O clima lembra 82, quando éramos os melhores e não levamos a taça

VOEI Varig até Frankfurt. Como voei Varig para Madri, na Copa de 1982. Há no ar uma sensação parecida com a que eu sentia 24 anos atrás e outra muito diferente. E que tem a ver com a Varig. A parecida: em 82, tínhamos, como hoje, um punhado de atletas brilhantes. Se agora temos Juninho, Kaká, Robinho, os Ronaldos, lá contávamos com Leandro, Júnior, Toninho Cerezo, Falcão, Sócrates, Zico. Éramos favoritos ao chegar à Espanha, como somos de novo. E perdemos porque a Itália jogou melhor no Sarriá. Como aposto que perderemos agora, se não para uma seleção que nos supere, quase certamente para as manipulações que têm caracterizado o jogo de futebol. E é aí que percebo a diferença dos dias atuais para os dos anos 80. A Varig éramos nós na fita, como diz a moçada. Embaixada do Brasil, nosso solo, aquele em que se plantando tudo dava. Minha volta está marcada para 10 de julho, pela Varig. Mas não garanto porque nesta semana haverá o tal leilão e quem sabe eu volte pela Panair, a da Copa de 1958. Alguma coisa parece fazer sentido quando se fala em política e em companhia aérea no Brasil. A Panair teria sido morta pela ditadura militar. E a Varig pela tal elite branca, mas seus funcionários continuam ótimos. Em 82, São Paulo se preparava para eleger Franco Montoro após duas décadas sem votar para governador. Sabíamos, aliás, distinguir o bem do mal. Serginho era grosso. Careca, que se machucou, era o fino. Fulano era filhote da ditadura. Sicrano, combatente. Beltrano, ladrão. Mas o que teve de sicranos que viraram ladrões... O sonho virou pesadelo, e a cobertura da Copa não muda. Vamos cobrir uma festa do futebol, não uma guerra, e todos queremos que a seleção volte hexa. Nem por isso o torcer permitirá distorcer ou se juntar ao ufanismo tosco que agride a inteligência a ponto de, admito, considerar que a maior vantagem de estar na Alemanha é a de não precisar conviver com a histeria que reina aí. Se vier o hexa, que seja pela Varig.