|
Texto Anterior | Índice
FUTEBOL
O Rei eterno
MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
EDITOR DE OPINIÃO
Tive a oportunidade de
ver na íntegra "Pelé Eterno",
o badalado filme sobre a vida do
maior jogador de futebol de todos
os tempos, que está por estrear
nos cinemas. Cinematograficamente, não é nenhum Antonioni:
o documentário é basicamente
convencional, careta e até meio
bregão. Mas o que isso interessa?
Nada. Ou muito pouco diante da
fantástica pesquisa de imagens
que foi feita e de alguns ótimos
depoimentos colhidos.
Faço parte daquela geração que
acompanhou a segunda metade
da carreira de Pelé. A primeira
vez que o vi ao vivo, em campo,
ainda garoto, levado por meu pai,
foi em 1965, no Maracanã, num
amistoso contra a Alemanha. Dali para a frente -eu morava no
Rio- raramente perdi a chance
de vê-lo, sempre que jogava na
Cidade Maravilhosa, fosse ou não
contra o meu Flamengo.
Em 1969, na célebre partida
contra o Paraguai, que assegurou
a classificação para a Copa de 70,
eu estava lá, apertado na multidão que tomou conta do então
"maior e mais belo estádio mundo". A última vez foi em 1974, na
despedida oficial -e, obviamente, encontrava-me entre os que
gritavam "fica!, fica!" (todos, afinal), na esperança de que o sublime crioulo ainda pudesse jogar a
Copa da Alemanha.
Seja para quem acompanhou a
carreira inteira, um pedaço dela
ou para os que nasceram depois
da aposentadoria do Rei, a produção de Aníbal Massaini é imperdível. Mesmo porque o filme
traz coisas que pouquíssimos puderam testemunhar, como o fantástico gol marcado por Pelé no
estádio Conde Rodolpho Crespi,
na rua Javari, no dia 2 de agosto
de 1959 -e do qual não há nenhum registro.
É uma das melhores seqüências
do filme. Com base em depoimentos, o gol é reconstituído em computação gráfica. O lance vai sendo narrado pelos jogadores que lá
estavam: uma meia-lua aqui,
uma série de chapéus ali, até a bola morrer nas redes do goleiro
Mão de Onça -cujo nome já valeria o preço do ingresso.
Há outros lances inéditos, além
de uma fartura de jogadas e gols
geniais. É bom refrescar a memória. Pelé era um jogador incrivelmente completo. Chutava com as
duas, de dentro ou de fora da
área, colocado ou com força, cabeceava, lançava, dava chapéus
humilhantes, matava no peito e
mandava de sem-pulo, driblava
parado ou em alta velocidade, tinha uma visão de jogo estúpida,
um jogo de corpo absurdo, uma
elegância negra extraordinária.
Por mais que o Edson possa pisar na bola, Pelé é daquelas lendas insuperáveis, um monstro sagrado, a "oitava maravilha do
mundo" -como estampou em
manchete um jornal italiano.
O filme -que é longo- também vale como uma viagem por
aquele Brasil da virada dos anos
50 para os 60, um delicioso país
em preto e branco, embalado por
sambas e marchinhas, feliz em
sua relativa ingenuidade e em
seus sonhos de modernidade e
grandeza. Sonhos que ainda não
se realizaram -ou que vão se
transformando em pesadelo.
É Azulão
Chegou a vez do São Caetano.
Parece muito difícil o Azulão
deixar escapar o título do Estadual para o Paulista, por mais
que a equipe de Jundiaí tenha
seus méritos. O São Caetano já
vem de uma seqüência de finais
importantes, sem jamais ter erguido o caneco. É a hora de mudar essa história. Já havia escrito aqui, na semana passada,
que o time já estava com pinta
de campeão... É só jogar sério e
correr para o abraço.
E o Santos?
O Santos murchou, mas isso
não significa que tudo está perdido. A Libertadores é o grande
desafio. Uma conquista recoloca esse elenco na rota inicialmente prevista: a de uma geração histórica. Não vai ser nada
fácil, mas se fosse, qualquer um
entraria para a história.
E-mail mag@folhasp.com.br
Texto Anterior: Basquete - Melchiades Filho: Superpoderosas Índice
|