São Paulo, Domingo, 05 de Dezembro de 1999


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VÔLEI DE PRAIA

Shelda, com 1,65 m e paralisia na mão, e Adriana, com dores lombares, são tricampeãs mundiais

Dupla "remendada" reina nas areias

da Reportagem Local

Tinha tudo para dar errado. Uma dupla formada por uma jogadora de 1,65 m, destra e com paralisia em parte desta mão, e por outra que depende de fisioterapia para superar dores lombares.
A parceria venceu 100 de seus 105 últimos jogos internacionais. É tricampeã mundial, está prestes a fazer o mesmo no circuito nacional e só por mera formalidade não está confirmada no torneio de vôlei de praia em Sydney-2000, no qual será favorita.
A dupla formada por Shelda, 26, e Adriana, 30, estreou em outubro de 1995. Foi vice-campeã em uma etapa do circuito nacional. As vencedoras foram Jackie Silva e Sandra Pires, que depois se tornariam as primeiras campeãs olímpicas do país, em Atlanta-96.
Rotina entre os atletas de vôlei de praia, ambas eram egressas do vôlei indoor. Shelda estreou na areia em final de 1991, ""pela teimosia de voltar a jogar". No Carnaval, em um acidente de carro, sofrera cortes nas mãos.
Na mais afetada, a direita, perdeu movimentos e sofreu atrofia. Passou a atacar com a esquerda.
Hoje, joga com a mão direita protegida por duas luvas -uma elástica e outra rígida, para absorção de impacto. Não executa movimentos simples, como juntar todos os dedos. Superou outra limitação, a altura: com 1,65 m é a mais baixa do Circuito Mundial.
A parceira, Adriana Behar, 1,80 m, tem acompanhamento de um osteopata e de um ortopedista por conta de dores lombares.
Mas não são essas características que colocaram a dupla em evidência, mas sim os resultados.
Desde a estréia no Circuito Mundial da FIVB (Federação Internacional de Vôlei), em Santos (SP), em 1995, participaram de 237 partidas e venceram 201 (aproveitamento de 84,8%).
Foram campeãs de 15 das 33 etapas disputadas (45,4%). A dupla que mais se aproxima desse aproveitamento é Jackie/Sandra, campeã em 12 das 28 etapas em que estiveram juntas (42,8%).
O mesmo circuito determina as duas duplas representantes do país na Olimpíada-2000. Em 1999, elas ganharam cinco etapas (uma com pontos dobrados) e ficaram em segundo em uma. Para Sydney, valem os oito melhores resultados de cada dupla.
Restando dez etapas para os Jogos, uma das outras duplas concorrentes, Jackie/Ana Paula e Adriana Samuel/Sandra Pires, seria descartada -não poderia somar seis vitórias. Shelda e Behar precisam ir a duas etapas, não importa o posto que ocupem.
No Circuito Nacional, o domínio é o mesmo. Em dez etapas de 1999, venceram sete. O título pode ser ratificado na última, em João Pessoa, entre os dia 15 e 19.
""A gente se juntou casualmente, num período em que estávamos sem parceira. A Letícia (Pessoa), nossa técnica até hoje, encontrou a Shelda e disse que poderíamos montar uma estrutura competitiva", conta Adriana Behar, que jogou no Flamengo, na Supergasbrás e em clubes da Itália.
""Logo de cara, fomos bem, e a gente foi ficando", diz. ""Somos habilidosas, mas sempre investimos na estrutura."
""No início, para as etapas, íamos nós duas e a Letícia. Quando começou a entrar mais dinheiro, passamos a levar preparador físico e fomos incorporando mais profissionais", lembra Behar.
Com três patrocínios -Vasco, Prefeitura do Rio e Oakley (fabricante de óculos)-, dos quais se recusam a divulgar valores, mantêm uma equipe de 12 pessoas, entre técnica, preparador físico, auxiliares, dois fisioterapeutas, ortopedista, osteopata, nutricionista e até montadores de quadra.
Sobre as limitações físicas, são categóricas: ""Nunca foi obstáculo. A altura e o problema da mão só fizeram a Shelda ficar mais forte. Ela é a melhor jogadora do circuito mundial", diz Behar.



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