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FUTEBOL
O acaso também joga
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
Como era esperado, choveram explicações (e acusações) para a derrota do Santos na final da Libertadores.
Para uns, talvez a maioria, faltou maturidade ao time santista.
É uma explicação fácil, quase automática, mas no mínimo insuficiente.
O Santos me pareceu muito menos perdido em campo do que,
por exemplo, o Palmeiras diante
do mesmo Boca Juniors em 2000 e
2001, ou do que o Corinthians
diante do River Plate este ano.
Para outros, o erro foi de Leão,
de ter feito a equipe jogar ofensivamente nos dois jogos, abrindo
assim brechas para o contra-ataque argentino.
Ora, para começo de conversa, o
Santos só chegou aonde chegou
(incluindo nessa trajetória a conquista do título brasileiro de
2002) por ser um time agressivo e
impetuoso.
Além disso, no primeiro jogo,
em Buenos Aires, era preciso mostrar poder ofensivo, jogar de igual
para igual, tentar marcar no estádio do adversário. Tudo isso foi
dito antes da partida por muitos
dos que agora criticam a postura
supostamente "imprudente" de
Leão e seus comandados.
Se tivessem sido cautelosos na
Bombonera, os jovens atletas santistas seriam acusados de tremer
diante do adversário, de não estar
à altura da decisão, e por aí afora.
Na segunda partida, entrando
em campo com um prejuízo de
dois gols, o Santos só podia mesmo atacar desde o primeiro instante. E a estratégia quase deu
certo: aos 20min de jogo os santistas já haviam criado umas três
chances claras de gol e sofrido um
pênalti não marcado.
Quem pode imaginar o que teria acontecido se uma dessas bolas tivesse entrado?
Não se trata, aqui, de chorar o
leite derramado, ou de trabalhar
abstratamente sobre hipóteses (a
eterna tentação do "se..."), mas de
chamar a atenção para uma dimensão do futebol que tende a ser
desprezada nesses momentos de
alta voltagem dramática: a dimensão do acaso.
Claro que o Santos correu riscos, claro que se afobou em alguns
momentos, claro que o time do
Boca foi pragmático e eficiente.
Ninguém está negando isso.
Só quero dizer que, com a mesma escalação e a mesma estratégia ofensiva, o Santos poderia ter
vencido as duas partidas ou empatado as duas. Bastava que o
acaso tivesse agido a seu favor, e
não contra.
Não me entendam mal. O acaso, tal como o concebo aqui, inclui
os erros ocasionais de jogadores
que não costumam errar.
Por exemplo, Alex falhou feio
no segundo gol do Boca em Buenos Aires. Foi um gol praticamente fortuito, ou seja, que não foi
fruto de nenhuma jogada elaborada, nem da superioridade tática ou técnica do adversário.
Esse detalhe, essa minúcia de
centímetros, de frações de segundo, acabou por ser o momento
que decidiu a sorte do confronto
entre os dois times. Só os donos da
verdade, só a turma do "eu sabia
desde o começo" poderá dizer,
sem corar, que isso era previsível,
que "estava na cara".
Momento histórico
O impedimento, pela Justiça,
da eleição para a Federação de
Futebol do Rio, por causa das
irregularidades cometidas pelo
candidato à reeleição, é um fato
de grande importância. Tomara que aconteça o mesmo na
CBF e em todas as federações
cujos cartolas estejam sujos na
Justiça. Só que os dirigentes sérios (existem, acredite) precisam ficar do lado certo.
Voltando à vaca fria
Santos x Coritiba é importante
porque: 1) colocará em confronto direto dois times empatados na disputa pela segunda colocação; 2) permitirá avaliar
o impacto da derrota para o Boca Juniors sobre o ânimo dos
santistas. Já Grêmio x Flamengo é o jogo do desespero entre
dois times que perderam em
casa na última rodada.
E-mail jgcouto@uol.com.br
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