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VÔLEI DE PRAIA
Shelda, com 1,65 m e paralisia na mão, e Adriana, com dores lombares, são tricampeãs mundiais
Dupla "remendada" reina nas areias
da Reportagem Local
Tinha tudo para dar errado.
Uma dupla formada por uma jogadora de 1,65 m, destra e com paralisia em parte desta mão, e por
outra que depende de fisioterapia
para superar dores lombares.
A parceria venceu 100 de seus
105 últimos jogos internacionais.
É tricampeã mundial, está prestes
a fazer o mesmo no circuito nacional e só por mera formalidade
não está confirmada no torneio
de vôlei de praia em Sydney-2000,
no qual será favorita.
A dupla formada por Shelda, 26,
e Adriana, 30, estreou em outubro
de 1995. Foi vice-campeã em uma
etapa do circuito nacional. As
vencedoras foram Jackie Silva e
Sandra Pires, que depois se tornariam as primeiras campeãs olímpicas do país, em Atlanta-96.
Rotina entre os atletas de vôlei
de praia, ambas eram egressas do
vôlei indoor. Shelda estreou na
areia em final de 1991, ""pela teimosia de voltar a jogar". No Carnaval, em um acidente de carro,
sofrera cortes nas mãos.
Na mais afetada, a direita, perdeu movimentos e sofreu atrofia.
Passou a atacar com a esquerda.
Hoje, joga com a mão direita
protegida por duas luvas -uma
elástica e outra rígida, para absorção de impacto. Não executa movimentos simples, como juntar
todos os dedos. Superou outra limitação, a altura: com 1,65 m é a
mais baixa do Circuito Mundial.
A parceira, Adriana Behar, 1,80
m, tem acompanhamento de um
osteopata e de um ortopedista por
conta de dores lombares.
Mas não são essas características que colocaram a dupla em evidência, mas sim os resultados.
Desde a estréia no Circuito
Mundial da FIVB (Federação Internacional de Vôlei), em Santos
(SP), em 1995, participaram de
237 partidas e venceram 201
(aproveitamento de 84,8%).
Foram campeãs de 15 das 33
etapas disputadas (45,4%). A dupla que mais se aproxima desse
aproveitamento é Jackie/Sandra,
campeã em 12 das 28 etapas em
que estiveram juntas (42,8%).
O mesmo circuito determina as
duas duplas representantes do
país na Olimpíada-2000. Em 1999,
elas ganharam cinco etapas (uma
com pontos dobrados) e ficaram
em segundo em uma. Para
Sydney, valem os oito melhores
resultados de cada dupla.
Restando dez etapas para os Jogos, uma das outras duplas concorrentes, Jackie/Ana Paula e
Adriana Samuel/Sandra Pires, seria descartada -não poderia somar seis vitórias. Shelda e Behar
precisam ir a duas etapas, não importa o posto que ocupem.
No Circuito Nacional, o domínio é o mesmo. Em dez etapas de
1999, venceram sete. O título pode
ser ratificado na última, em João
Pessoa, entre os dia 15 e 19.
""A gente se juntou casualmente,
num período em que estávamos
sem parceira. A Letícia (Pessoa),
nossa técnica até hoje, encontrou
a Shelda e disse que poderíamos
montar uma estrutura competitiva", conta Adriana Behar, que jogou no Flamengo, na Supergasbrás e em clubes da Itália.
""Logo de cara, fomos bem, e a
gente foi ficando", diz. ""Somos
habilidosas, mas sempre investimos na estrutura."
""No início, para as etapas, íamos nós duas e a Letícia. Quando
começou a entrar mais dinheiro,
passamos a levar preparador físico e fomos incorporando mais
profissionais", lembra Behar.
Com três patrocínios -Vasco,
Prefeitura do Rio e Oakley (fabricante de óculos)-, dos quais se
recusam a divulgar valores, mantêm uma equipe de 12 pessoas,
entre técnica, preparador físico,
auxiliares, dois fisioterapeutas,
ortopedista, osteopata, nutricionista e até montadores de quadra.
Sobre as limitações físicas, são
categóricas: ""Nunca foi obstáculo.
A altura e o problema da mão só
fizeram a Shelda ficar mais forte.
Ela é a melhor jogadora do circuito mundial", diz Behar.
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