São Paulo, terça-feira, 06 de abril de 2004

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FUTEBOL

O Rei eterno

MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
EDITOR DE OPINIÃO

Tive a oportunidade de ver na íntegra "Pelé Eterno", o badalado filme sobre a vida do maior jogador de futebol de todos os tempos, que está por estrear nos cinemas. Cinematograficamente, não é nenhum Antonioni: o documentário é basicamente convencional, careta e até meio bregão. Mas o que isso interessa? Nada. Ou muito pouco diante da fantástica pesquisa de imagens que foi feita e de alguns ótimos depoimentos colhidos.
Faço parte daquela geração que acompanhou a segunda metade da carreira de Pelé. A primeira vez que o vi ao vivo, em campo, ainda garoto, levado por meu pai, foi em 1965, no Maracanã, num amistoso contra a Alemanha. Dali para a frente -eu morava no Rio- raramente perdi a chance de vê-lo, sempre que jogava na Cidade Maravilhosa, fosse ou não contra o meu Flamengo.
Em 1969, na célebre partida contra o Paraguai, que assegurou a classificação para a Copa de 70, eu estava lá, apertado na multidão que tomou conta do então "maior e mais belo estádio mundo". A última vez foi em 1974, na despedida oficial -e, obviamente, encontrava-me entre os que gritavam "fica!, fica!" (todos, afinal), na esperança de que o sublime crioulo ainda pudesse jogar a Copa da Alemanha.
Seja para quem acompanhou a carreira inteira, um pedaço dela ou para os que nasceram depois da aposentadoria do Rei, a produção de Aníbal Massaini é imperdível. Mesmo porque o filme traz coisas que pouquíssimos puderam testemunhar, como o fantástico gol marcado por Pelé no estádio Conde Rodolpho Crespi, na rua Javari, no dia 2 de agosto de 1959 -e do qual não há nenhum registro.
É uma das melhores seqüências do filme. Com base em depoimentos, o gol é reconstituído em computação gráfica. O lance vai sendo narrado pelos jogadores que lá estavam: uma meia-lua aqui, uma série de chapéus ali, até a bola morrer nas redes do goleiro Mão de Onça -cujo nome já valeria o preço do ingresso.
Há outros lances inéditos, além de uma fartura de jogadas e gols geniais. É bom refrescar a memória. Pelé era um jogador incrivelmente completo. Chutava com as duas, de dentro ou de fora da área, colocado ou com força, cabeceava, lançava, dava chapéus humilhantes, matava no peito e mandava de sem-pulo, driblava parado ou em alta velocidade, tinha uma visão de jogo estúpida, um jogo de corpo absurdo, uma elegância negra extraordinária.
Por mais que o Edson possa pisar na bola, Pelé é daquelas lendas insuperáveis, um monstro sagrado, a "oitava maravilha do mundo" -como estampou em manchete um jornal italiano.
O filme -que é longo- também vale como uma viagem por aquele Brasil da virada dos anos 50 para os 60, um delicioso país em preto e branco, embalado por sambas e marchinhas, feliz em sua relativa ingenuidade e em seus sonhos de modernidade e grandeza. Sonhos que ainda não se realizaram -ou que vão se transformando em pesadelo.

É Azulão
Chegou a vez do São Caetano. Parece muito difícil o Azulão deixar escapar o título do Estadual para o Paulista, por mais que a equipe de Jundiaí tenha seus méritos. O São Caetano já vem de uma seqüência de finais importantes, sem jamais ter erguido o caneco. É a hora de mudar essa história. Já havia escrito aqui, na semana passada, que o time já estava com pinta de campeão... É só jogar sério e correr para o abraço.

E o Santos?
O Santos murchou, mas isso não significa que tudo está perdido. A Libertadores é o grande desafio. Uma conquista recoloca esse elenco na rota inicialmente prevista: a de uma geração histórica. Não vai ser nada fácil, mas se fosse, qualquer um entraria para a história.

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