São Paulo, terça-feira, 05 de outubro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

OLIMPÍADA

Mudança estatutária assegura hegemonia no poder até 2012 a aliados do dirigente, que ganhará mais quatro anos

Nuzman se elege hoje e protege o amanhã

FERNANDO MELLO
DO PAINEL FC
MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL

Carlos Arthur Nuzman, 62, será reeleito hoje para mais quatro anos à frente da presidência do Comitê Olímpico Brasileiro. E, protegido pelo estatuto que ele e seus aliados modificaram, terá a garantia de manter seu grupo hegemônico no poder no mínimo até os Jogos Olímpicos de 2012.
Estão convocados para o pleito de hoje, no Rio, os presidentes das 29 federações filiadas ao COB e os sete membros natos com direito a voto. A chapa encabeçada por Nuzman, que tem André Richer como vice, é única.
A eleição de hoje é a primeira totalmente controlada pelo grupo de Nuzman. Pela alteração estatutária feita logo na Assembléia Geral que homologou sua vitória em 1998, ficou definido que só membros com cinco anos de COB podem almejar à presidência. Antes, não havia tal limitação.
Diz o novo estatuto da entidade, em seu artigo 26: "Somente brasileiros natos, que sejam membros do COB pelo menos há cinco anos consecutivos, poderão ser eleitos para os cargos de presidente e de vice-presidente".
Classificam-se como membros do COB, ainda de acordo com o documento, os ex-presidentes do comitê, os brasileiros com assento no COI, os presidentes de confederações e os "desportistas", pessoas que se destacaram como "dirigente ou colaborador na área esportiva ou como atleta".
Apesar de poderem se candidatar a presidente, desde que no COB por cinco anos, os "desportistas" não têm direito a voto.
A limitação de cinco anos tem o claro propósito de dar maior margem de segurança ao grupo hegemônico no poder. Como as eleições são quadrienais, o aspirante ao cargo de Nuzman tem que ficar no poder por dois ciclos eleitorais -o que dá a possibilidade de a diretoria do COB eliminar eventuais "rebeldes" do jogo eleitoral.
O controle de poder se sustenta ainda na concentração do dinheiro que hoje financia a maior parte das confederações: as verbas públicas oriundas da Lei Piva. Como este dinheiro é distribuído a critério exclusivo do comitê, entidades que possam lançar candidatos estranhos ao grupo do atual presidente podem, em tese, ver sua verba diminuir.
No comando do esporte olímpico do país desde 1995, quando foi escolhido para completar o mandato obtido por André Richer, Nuzman receberá hoje de seus pares sua primeira reeleição.
E tem aberta a possibilidade de se perpetuar no poder sem ser incomodado. A única ameaça real a Nuzman vem de fora do COB.
O dirigente, conforme publicou a Folha no mês passado, mostrou preocupação com um item em especial do Estatuto do Desporto: o limite ao número de reeleições.
Na última Assembléia Geral da confederação, pediu a seus pares para fazerem lobby na Câmara dos Deputados para evitar a limitação de mandatos. O pedido está registrado em ata. E, depois dele, o artigo sumiu do projeto de nova legislação esportiva.


Texto Anterior: O que ver na TV
Próximo Texto: Mudança barra Lars Grael como oposição em 08
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.