São Paulo, segunda-feira, 05 de dezembro de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FUTEBOL

Final com anticlímax

JUCA KFOURI
COLUNISTA DA FOLHA

Eo campeonato acabou, se é que acabou, chocho.
Com derrotas dos dois pretendentes ao título.
Com duas voltas olímpicas para constar, a exemplo do que já tinha acontecido no Rio de Janeiro, em 1990, quando Botafogo e Vasco se achavam campeões cariocas. A Justiça, depois, resolveu que era mesmo o Glorioso.
O Inter fraquejou de novo na hora decisiva, e o Corinthians, tão acusado de ser ajudado pelas arbitragens, foi vítima de um gol em claro impedimento, o segundo do Goiás, que se não fosse validado permitiria que o Brasileirão não continuasse sabe-se lá até quando na Justiça comum.
No Serra Dourada, o Corinthians cansou de perder gols e foi castigado pelo bom time goiano. Corinthians que está longe de ter um time inesquecível, como, por exemplo, aqueles que ganharam o bicampeonato em 98/99. Mesmo apoiado pela MSI e por um investimento nebuloso, que caracteriza concorrência desleal.
A exemplo de 90, cuja conquista é creditada a Neto e, em segundo lugar, ao goleiro Ronaldo, este se deve a Tevez e, em segundo lugar, ao goleiro Fábio Costa, cujo temperamento lembra o de Ronaldo.
No Couto Pereira, o Inter fez um pênalti infantil de cara e não soube virar.
Time bem organizado e não muito mais que isso, o Inter também não seria, ou será, um campeão inesquecível, como foram os do tricampeonato em 75/76/79.
As melhores festas ficaram para os palmeirenses que viraram na luta pela vaga na Libertadores diante do decadente Fluminense e para o baixinho Romário, artilheiro mais um vez, melhor jogador que o futebol já viu dentro da área, goleador até aos 40 anos e no país do futebol.
Triste mesmo ficou a situação do rebaixado Coritiba, brilhante na vitória, mas traído pelo triste Cruzeiro de 2005.
Três mãos esquerdas se salvaram em nossa imprensa.
A de Armando Nogueira, a de Tostão e a deste colunista, postas a corte caso o Corinthians não fosse o campeão.
E, como bem lembrou o jornalista Arnaldo Hase, a frase "tolos, pensam que escrevo com as mãos", foi cunhada pelo grande jornalista Antonio Maria, pai de Antonio Maria, do "Globo", e marido de Danuza Leão, quando os tiranetes da ditadura militar quebraram-lhe as mãos.
Mas, se as mãos se salvaram, as aparências do Brasileirão não se salvaram. Porque está claro que é preciso uma nova Justiça esportiva, sem tanta cerimônia, formalidade e opacidade.
Uma Justiça mais rápida, como se vê nas Copas do Mundo, na Libertadores, na base do rito sumário, sem a pavonice que caracteriza a nossa, ano sim, ano sim, responsável por lambanças sem fim.
Por ironia, não fosse o terceiro gol goiano, a dupla Co-Co teria limpado a barra deste polêmico Brasileirão-2005.
Que mais parece a chuva que não acabava nunca na cidade de Macondo, celebrizada por Gabriel García Márquez, em "Cem Anos de Solidão".

Fim do arbítrio?
A decisão da ministra do STJ Nancy Andrighi vai além da questão esportiva. Sábia ao não alterar, imediatamente, a situação da decisão do Brasileiro, a ministra pode vir a ser a Princesa Isabel do futebol. Porque está claro na decisão que ela viu fortes indícios de coisa combinada na liminar obtida, na calada da noite, pelas organizadas do Rio, em respaldo ao STJD, na Justiça fluminense. Remeteu o conflito não só à Justiça gaúcha, como se desconfiasse da fluminense, como a enviou aos Ministérios Públicos Federal e Estadual do Rio, além de enviá-lo ao CNJ, que já está julgando a legalidade do cargo do desembargador Luiz Zveiter, o Rei Só, no STJD. Coisa que a CBF e o STJD já deveriam ter apreendido em 2000, quando o Gama os derrotou na Justiça comum.

blogdojuca@uol.com.br

Texto Anterior: Handebol: Time feminino busca status em Mundial
Próximo Texto: Futebol: Palmeiras vira e fatura título particular
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.