São Paulo, quinta-feira, 05 de dezembro de 2002

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AÇÃO

Inimigo invisível

CARLOS SARLI
COLUNISTA DA FOLHA

Pouco antes da largada, o organizador Mark Burnett disse: "Quem quiser pegar o dinheiro da inscrição de volta e desistir tem a última chance agora, a prova não vai ser brincadeira, cansei de ouvir que só faço prova fácil".
Apesar de a grana ser considerável, US$ 14,5 mil, nenhuma das 81 equipes inscritas para a nona edição do Eco Challenge se intimidou. E continuou dizendo que, após a largada, não importava como, os times deveriam terminar a prova, abrindo uma brecha para a quebra de certas regras.
Para os habituados à mais difícil corrida de aventura do mundo, nenhuma novidade, mas, para quem estreava no Eco Challenge, não carregar equipamento "obrigatório", usar nativo como guia ou montar um cavalo perdido estava fora de cogitação. Melhor para os experientes.
A corrida realizada há pouco mais de um mês em Fiji foi reconhecida como a mais difícil da história. Enquanto no ano passado, em Bornéu, 74 das 77 equipes participantes finalizaram a prova, neste ano apenas 23, ou 28%, chegaram ao final e, mesmo assim, divididas em três cortes, só dez concluíram a prova completa.
As correspondências enviadas para os competidores alertavam que a prova seria "molhada", mas ninguém imaginou que mais da metade seria dentro do rio. Ninguém esperava ter que construir um barco com um punhado de bambus e uma corda para isso.
E as surpresas não paravam. O transporte para o local da largada foi feito em ônibus mambembe, com som alto, por estradas esburacadas, num percurso de 12 horas. O mapa com o roteiro de 500 km, trekking, bicicleta, duck individual, remo no bili-bili (barco local que deveria servir de modelo) e no caiaque oceânico e técnicas verticais, só foi entregue dez minutos antes da largada. Mesmo assim, uma carta rudimentar que teve que ser copiada pelos times. E, para completar, em vez do clima tropical esperado, temperaturas que à noite beiravam os 10C e chuva 24 horas por dia.
Apesar da crueldade, o percurso pelo interior da ilha e pelas águas translúcidas sobre corais na costa, associado ao contato com a cultura primitiva dos nativos, fascinou os competidores.
O Eco é disputado em times de quatro integrantes, sendo obrigatório um do sexo oposto. Este ano a orientação foi ainda mais decisiva devido à sensível redução dos postos de controle -foram apenas 18. Três equipes representaram o Brasil. A atual campeã brasileira, a Lontra (12ª), e a EMA (21ª) concluíram a prova. A Atenah, com três garotas, esteve bem no início, mas parou quando uma integrante adoeceu.
A equipe neozelandesa NZ Seagate venceu a prova em 6 dias e 23 horas. A integrante feminina da equipe, campeã mundial de mountain bike, disse estar aliviada por vingar a derrota por apenas 15 minutos em 2001 e que preferia as provas de bike para não ter que esperar por ninguém.
Mulheres e pessoas mais velhas costumam se dar bem no esporte, no qual organização e experiência são mais importantes que velocidade e força. Plotar o mapa é melhor que passar horas perdido na selva; tratar a água para beber leva algum tempo, mas evita desistir da prova por infecção, inimigo invisível dessa prova. Nada menos que 80 participantes foram parar no hospital. Muitos continuam, caso de Alexandre Freitas (EMA), internado na Austrália.

Mundial de surfe
Faltando ainda uma etapa, o havaiano Andy Irons já garantiu o título do WCT, a primeira divisão do surfe. Na prova disputada em Sunset, no Havaí, Joel Parkinson venceu. Os brasileiros Peterson Rosa e Neco Padaratz ficaram em quinto lugar. Hoje começa o período de espera de Pipeline, também no Havaí.

Canoas havaianas
A etapa decisiva do circuito brasileiro será realizada neste sábado num percurso de 42 quilômetros. Com seis integrantes, as equipes largam de Santos, passam por São Vicente, Ilha Porchat, Cubatão, pelo porto e voltam.

Mundial de wakeboard
Começa hoje, na lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro, a terceira edição da prova que tem como principal atração o norte-americano Darin Shapiro.

E-mail sarli@revistatrip.com.br


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