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Especialista faz defesa de custo bilionário de Jogos
Holger Preuss defende aumento de custos de Londres-12 e diz que maior legado de Pequim será em imagem da China
Alemão, autoridade em megaeventos, diz que gasto é fartamente compensado por exposição gratuita de país e nova infra-estrutura
ADALBERTO LEISTER FILHO
DA REPORTAGEM LOCAL
Os aumentos dos custos são
estratosféricos. Os gastos atingem os bilhões. O evento dura
pouco mais de duas semanas.
Vale a pena investir tantos recursos na Olimpíada? Os Jogos
geram boa herança às sedes?
Uma das principais autoridades sobre megaeventos esportivos, Holger Preuss, professor
da Universidade de Mainz, responde sim a ambas as questões.
O alemão defende os aumentos de gastos dos Jogos de Londres-12. E declara que o maior
legado de Pequim-08 não serão
em arenas, mas em imagem.
FOLHA - Qual é a importância, para
as cidades, de receber a Olimpíada?
HOLGER PREUSS - Além do impacto econômico, vamos citar dois
aspectos: significado e mudança de agentes locais. Por significado, entendo que megaeventos são mostrados no mundo
todo. A sede ganha exposição
gratuita. E as mudanças locais
podem ser obtidas se houver
obras de infra-estrutura. Isso
atrai negócios que não estão diretamente relacionados aos Jogos. As cidades-sedes recebem
mais turistas e congressos nos
anos seguintes ao evento.
FOLHA - Mas como controlar o gigantismo dos Jogos?
PREUSS - Os problemas são políticos. São muitos os interessados na Olimpíada. Todas as federações querem que seu esporte seja olímpico e que tenham muitos atletas. Isso aumenta o número de competidores e esportes e, portanto,
arenas e apartamentos na Vila
Olímpica. Jacques Rogge [presidente do COI] limitou esse
crescimento: 10.500 atletas e
no máximo 28 esportes [hoje
são 26] podem tomar parte nos
Jogos. Mas as federações lutam, porque há muito dinheiro
de TV envolvido. O gigantismo
é fruto do interesse humano e
financeiro na Olimpíada. Seu
controle será uma das principais tarefas do COI no futuro.
FOLHA - Isso torna impraticável para países com menos recursos, como
o Brasil, organizarem os Jogos?
PREUSS - É difícil responder. Há
grandes custos e muitos cuidados a serem observados sobre
se as instalações dos Jogos são
sustentáveis. Por outro lado, há
benefícios, como a conquista de
uma nova imagem. É só examinarmos os casos [dos Jogos] de
Tóquio-64, Seul-88 e Pequim-08. A indústria japonesa apareceu para o mundo, as fábricas
sul-coreanas se tornaram viáveis, e a indústria chinesa será
vista de outra forma. Mas, em
países pobres, é preciso considerar mais os prós e contras para evitar polarização social.
FOLHA - Pequim-08 estima gastos
de mais de US$ 37 bilhões...
PREUSS - Os Jogos de Pequim
custarão o mesmo que os outros: cerca de US$ 2 bilhões para organizar e de US$ 1 bilhão a
US$ 3 bilhões para construção
e reforma de instalações. O resto são projetos que são somados ao evento, mas que provavelmente seriam feitos sem os
Jogos, como o plantio de árvores, sistema de esgoto etc.
FOLHA - Como a China trabalha
com a questão do legado?
PREUSS - O legado esportivo
não é tão importante, para eles,
em relação aos benefícios de
uma imensa promoção do país.
Isso deve fazer do caso chinês
especial. Eles constroem símbolos para mostrar ao mundo a
glória dos Jogos e da China.
FOLHA - Londres-12 anunciou vários aumentos de custo. É impossível
ter uma previsão realista de gastos?
PREUSS - Sim. Há razões complexas para isso, como tempo
das obras, mudança e aumento
dos projetos, novidades tecnológicas, especulação etc.
FOLHA - O que o sr. acha de o Estádio Olímpico reduzir capacidade de
80 mil para 25 mil após os Jogos-12?
PREUSS - É um bom modo de
assegurar um legado positivo e
também de preencher os requisitos do COI, assim como ocorreu em Sydney, que reduziu o
local para 30 mil assentos.
FOLHA - A arena custará 712 milhões. Não é muito cara?
PREUSS - Sim. Mas o custo com
operários na Inglaterra é alto.
Uma comparação é difícil. E o
estádio também é um sinal de
prestígio dos Jogos, seu ícone.
FOLHA - É viável manter a arena só
para atletismo, como a de Londres?
PREUSS - Ela também servirá
para outros eventos, como
shows. E o país precisa de um
estádio de atletismo. A maioria
das arenas é feita para futebol.
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