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MOTOR
Barrichello2
FÁBIO SEIXAS
EM NURBURGRING
Em momentos diferentes,
corridas consecutivas neste
início de temporada, a mesma
pergunta para os dois pilotos.
"Não acha que o seu companheiro de equipe tem uma história na
F-1 bastante parecida com a sua?"
Barrichello concordou. "É, acho
que tem isso, sim. A imprensa
quer sempre saber muito do Jenson. E, como ele fala muito, como
eu, as coisas às vezes saem tortas."
Button não quis opinar. E foi
sincero a ponto de revelar tremenda ignorância com o esporte
que disputa e de resvalar no desrespeito. "Não sei nem por onde
Rubens correu antes da Ferrari."
O brasileiro estava certo em
dois aspectos. Seu parceiro de
Honda fala demais e percorre trajetória semelhante à sua.
Ambos chegaram à categoria
como garotos-prodígio de países
tradicionais do esporte. Contaram, no começo, com certa leniência da torcida e da imprensa.
O primeiro, porque estava à
sombra do ídolo Senna. O segundo, resguardado pelos então recentes sucessos britânicos na F-1,
de McLaren, Williams e Hill, e pelas esperanças cegas em Coulthard, em Irvine e até na Jaguar.
Bibelôs em um mundo de gigantes, bons pilotos e sorridentes
para as câmeras, viveram em paz
com a chamada "opinião pública" até que, um a um, seus respaldos começaram a ruir e eles foram chamados à linha de frente.
Com Barrichello aconteceu de
forma traumática. Button experimentou metamorfose mais branda, mas sofre, hoje, o pico da pressão, algo que o brasileiro sentiu
em três períodos: lá por 95, 96, nos
primeiros anos de Ferrari e agora,
com gente de Tóquio criticando
duramente a falta de resultados.
No caso do inglês, pressão porque os pilotos de sua geração acumulam vitórias -e Alonso, com
dois Mundiais a menos, já tem
um título. Pressão porque fala demais e faz de menos. Pressão porque os britânicos estão órfãos. Ok,
a McLaren tem seus lampejos de
brilho, mas isso não é o suficiente.
Acabou, enfim, a lua-de-mel, e
Button foi espinafrado por todos
os lados pela imprensa da Inglaterra, da ITV ao "Times" e à "Autosport", nas últimas semanas.
O estopim foi Imola -sim, a
equipe teve suas culpas, mas ele
não venceria nunca aquele GP.
O cenário é familiar: piloto jovem e simpático pinta como revelação, dá entrevistas otimistas,
crava algumas poles fantásticas e
inesperadas, mas não consegue
converter nada disso em vitória e
então começa a ser questionado.
Não bastassem todos esses pontos de contato entre as duas carreiras, Button já ouve mais um tique-taque angustiante cada vez
que pisa em um autódromo: em
Nurburgring, corre o 105º GP. Na
história da F-1, o piloto que mais
demorou a emplacar a primeira
vitória foi justamente Barrichello:
124. Faltam 19, e nada indica a
iminência de mudança de sorte.
Ou seja, a Honda, um time que
precisa evoluir e que também luta
pelo primeiro triunfo, tem ao volante de seus carros o piloto que
mais tempo levou para vencer e o
mais forte candidato a superar esse recorde. Pior: ambos sob forte
pressão, um para deslanchar, o
outro para manter o emprego.
É por isso que não vai.
Constatação
Além dos 19 GPs, dois pilotos separam Button do recorde de Barrichello. Fisichella levou 110 GPs para vencer pela 1ª vez. Trulli, 117.
Carga pesada
O ano era 1997, e, no oval de Milwaukee, vi Al Unser Jr. só de toalha
deixando seu trailer, escova de dentes na mão, atrás de uma torneira.
Gordo até o limite do largo cockpit, poderia ser tudo, menos piloto.
Nove anos depois, anuncia que correrá as 500 Milhas pela 18ª vez.
Novo capítulo
A poucos quilômetros do kartódromo onde conheceu Schumacher,
Willi Weber já diz em Nurburgring que, se o heptacampeão decidir
renovar com a Ferrari, será por dois anos. E a novela continua...
E-mail fseixas@folhasp.com.br
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