EDUARDO OHATA
DA REPORTAGEM LOCAL

Imagine um time de futebol que se classifica para o Mundial de clubes com vitórias somente sobre equipes como o Íbis, clube brasileiro que tem fama de ser o pior do planeta e só perder.
Traduzido para a realidade do pugilismo, foi assim que o brasileiro Reginaldo Martins chegou a 15º do ranking da OMB e disputa hoje o título dos moscas (até 50,8 kg) contra o argentino Omar Narvaez, no legendário Luna Park.
A OMB já tem um brasileiro como campeão: o peso-leve Popó.
Martins, 32, nunca bateu alguém que tivesse uma vitória sequer no currículo -um dos adversários tinha 20 derrotas consecutivas, e o último deles fazia sua estréia profissional. Na única vez em que desafiou um oponente vencedor -este já havia registrado duas vitórias-, foi derrotado.
Seu cartel gera polêmica: há três versões distintas, apontando que Martins acumula de somente quatro a 13 combates. O argentino tem 15 vitórias e dois empates.
""Foram pessoas ligadas à OMB Latino [baseada na Argentina] que me ligaram em dezembro para convidar o Reginaldo para disputar o título", explica o manager de Martins, Reinaldo Carrera.
A apresentação estava inicialmente prevista para 31 de janeiro, no Uruguai, mas foi cancelada, e o desafiante brasileiro foi trocado pelo mexicano José Luis Araiza, que acabou não podendo lutar.
No Carnaval, Carrera recebeu um novo telefonema e prontamente aceitou o desafio pelo pupilo. ""Não estávamos despreparados, vínhamos treinando desde o começo do ano", declarou.
Em entrevista coletiva nesta semana, em Buenos Aires, jornalistas perguntaram a Narvaez sobre como se sentia com o fato de ""estar lutando com um ninguém, sem experiência internacional".
""Estou levando Martins a sério. Também não tinha experiência quando lutei pelo título. Assim como me deram uma chance, faço o mesmo pelo Martins", comentou Narvaez sobre o brasileiro, que estreou no ranking da OMB em dezembro, quando surgiu a proposta para o desafio.
O argumento de Narvaez é ecoado pelo presidente da OMB, o porto-riquenho Francisco Valcarcel. ""Desconheço como foi o processo de negociação, só sancionamos a luta. O brasileiro tem poucas lutas e nenhuma experiência internacional, mas o Narvaez também estava assim antes de ser campeão."
Embora Narvaez tivesse 11 combates quando disputou o título em 2002, apenas um de seus rivais não contava com nenhuma vitória quando o enfrentou, e entre seus adversários havia ao menos um ex-desafiante ao título da Federação Internacional de Boxe.
""Não importa que até agora Reginaldo teve lutas fracas", afirmou Carrera. ""Não viemos para perder. Queremos vencer e imprimir mais seriedade ao boxe nacional."

Discrepância
Há pelo menos três versões diferentes do currículo do brasileiro.
Segundo a empresa especializada em cartéis Fight Fax, adotada como referência oficial pelas comissões atléticas dos EUA, ele tem três vitórias e uma derrota. ""É comum forjarem cartéis para justificar disputas de títulos. Não sei como vão pôr o Martins contra o Narvaez, acredito até que existe risco de morte", disse Anibal Miramontes, dono da Fight Fax.
A Confederação Brasileira de Boxe apresenta outros números: oito vitórias e uma derrota. ""Ele pode até ter enfrentado caras fraquíssimos ou estreantes, o que já é outra coisa, mas nove lutas são reconhecidas pela confederação", explica o vice-presidente da CBB, Daniel Fucs, que será um dos três jurados hoje na disputa de título.
O manager do brasileiro afirma que Martins acumula 12 vitórias e uma derrota. ""A Fight Fax registra quatro lutas porque não enviei os resultados para eles, pois cobram para a gente poder consultar seu site", argumenta Carreira.
A Fight Fax informou que não cobra para receber resultados e anexá-los a seu banco de dados, mas acrescentou que reconhece somente informações comprovadas via confederações nacionais.







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