São Paulo, sábado, 06 de janeiro de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MOTOR

Chorões

JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
EDITOR-ADJUNTO DE ESPORTE

Com a F-1 de molho devido às festas de final de ano, a saída do comentarista é dissecar a última temporada ou especular qualquer coisa sobre a próxima.
Como o cenário ainda parece nebuloso em 2001, apesar da certeza de que o embate principal continuará restrito a Michael Schumacher e Mika Hakkinen, a informação a ser trabalhada ainda é aquela deixada pelo último campeonato do século 20.
E resumir o ano de 2000 não é grande tarefa. Tem um único nome, Schumacher.
Em 17 corridas, o alemão arrogante e de queixo grande arrebatou o título para a Ferrari, sonho acalentado por duas décadas pelos italianos e por boa parte do público que aprecia corridas.
Isso, porém, foi apenas o capítulo final de uma temporada espetacular feita pelo piloto. Entre outras coisas, igualou o recorde de melhores voltas de Alain Prost (41) e superou Ayrton Senna no número de vitórias (44 contra 41).
Pior, em 2001 tem plenas condições de superar o francês, o sujeito que mais venceu corridas na história da F-1, 51 no total.
Falta alguma coisa? Em pontos, Schumacher soma 600, contra 614 de Senna e 798,5 de Prost. Em pontos válidos, o alemão fica ainda em melhor situação, já que a FIA surrupiou toda a temporada de 1997 do alemão após a confusão com Jacques Villeneuve em Jerez de la Frontera -na mesma ordem, 678 pontos, contra 610 do brasileiro e 768,5 do francês.
Fazendo as contas, o único recorde importante que Schumacher não vai superar é o de poles de Senna, um verdadeiro especialista em treinos oficiais, sendo o mais rápido em 65 oportunidades. Fez história, aliás, ao bater Jim Clark, até então o maior "pole man" da F-1, com 33, para muitos o melhor de todos os tempos -sendo que no seu tempo sentar em um carro era correr sério risco de não sair dele sozinho.
Correndo em outra era, Prost também marcou 33 poles, e Nigel Mansell, 32. Schumacher aparece na lista com também com 32.
Ou seja, Senna continuará com seu número histórico, mas o alemão não concederá tal regalia para nenhum outro colega.
Schumacher, desde seu primeiro título, quando se tornou o piloto mais jovem desde Emerson Fittipaldi a ser campeão, desdenha dos números. Repete, sem cansar, que, se um dia pensar nisso, será à beira da lareira, ao relatar suas façanhas para os netos, como qualquer avô faz.
No ano passado, porém, permitiu um hiato nesse distanciamento, ao alcançar Senna em vitórias, ato que lhe custou um choro repentino e compulsivo em plena sala de entrevistas.
Consolado pelo maior rival, o alemão desfacelou-se diante das câmaras. Não apenas a aura de frieza que sempre o acompanhou, mas a imagem de dick vigarista esvaiu-se. Schumacher, mesmo que por um momento, voltou a ser o garoto classe média inculto do interior da Alemanha, que teve o automobilismo bancado por um novo-rico da cidade em que nasceu. Por sorte, quem sabe.
Lembrou Hakkinen, que, um ano antes, chorou na beira da pista após um abandono infantil.
Choro de campeão, nos dois casos. Um por errar. Outro por triunfar. E é isso que os separa.

Cerco
Ao contrário do que se pensava, a F-1 pode ser obrigada a abandonar o cigarro antes de 2007. Reportagem da "Autosport" mostra que a Organização Mundial de Saúde está prestes a fechar acordo internacional banindo a publicidade tabagista em todo o planeta. Fechado o acordo, a categoria teria que abrir mão da parceria em 2004. Até a mudança de legislação no Brasil é citada no texto, que comete o equívoco de considerar o GP dependente do patrocínio da Philip Morris. Max Mosley resumiu: "Estamos nas mãos da OMS".

Guerra fria
A exemplo do que a Bridgestone fez com a Goodyear, a Michelin não vem poupando a concorrente nesta pré-temporada. No último comunicado, um executivo da empresa disse que só ganhará corridas em 2001 por sorte ou por "burrice" da rival.

E-mail: mariante@uol.com.br



Texto Anterior: Primeira fase do Gaúcho tem seu início hoje
Próximo Texto: Tênis: Guga priorizará os Grand Slams em 2001
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.