São Paulo, sexta, 5 de junho de 1998

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ALBERTO HELENA JR.

A briga e o ócio

Já estava mesmo pra tocar nesse assunto, quando cruzei, no estádio de Ozoir, com a informação de múltiplas pernas, segundo a qual Edmundo teria até agredido Leonardo, depois do jogo de Bilbao. Se a informação não é verídica, pelo menos, é verossímil, sobretudo em se tratando de Edmundo e seu temperamento tempestuoso.
Além do mais, essas coisas acontecem mesmo, não só em seleções como em todos os times de futebol, pelo mundo inteiro. Geralmente, são episódios que se encerram no círculo interno do grupo, sem maiores sequelas.
Mas o que me surpreende é o motivo alegado da suposta agressão: Edmundo estaria indignado por não já não ter substituído Bebeto, que, por sinal, embora com boa movimentação, não está jogando nada. Acontece que o próprio Edmundo, em todos os (raríssimos) treinos da seleção, desde o início da concentração em Lésigny, igualmente nada fez para merecer tal honra. Seu futebol, a exemplo do de Bebeto, tem sido burocrático, opaco, até mesmo com tisnados de desinteresse.
Agora, vai o pior: nem mesmo Denílson, nosso menino de ouro, de quem eu esperava uma performance histórica nesta Copa, dá sinais de que está aqui com ganas de ser titular. Tá lá em campo, tocando de primeira, e, quando tenta um daqueles dribles mágicos, reflui e fica no meio do caminho, apesar de Zagallo, no dia do corte de Romário, tenha admitido a hipótese de usá-lo lá na frente, ao lado de Ronaldinho.
Mas, pensando bem, quem realmente está lutando por um lugar no time titular? Quem? Deixa ver. Talvez, Leonardo. E só.

E ontem foi mais um dia de ócio em Ozoir. Os jogadores entraram no campo lá pelas quatro e meia da tarde, de tênis, deram umas corridinhas, cumprimentaram um grupo de paraplégicos, e rapidamente se mandaram para Paris. Ou melhor: para um evento da Nike, aonde toda a imprensa teve de se deslocar, pois só lá eles se dignariam a dar entrevistas.
Juro por Deus que nunca vi tamanha incúria, a uma semana da estréia da Copa.

Realmente, Dunga é a nossa última esperança. Ontem, na festa da Nike, ele foi direto: "Devíamos era estar treinando, não aqui".




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