São Paulo, sexta-feira, 05 de maio de 2006

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MOTOR

Barrichello2

FÁBIO SEIXAS
EM NURBURGRING

Em momentos diferentes, corridas consecutivas neste início de temporada, a mesma pergunta para os dois pilotos. "Não acha que o seu companheiro de equipe tem uma história na F-1 bastante parecida com a sua?"
Barrichello concordou. "É, acho que tem isso, sim. A imprensa quer sempre saber muito do Jenson. E, como ele fala muito, como eu, as coisas às vezes saem tortas."
Button não quis opinar. E foi sincero a ponto de revelar tremenda ignorância com o esporte que disputa e de resvalar no desrespeito. "Não sei nem por onde Rubens correu antes da Ferrari."
O brasileiro estava certo em dois aspectos. Seu parceiro de Honda fala demais e percorre trajetória semelhante à sua.
Ambos chegaram à categoria como garotos-prodígio de países tradicionais do esporte. Contaram, no começo, com certa leniência da torcida e da imprensa.
O primeiro, porque estava à sombra do ídolo Senna. O segundo, resguardado pelos então recentes sucessos britânicos na F-1, de McLaren, Williams e Hill, e pelas esperanças cegas em Coulthard, em Irvine e até na Jaguar.
Bibelôs em um mundo de gigantes, bons pilotos e sorridentes para as câmeras, viveram em paz com a chamada "opinião pública" até que, um a um, seus respaldos começaram a ruir e eles foram chamados à linha de frente.
Com Barrichello aconteceu de forma traumática. Button experimentou metamorfose mais branda, mas sofre, hoje, o pico da pressão, algo que o brasileiro sentiu em três períodos: lá por 95, 96, nos primeiros anos de Ferrari e agora, com gente de Tóquio criticando duramente a falta de resultados.
No caso do inglês, pressão porque os pilotos de sua geração acumulam vitórias -e Alonso, com dois Mundiais a menos, já tem um título. Pressão porque fala demais e faz de menos. Pressão porque os britânicos estão órfãos. Ok, a McLaren tem seus lampejos de brilho, mas isso não é o suficiente.
Acabou, enfim, a lua-de-mel, e Button foi espinafrado por todos os lados pela imprensa da Inglaterra, da ITV ao "Times" e à "Autosport", nas últimas semanas.
O estopim foi Imola -sim, a equipe teve suas culpas, mas ele não venceria nunca aquele GP.
O cenário é familiar: piloto jovem e simpático pinta como revelação, dá entrevistas otimistas, crava algumas poles fantásticas e inesperadas, mas não consegue converter nada disso em vitória e então começa a ser questionado.
Não bastassem todos esses pontos de contato entre as duas carreiras, Button já ouve mais um tique-taque angustiante cada vez que pisa em um autódromo: em Nurburgring, corre o 105º GP. Na história da F-1, o piloto que mais demorou a emplacar a primeira vitória foi justamente Barrichello: 124. Faltam 19, e nada indica a iminência de mudança de sorte.
Ou seja, a Honda, um time que precisa evoluir e que também luta pelo primeiro triunfo, tem ao volante de seus carros o piloto que mais tempo levou para vencer e o mais forte candidato a superar esse recorde. Pior: ambos sob forte pressão, um para deslanchar, o outro para manter o emprego.
É por isso que não vai.

Constatação
Além dos 19 GPs, dois pilotos separam Button do recorde de Barrichello. Fisichella levou 110 GPs para vencer pela 1ª vez. Trulli, 117.

Carga pesada
O ano era 1997, e, no oval de Milwaukee, vi Al Unser Jr. só de toalha deixando seu trailer, escova de dentes na mão, atrás de uma torneira. Gordo até o limite do largo cockpit, poderia ser tudo, menos piloto. Nove anos depois, anuncia que correrá as 500 Milhas pela 18ª vez.

Novo capítulo
A poucos quilômetros do kartódromo onde conheceu Schumacher, Willi Weber já diz em Nurburgring que, se o heptacampeão decidir renovar com a Ferrari, será por dois anos. E a novela continua...

E-mail fseixas@folhasp.com.br


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