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São Paulo, sábado, 05 de julho de 2003

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FUTEBOL

O acaso também joga

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

Como era esperado, choveram explicações (e acusações) para a derrota do Santos na final da Libertadores.
Para uns, talvez a maioria, faltou maturidade ao time santista. É uma explicação fácil, quase automática, mas no mínimo insuficiente.
O Santos me pareceu muito menos perdido em campo do que, por exemplo, o Palmeiras diante do mesmo Boca Juniors em 2000 e 2001, ou do que o Corinthians diante do River Plate este ano.
Para outros, o erro foi de Leão, de ter feito a equipe jogar ofensivamente nos dois jogos, abrindo assim brechas para o contra-ataque argentino.
Ora, para começo de conversa, o Santos só chegou aonde chegou (incluindo nessa trajetória a conquista do título brasileiro de 2002) por ser um time agressivo e impetuoso.
Além disso, no primeiro jogo, em Buenos Aires, era preciso mostrar poder ofensivo, jogar de igual para igual, tentar marcar no estádio do adversário. Tudo isso foi dito antes da partida por muitos dos que agora criticam a postura supostamente "imprudente" de Leão e seus comandados.
Se tivessem sido cautelosos na Bombonera, os jovens atletas santistas seriam acusados de tremer diante do adversário, de não estar à altura da decisão, e por aí afora.
Na segunda partida, entrando em campo com um prejuízo de dois gols, o Santos só podia mesmo atacar desde o primeiro instante. E a estratégia quase deu certo: aos 20min de jogo os santistas já haviam criado umas três chances claras de gol e sofrido um pênalti não marcado.
Quem pode imaginar o que teria acontecido se uma dessas bolas tivesse entrado?
Não se trata, aqui, de chorar o leite derramado, ou de trabalhar abstratamente sobre hipóteses (a eterna tentação do "se..."), mas de chamar a atenção para uma dimensão do futebol que tende a ser desprezada nesses momentos de alta voltagem dramática: a dimensão do acaso.
Claro que o Santos correu riscos, claro que se afobou em alguns momentos, claro que o time do Boca foi pragmático e eficiente. Ninguém está negando isso.
Só quero dizer que, com a mesma escalação e a mesma estratégia ofensiva, o Santos poderia ter vencido as duas partidas ou empatado as duas. Bastava que o acaso tivesse agido a seu favor, e não contra.
Não me entendam mal. O acaso, tal como o concebo aqui, inclui os erros ocasionais de jogadores que não costumam errar.
Por exemplo, Alex falhou feio no segundo gol do Boca em Buenos Aires. Foi um gol praticamente fortuito, ou seja, que não foi fruto de nenhuma jogada elaborada, nem da superioridade tática ou técnica do adversário.
Esse detalhe, essa minúcia de centímetros, de frações de segundo, acabou por ser o momento que decidiu a sorte do confronto entre os dois times. Só os donos da verdade, só a turma do "eu sabia desde o começo" poderá dizer, sem corar, que isso era previsível, que "estava na cara".

Momento histórico
O impedimento, pela Justiça, da eleição para a Federação de Futebol do Rio, por causa das irregularidades cometidas pelo candidato à reeleição, é um fato de grande importância. Tomara que aconteça o mesmo na CBF e em todas as federações cujos cartolas estejam sujos na Justiça. Só que os dirigentes sérios (existem, acredite) precisam ficar do lado certo.

Voltando à vaca fria
Santos x Coritiba é importante porque: 1) colocará em confronto direto dois times empatados na disputa pela segunda colocação; 2) permitirá avaliar o impacto da derrota para o Boca Juniors sobre o ânimo dos santistas. Já Grêmio x Flamengo é o jogo do desespero entre dois times que perderam em casa na última rodada.

E-mail jgcouto@uol.com.br


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