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JOSÉ GERALDO COUTO
Bolas à mão-cheia
Num projeto inusitado, 5.000 bolas de futebol serão utilizadas para combater a miséria africana
BENDITO O que semeia livros à
mão-cheia, diz o verso de Castro Alves. O irlandês-americano-brasileiro Michael Mitchell,
professor de educação física formado pela Universidade do Estado da
Califórnia, resolveu mudar um pouco o mote do poeta baiano, substituindo os livros por bolas de futebol.
Eu explico. Em 1983, quando servia a Força de Paz da ONU no Níger,
Mitchell fez amizade com crianças
da cidade de Zinder e deu a elas 15
bolas de futebol. No ano seguinte, o
time local, L'Équipe Espoir (Equipe
Esperança), conquistou pela primeira vez o Campeonato Nacional
do Níger, elevando enormemente a
auto-estima de seus cidadãos.
Mais de duas décadas depois, Mitchell planeja agora voltar ao país levando não 15, mas 5.000 bolas a serem distribuídas nas escolas e nos
clubes das principais cidades do
país. Para isso, já conta com a promessa de ajuda da própria Força de
Paz e do governo nigerino.
Parece pouco, mas não é. Uma bola de futebol é artigo de luxo no Níger, um dos países mais pobres do
planeta. Localizado na África Ocidental, ao sul da Argélia e ao norte da
Nigéria, o Níger tem dois terços de
seu território no deserto do Saara.
Ocupa a 174ª posição no Índice de
Desenvolvimento Humano da
ONU, à frente apenas de Serra Leoa.
O analfabetismo chega a 86%.
Claro que, por si só, despejar milhares de bolas sobre essa gente não
vai mudar sua condição de vida miserável. Livros, sozinhos, também
não mudariam. Tudo vai depender
de como essas bolas serão distribuídas e do que será feito com elas. Se o
terreno for fértil, e cultivado adequadamente, elas frutificarão de algum modo.
Penso no aspecto simbólico do
gesto. No final do século 19, Charles
Miller, de volta de uma temporada
na Europa, trouxe ao Brasil duas bolas de futebol. Embora pesquisas recentes tenham mostrado que já se
praticava o esporte no país antes
disso, a imagem de Miller desembarcando com duas bolas debaixo
dos braços ficou eternizada como a
origem mítica do futebol brasileiro.
Se um mero par de bolas de futebol pôde ter em nossos tristes trópicos a conseqüência que se conhece,
o que não poderão fazer 5.000 no
Níger? É, de todo modo, um projeto
a ser acompanhado com atenção.
Quem quiser mais informações, ou
estiver interessado em ajudar, deve
visitar o site www.projectplay.net.
Acho que todo brasileiro que, como eu, não esquece a emoção do
primeiro contato imediato com
uma bola "de capotão" é capaz de
avaliar a lucidez dessa loucura.
Estados de emergência
Por motivos diversos, várias decisões estaduais ganharam contornos espetaculares. No Rio, o Flamengo tenta afugentar a crise diante do redivivo Botafogo depois da
derrota feia para o Defensor na Libertadores e do afastamento de Juninho Paulista. Em Minas, só um
milagre pode levar o Cruzeiro a
descontar a goleada de 4 a 0 para o
Atlético no primeiro jogo. No Sul,
Grêmio e Juventude vão para a decisão no Olímpico em igualdade de
condições. E, no Morumbi, o Santos vai ter que se desdobrar se quiser tirar a sólida vantagem do São
Caetano. É bom deixar o desfibrilador de prontidão.
jgcouto@uol.com.br
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