São Paulo, sexta-feira, 05 de dezembro de 2008

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buraco

Abalada por crise, Honda deixa a F-1

No mais duro golpe no esporte, montadora põe equipe à venda e pode fechar portas se não achar comprador até fevereiro

Decisão acontece após série de resultados negativos nos negócios e nas pistas e pode deixar Mundial com 9 times, seu menor grid em 40 anos


FÁBIO SEIXAS
EDITOR-ADJUNTO DE ESPORTE
MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL

O esporte sofreu seu mais duro golpe desde o recrudescimento da crise financeira mundial. Na F-1. Numa marca tradicional, com história de sucesso, de boas lembranças para o Brasil e com o quarto maior investimento deste ano. A Honda.
Atolada em resultados negativos, a montadora japonesa colocou à venda sua equipe na categoria máxima do automobilismo. Caso não apareça um comprador até fevereiro, fechará as portas, deixando o campeonato com apenas nove equipes, menor quórum desde 69, quando sete times alinharam.
A decisão afeta diretamente dois pilotos brasileiros, Rubens Barrichello e Bruno Senna, além da Petrobras, que faria em 2009 sua primeira temporada como fornecedora do time, após romper com a Williams.
O anúncio oficial aconteceria na madrugada de hoje, início de tarde de sexta-feira no Japão.
O primeiro efeito prático deve ser o cancelamento dos testes marcados para a semana que vem, em Jerez de la Frontera, na Espanha. O segundo, a debandada de funcionários.
Equipes rivais relatam estar recebendo, aos montes, currículos de executivos, engenheiros e mecânicos da Honda. Cerca de 300 pessoas trabalham na operação da montadora japonesa na F-1, cuja sede, por razões de logística, fica na Inglaterra, na região de Silverstone.
A Folha apurou que entre os potenciais compradores está uma companhia aérea que já havia fechado com a equipe um contrato de patrocínio para 2009. A Honda pode atuar apenas como vendedora de motores -usando ou não a marca.
Nas últimas semanas, a montadora acumulou más notícias.
No fim de novembro, anunciou férias coletivas de 50 dias para os operários de sua fábrica de carros de passeio em Swindon, na Inglaterra, e congelou a expansão de uma linha de montagem na Turquia. Anteontem, revelou queda de 32% nas vendas de novembro nos EUA, em comparação com o mesmo mês de 2007.
Nesse contexto tão negativo, a F-1 se tornou um luxo dispendioso. Principalmente diante dos resultados pífios obtidos nas últimas temporadas.
Neste ano, a equipe foi a quarta colocada em gastos, com US$ 398,1 milhões, cerca de R$ 982,7 milhões em valores atuais. A recordista foi a também japonesa Toyota, com US$ 445,6 milhões, seguida por McLaren e Ferrari. Mas, enquanto estas disputaram o título e sua maior concorrente terminou o Mundial em quinto, a Honda passou o campeonato freqüentando o fundo do grid e terminou só em nono lugar.
Um desfecho melancólico para uma marca que tentava, pela segunda vez, emplacar como equipe na F-1. Na primeira experiência, nos anos 60, a Honda obteve razoável sucesso. Agora, desde 2006, quando comprou a antiga BAR, só colecionou quedas e fracassos.
Seu único momento de glória foi a vitória de Jenson Button, em 2006, no GP da Hungria.
História bem diferente aconteceu quando a Honda atuou apenas como fornecedora de motores, principalmente de meados dos 80 até início dos 90. Como parceira de Williams e McLaren, a empresa japonesa arrebatou seis Mundiais de Construtores. Também registrou vitórias com a Lotus.
No Brasil, a marca se tornou especialmente célebre por ter empurrado Ayrton Senna em seus primeiros triunfos na categoria e nas conquistas de seus três campeonatos.
Foi também com a Honda que Nelson Piquet garantiu seu último título na categoria, na temporada de 1987.


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