a vez do jornalista Roberto Muylaert, que está lançando "Barbosa - Um Gol Faz 50 Anos" (RMC Editora), dar a sua contribuição para o misto de reconstituição histórica, sadomasoquismo e catarse que vem acompanhando o episódio nesta metade final do século 20.
Para quem não sabe (será que alguém não sabe?), no dia 16 de julho de 1950, a seleção brasileira perdeu do Uruguai, por 2 a 1, com o Maracanã lotado, a chance de vencer sua primeira Copa.
O time brasileiro era favorito mais que disparado. A comemoração, que começou antes do início da partida, seria a festa de um jovem país se firmando no mundo como "nação do futuro".
O Brasil perdeu, o estádio se calou. Hoje, 50 anos se passaram e ainda somos o mesmo país controverso e contraditório.
Acrescentemos um zero à esse cabalístico número para o futebol brasileiro e comemoraremos (?) os 500 anos desta nação, tudo neste mesmo 2000, que, no mês passado, enterrou pela segunda vez o goleiro Barbosa.
Ele, que foi apontado como principal culpado pelo gol da vitória do Uruguai no Maracanã, concedeu 20 horas de entrevista a Muylaert.
Por tudo isso, o livro já teria razão de ser. Mas não está nesse ponto sua principal atração. Calcado no drama do ex-goleiro, morto aos 79 anos, "Barbosa" reconstitui e ao mesmo tempo sedimenta a tragédia em uma outra dimensão, que não a da simples memória histórica.
A narrativa de Muylaert, entremeada por toques cinematográficos e detalhes que passaram despercebidos ao largo do tempo, disseca na verdade o aspecto psicológico-antropológico da derrocada. É uma reportagem subjetiva, se é que isso existe.
Não podia ser diferente, pois seu relato se baseia nas impressões de um rapaz de 15 anos (ele mesmo) que estava nas arquibancadas e de um velho que, por quase 50 anos, acordou, almoçou, caminhou, conversou e dormiu com a derrota.
As marcas do tempo e da vida de cada um, do próprio país, não poderiam ser desprezadas no livro. Não foram, e deram à "Barbosa" um tom onírico e melancólico que lhe confere charme e, acima de tudo, sinceridade.
(JOSÉ ALBERTO BOMBIG)

FICHA
Livro: Barbosa - Um Gol Faz 50 Anos
Autor: Roberto Muylaert
(jornalista e escritor)
Editora: RMC
Prefácio: Paulo Perdigão e Juca Kfouri
Número de páginas: 250
Preço: R$ 30,00

TRAVES
Ponto alto do livro é o relato da reação de Barbosa ao se deparar com as traves do Maracanã de 1950: "De repente ele cerra os lábios. Acabou, não há mais trave, logo, não há mais gol. Para haver gol tem que ter a limitação dos paus, ninguém faz gol num campo aberto."

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