São Paulo, sábado, 5 de junho de 1999

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TÊNIS
Após a campanha inédita no Grand Slam, brasileiro não quer mais ser chamado de "zebra" nem de argentino
Meligeni é eliminado em Roland Garros

France Presse
Meligeni tenta devolução no jogo em que foi eliminado do Aberto da França


HAROLDO CERAVOLO SEREZA
de Paris

ROBERTO DIAS
enviado especial a Paris

Depois de fazer 4 a 0 no início do jogo, o brasileiro Fernando Meligeni perdeu ontem por 3 sets a 1 (7/5, 3/6, 6/4, 7/6) para o ucraniano Andrei Medvedev uma vaga na final do Aberto da França.
Seria a segunda vez que um brasileiro decidiria um Grand Slam. A primeira aconteceu em 97, quando Gustavo Kuerten foi campeão, no mesmo Aberto da França.
Além de Roland Garros, integram a série mais importante do tênis mundial os Abertos da Austrália, dos EUA e Wimbledon.
Medvedev, agora, vai decidir o torneio contra o vencedor da partida entre o norte-americano Andre Agassi e o eslovaco Dominik Hrbaty, interrompida por causa da chuva. O jogo deve continuar hoje a partir das 7h (de Brasília).
Apesar da derrota, Meligeni fez sua melhor participação num torneio desse porte. Antes, chegara duas vezes às oitavas de Roland Garros -em 93 e 98. O piso do Aberto da França é o saibro (terra batida), o mais lento do esporte e especialidade do brasileiro.
"É triste perder, não estou contente. Acho que amanhã (hoje) vou sentar e chegar à conclusão de que fiz um bom resultado", disse o brasileiro após a partida.
"Não vou tolerar mais ser chamado de surpresa cada vez que bater um top ten. Assim como não tolerei ser chamado de argentino naturalizado brasileiro após a Olimpíada de 96", afirmou. Em Atlanta, Meligeni disputou e perdeu a medalha de bronze.
O brasileiro adotou ontem a tática que dera a Medvedev a vitória sobre Kuerten: atacar, arriscando algumas subidas à rede.
"Ele sabia que tinha que tomar a iniciativa. No começo, ele cumpriu à risca. Mas aí Medvedev se adaptou", afirmou o técnico de Meligeni, Ricardo Acioly.
Medvedev voltou a usar suas deixadas próximas à rede, mas com menos sucesso do que na partida contra Kuerten, nas quartas-de-final. Meligeni ganhou o apoio da torcida com brincadeiras e sua disposição de ir a todas as bolas.
Para Meligeni, a disputa foi marcada por momentos surpreendentes: "Quem viu o jogo pensou: "Meligeni vai ganhar. Não, é Medvedev quem vai ganhar. Não, finalmente é Meligeni'".
O ucraniano, centésimo colocado do ranking da ATP (Associação de Tenistas Profissionais), chega, aos 24 anos, pela primeira vez à final de um Grand Slam. Sua melhor performance aconteceu em 93, quando foi à semifinal em Paris.
No jogo de ontem, que durou duas horas e 59 minutos, Meligeni quebrou os dois primeiros serviços do adversário para marcar 4 a 0. Medvedev reagiu, empatando em 5 a 5, após o brasileiro ter desperdiçado cinco set points, e depois fechou em 7 a 5.
"Perdi minha concentração, cometi erros no meu saque, e ele aproveitou", disse Meligeni.
Na série seguinte, a situação se inverteu: foi o ucraniano quem saiu na frente, marcando 2 a 0, depois 3 a 1. Aí, Meligeni obteve uma ótima reação: ganhou cinco games consecutivos para fechar em 6 a 3.
No set seguinte, o brasileiro fez 3 a 1 no nono erro em dez bolas seguidas do ucraniano. Medvedev empatou em 4 a 4, e, em erro de Meligeni, fez 6 a 4.
O quarto set começou melhor para o brasileiro, que abriu 3 a 1, mas novamente desperdiçou a vantagem. A série foi para o tie-break, quando Medvedev fez 4 a 0. Meligeni virou, mas o ucraniano fechou em 8 a 6.
Ao todo, Medvedev quebrou oito vezes o serviço de Meligeni. O brasileiro obteve sete quebras.
"Ele (Medvedev) jogou melhor nos pontos importantes", disse o técnico Ricardo Acioly.
A mãe de Meligeni, Concepción, achou que o filho "deveria ter atacado mais". "Às vezes, ele dá umas cochiladas", brincou. Ontem, ela usou a mesma roupa bege com que assistiu a todos os jogos. "O ano que vem tem mais."



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