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XICO SÁ
Quando o filho é o nome do jogo
Paixão e loucura pela bola
levam pais a batizarem suas
crianças com homenagens a
craques; vale até argentino
AMIGO torcedor, amigo secador, uma das maiores provas
de paixão e loucura por futebol é batizar os filhos com os nomes
dos ídolos, não obrigatoriamente
grandes craques, mas personagens
que marcaram a vida ludopédica dos
malucos por esta grande arte.
Até mesmo nome de jogador argentino, caso do Mario Kempes, que
hoje assina, para a estranheza de
muitos, reportagens no "Diário do
Nordeste", de Fortaleza. Kempes virou herói em Buenos Aires na Copa
de 1978, e foi homenageado no registro civil do jornalista cearense.
Coisa de pai doente por futebol!
Coitada da mãe, a quem resta, para empatar o jogo, batizar as filhas
como xarás de estrelas de TV, de seriados ou do cinema de Hollywood.
Dar nome de ídolo argentino a um
filho querido é coisa típica de legítimo secador da seleção brasileira, né
não? Eu bem que seria capaz de uma
façanha do gênero, pois não caio
nessa onda de pátria em chuteiras.
Respeito é a paixão por times, a devoção por um Araçatuba, por exemplo, o novo Íbis da série A-3 do Paulista, que vive um jejum de vitórias
que já supera em muito o sacrifício
da quarentena de Cristo no deserto.
O glorioso Araçatuba anda tão debilitado que outro dia o pessoal do
XV de Piracicaba preferiu enfrentá-lo a ganhar o jogo por W.O. Ônibus
quebrado, sentados à beira do caminho, os jogadores do Tigrão atrasaram quase duas horas para o embate
interiorano. Um cartola então ligou
da estrada e, pasme, contou com a
compreensão dos donos da casa.
A turma do XV e a sua torcida tinham tanta certeza de uma goleada,
para ampliar o saldo de gols e fazer
artilheiros, que esperaram pacientemente. Ao final, o menino do placar,
cansado das placas, anotava: 6 a 0.
É, caro Kempes, se estranham a
sua assinatura, imagine a do mineiro
Beckenbauer Rivelino!!!
Esse registro germano-brazuca é
daqueles que espantam os padres na
pia batismal. Mesmo que o vigário
seja chegado a uma pelada, não há
como não se benzer nessa hora.
Beckenbauer Rivelino é irmão, reparem só, do Kennedy Alencar, amigo e jornalista desta Folha. Na mesma casa tem um bocado de ex-presidentes norte-americanos e, claro,
mais um homônimo de craque, o
Müller, o alemão, não o brasileiro.
Samarone, ex-jogador do Fluminense, dá nome a outro amigo, o
também escriba Samarone Lima,
nascido no Crato, como este cronista, e estabelecido no Recife, como também ocorreu comigo. Só
não comungamos a mesma arquibancada: ele é Santa Cruz doente e
lá eu sou rubronegro, Sport, o bicampeão invicto da Ilha do Retiro.
Aí chegou a hora de outro argentino, bem contemporâneo, que fez
um estrago nos cartórios brasileiros: Carlitos Tevez. Assim foi batizado o filho de um Aparecido Moisés Santos, leitor corintiano de São
Matheus, com quem aposto divertidos engradados ludopédicos.
E temos a vaidade dos nossos
atletas, com os Romarinhos e Ronalds, cujos batismos já prescrevem a sucessão. Muitas vezes, vira
um peso medonho para os meninos que se arriscam na arte dos
pais. Nem sempre nome é destino,
nem sempre a glória se perpetua
na terra em que, para muitos de
nós, só as desventuras das várzeas
costumam ser hereditárias.
O abusado
Muita gente interpretou como
arrogância a comparação que Lulinha, do Corinthians, fez nesta semana. Disse apenas que o seu futebol lembra um pouco de Kaká e um
punhado de Ronaldinho. Quem o
viu jogar entende muito bem o que
o menino quis dizer. Usou referências perfeitas para o seu estilo. Um
saco essa exigência de humildade
franciscana a todo boleiro. Você está certo, Lulinha, para cima deles
que o mundo é dos abusados!
xico.folha@uol.com.br
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