São Paulo, sexta, 5 de junho de 1998

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Jogadores da seleção perderam cerca de três horas com inauguração de um parque temático do patrocinador da CBF
Dunga critica evento da Nike

dos enviados especiais a Paris

O volante Dunga criticou a ida da seleção brasileira a um evento promovido pela Nike, ontem à tarde, perto de Paris.
A empresa, que fornece material esportivo para todas as equipes da Confederação Brasileira de Futebol, inaugurou um espaço de recreação junto ao Arch de la Défense, localizado em Neuilly-sur-Seine, cidade vizinha à capital francesa. O evento contou com a presença do Trio Esperança, formado por cantoras brasileiras.
"Acho bacana que exista um espaço para as crianças, mas a vinda da seleção nesse momento é inoportuna.", afirmou o capitão da seleção.
É a primeira vez que um jogador critica abertamente a empresa que paga US$ 22 milhões por ano à CBF pelo direito de fabricar o uniforme da seleção até 2006.
Dunga fará na França sua terceira Copa. Em 1990, tornou-se o símbolo do fracasso brasileiro na Itália, causado pelo mau relacionamento entre os jogadores e pelos erros da comissão técnica.
Em 1994, o jogador deu a volta por cima e levantou a Taça Fifa, na conquista do tetracampeonato.
"Todos sabem que sempre faço o máximo para ganhar. Vencer uma Copa é o máximo para qualquer jogador. Esta tem um sabor especial, porque sei que será a última para mim."
Para ir à cerimônia, a comissão técnica alterou seu cronograma de trabalho. O treino foi adiantado das 16h30 para as 15h50.
O treinamento durou apenas 15 minutos. Ele se resumiu a um alongamento e a uma corrida em volta do campo do estádio de Ozoir-la-Ferrière (cidade a sudeste de Paris). Depois os jogadores tomaram banho e partiram em direção ao Nike Park, distante cerca de 50 km.
Apesar de ter permanecido apenas cerca de meia hora no local, a delegação brasileira gastou mais de três horas com o evento, incluindo os deslocamentos.
Dunga afirmou que esse tempo não poderia ter sido desperdiçado.
"Estamos a poucos dias da Copa e precisamos treinar", afirmou ele, que é apontado pelo técnico Mario Zagallo como exemplo de dedicação profissional e seu braço-direito.
Dos 21 jogadores que chegaram à França em 22 de maio (exceto Emerson), apenas 3 têm contratos com concorrentes da Nike. Dunga (Reebok) é um deles. Os outros são Taffarel (Diadora) e o zagueiro Aldair (Reebok).
O supervisor da seleção, Américo Faria, omitiu-se sobre a declaração do capitão do time: "Isso é a opinião dele".
Ronaldinho, o principal atleta de futebol patrocinado pela Nike em todo o mundo, defendeu o evento. "Isso não atrapalha em nada. Mas era melhor estar treinando."

Poder
A presença da seleção brasileira na inauguração é apenas outro elemento que mostra a ingerência dessa empresa sobre a CBF.
Nos dois últimos amistosos da seleção, a Nike esteve presente. No primeiro, no domingo, a Nike realizou a final do seu torneio europeu de futebol infantil na preliminar de Athletic Bilbao x Brasil. Anteontem, Andorra usou uniformes Nike sem receber um centavo para enfrentar a seleção brasileira.
Apesar de a Nike patrocinar mais de 500 atletas e cinco seleções de futebol, apenas o ex-jogador da seleção francesa Eric Cantona, que se aposentou no final da temporada 96/97, e a equipe brasileira participaram da inauguração.
O jogador francês Ibrahim Ba, meia do Milan (Itália) que foi cortado da seleção, compareceu apenas para assistir.
Segundo o assessor de imprensa da delegação brasileira, Nelson Borges, os jogadores tiveram a obrigação de comparecer ao evento. Por isso, todos os 22 estiveram lá, bem como toda a comissão técnica. (AGz, JCA, MD e MM)



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