São Paulo, domingo, 05 de agosto de 2007

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JUCA KFOURI

"Como é que ninguém via isso?"

Um ano depois da Copa de 2006, o que temos? Um presidente perplexo com o que aconteceu na Alemanha

TINHA JOGADOR que chegava entre as 4h e as 6h da manhã, bêbado", revelou Ricardo Teixeira ao correspondente de "O Estado de S. Paulo", Jamil Chade.
"Era óbvio que aquilo não ia funcionar. Como é que ninguém via isso?", perguntou, ainda atordoado, um ano depois de ele mesmo ter sido o responsável, por exigência da empresa que agencia a seleção da CBF, pela festiva temporada de treinamento em Weggis, na Suíça, a mesma que promove o próximo amistoso do time, contra a poderosa Argélia, na França.
"Como é que um atleta pode chegar a uma Copa pesando 98 quilos? Eu tenho quase isso e não sou atleta", arrematou ele na conversa com o jornalista, em Zurique.
Ao voltar ao Brasil, o perplexo cartola tentou desmentir a bebedeira e confirmou tudo o mais. Entre tantas perguntas, impõem-se outras, e a primeira é: é para rir ou para chorar?
Vamos rir.
Porque só rindo de um comandante que pergunta tanto sobre coisas que aconteciam à vista de todos, tirante a bebedeira. Cuja notícia, diga-se, chegou na mesma madrugada que ocorreu ao coordenador da cobertura da ESPN Brasil, Roberto Salim, que moveu céus e terras para comprová-la, algo quase impossível àquela hora e no dia seguinte, dada a natural blindagem e a habitual falta de transparência que cerca a CBF.
Como apurar, afinal, um porre oculto nas quatro paredes da seleção se até a visível gordura a olho nu de alguns jogadores era motivo de mistério e de desmentidos ridículos dos responsáveis?
A gordura bastava contar, coisa que a imprensa independente fez, mesmo acusada de antipatriota.
Aliás, até o presidente, o da República, perguntou sobre o peso de Ronaldo e levou uma resposta enviesada, que parece estar sendo cobrada com juros e correção monetária ao ter sido eleito o bode expiatório do vexame.
"Também dizem que o presidente bebe, e eu não pergunto isso a ele", reagiu, mais ou menos assim, o Fenômeno, naquele explosivo coquetel de quilos em excesso, álcool e irresponsabilidade que virou a campanha brasileira em terras alemãs.
A bebedeira, nem a primeira nem a última em campanhas vitoriosas ou derrotadas, quase corriqueira, seria leviano publicar.
E não se publicou.
Mas era óbvio que aquilo não iria funcionar, como dizíamos alguns e o cartola agora repete, aliás, sublinhando, como fez ao voltar, que estava apenas repetindo o que a imprensa dizia. Ora, pois, e então?
E ele não agiu para interromper aquele estado de coisas? Apenas se deu ao luxo de ficar inerte esse tempo todo para só sair da letargia um ano depois? Faltou ele perguntar, como o outro, que país é este?
Qualquer semelhança com a crise aérea não será mera coincidência, pois não. Mas, em tudo, o que mais assusta é a timidez da reação dos acusados, tementes sabe-se lá do quê.
E todos maiores de idade, vacinados e milionários, diferentemente da esmagadora maioria da torcida brasileira, desinformada, doente e pobre, razão pela qual se comporta como gado de corte. Ou da corte.


blogdojuca@uol.com.br

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