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JUCA KFOURI
"Como é que ninguém via isso?"
Um ano depois da Copa de 2006, o que temos? Um presidente perplexo com o que aconteceu na Alemanha
TINHA JOGADOR que chegava entre as 4h e as 6h da
manhã, bêbado", revelou
Ricardo Teixeira ao correspondente
de "O Estado de S. Paulo", Jamil
Chade.
"Era óbvio que aquilo não ia funcionar. Como é que ninguém via isso?", perguntou, ainda atordoado,
um ano depois de ele mesmo ter sido
o responsável, por exigência da empresa que agencia a seleção da CBF,
pela festiva temporada de treinamento em Weggis, na Suíça, a mesma que promove o próximo amistoso do time, contra a poderosa Argélia, na França.
"Como é que um atleta pode chegar a uma Copa pesando 98 quilos?
Eu tenho quase isso e não sou atleta", arrematou ele na conversa com
o jornalista, em Zurique.
Ao voltar ao Brasil, o perplexo cartola tentou desmentir a bebedeira e
confirmou tudo o mais. Entre tantas
perguntas, impõem-se outras, e a
primeira é: é para rir ou para chorar?
Vamos rir.
Porque só rindo de um comandante que pergunta tanto sobre coisas que aconteciam à vista de todos,
tirante a bebedeira.
Cuja notícia, diga-se, chegou na
mesma madrugada que ocorreu ao
coordenador da cobertura da ESPN
Brasil, Roberto Salim, que moveu
céus e terras para comprová-la, algo
quase impossível àquela hora e no
dia seguinte, dada a natural blindagem e a habitual falta de transparência que cerca a CBF.
Como apurar, afinal, um porre
oculto nas quatro paredes da seleção
se até a visível gordura a olho nu de
alguns jogadores era motivo de mistério e de desmentidos ridículos dos
responsáveis?
A gordura bastava contar, coisa
que a imprensa independente fez,
mesmo acusada de antipatriota.
Aliás, até o presidente, o da República, perguntou sobre o peso de Ronaldo e levou uma resposta enviesada, que parece estar sendo cobrada
com juros e correção monetária ao
ter sido eleito o bode expiatório do
vexame.
"Também dizem que o presidente
bebe, e eu não pergunto isso a ele",
reagiu, mais ou menos assim, o Fenômeno, naquele explosivo coquetel de quilos em excesso, álcool e irresponsabilidade que virou a campanha brasileira em terras alemãs.
A bebedeira, nem a primeira nem
a última em campanhas vitoriosas
ou derrotadas, quase corriqueira, seria leviano publicar.
E não se publicou.
Mas era óbvio que aquilo não iria
funcionar, como dizíamos alguns e o
cartola agora repete, aliás, sublinhando, como fez ao voltar, que estava apenas repetindo o que a imprensa dizia. Ora, pois, e então?
E ele não agiu para interromper
aquele estado de coisas? Apenas se
deu ao luxo de ficar inerte esse tempo todo para só sair da letargia um
ano depois? Faltou ele perguntar,
como o outro, que país é este?
Qualquer semelhança com a crise
aérea não será mera coincidência,
pois não. Mas, em tudo, o que
mais assusta é a timidez da reação
dos acusados, tementes sabe-se
lá do quê.
E todos maiores de idade, vacinados e milionários, diferentemente
da esmagadora maioria da torcida
brasileira, desinformada, doente e
pobre, razão pela qual se comporta
como gado de corte. Ou da corte.
blogdojuca@uol.com.br
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