São Paulo, sexta-feira, 06 de abril de 2007

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XICO SÁ

Quando o filho é o nome do jogo

Paixão e loucura pela bola levam pais a batizarem suas crianças com homenagens a craques; vale até argentino

AMIGO torcedor, amigo secador, uma das maiores provas de paixão e loucura por futebol é batizar os filhos com os nomes dos ídolos, não obrigatoriamente grandes craques, mas personagens que marcaram a vida ludopédica dos malucos por esta grande arte.
Até mesmo nome de jogador argentino, caso do Mario Kempes, que hoje assina, para a estranheza de muitos, reportagens no "Diário do Nordeste", de Fortaleza. Kempes virou herói em Buenos Aires na Copa de 1978, e foi homenageado no registro civil do jornalista cearense. Coisa de pai doente por futebol!
Coitada da mãe, a quem resta, para empatar o jogo, batizar as filhas como xarás de estrelas de TV, de seriados ou do cinema de Hollywood. Dar nome de ídolo argentino a um filho querido é coisa típica de legítimo secador da seleção brasileira, né não? Eu bem que seria capaz de uma façanha do gênero, pois não caio nessa onda de pátria em chuteiras.
Respeito é a paixão por times, a devoção por um Araçatuba, por exemplo, o novo Íbis da série A-3 do Paulista, que vive um jejum de vitórias que já supera em muito o sacrifício da quarentena de Cristo no deserto. O glorioso Araçatuba anda tão debilitado que outro dia o pessoal do XV de Piracicaba preferiu enfrentá-lo a ganhar o jogo por W.O. Ônibus quebrado, sentados à beira do caminho, os jogadores do Tigrão atrasaram quase duas horas para o embate interiorano. Um cartola então ligou da estrada e, pasme, contou com a compreensão dos donos da casa.
A turma do XV e a sua torcida tinham tanta certeza de uma goleada, para ampliar o saldo de gols e fazer artilheiros, que esperaram pacientemente. Ao final, o menino do placar, cansado das placas, anotava: 6 a 0. É, caro Kempes, se estranham a sua assinatura, imagine a do mineiro Beckenbauer Rivelino!!!
Esse registro germano-brazuca é daqueles que espantam os padres na pia batismal. Mesmo que o vigário seja chegado a uma pelada, não há como não se benzer nessa hora. Beckenbauer Rivelino é irmão, reparem só, do Kennedy Alencar, amigo e jornalista desta Folha. Na mesma casa tem um bocado de ex-presidentes norte-americanos e, claro, mais um homônimo de craque, o Müller, o alemão, não o brasileiro. Samarone, ex-jogador do Fluminense, dá nome a outro amigo, o também escriba Samarone Lima, nascido no Crato, como este cronista, e estabelecido no Recife, como também ocorreu comigo. Só não comungamos a mesma arquibancada: ele é Santa Cruz doente e lá eu sou rubronegro, Sport, o bicampeão invicto da Ilha do Retiro.
Aí chegou a hora de outro argentino, bem contemporâneo, que fez um estrago nos cartórios brasileiros: Carlitos Tevez. Assim foi batizado o filho de um Aparecido Moisés Santos, leitor corintiano de São Matheus, com quem aposto divertidos engradados ludopédicos. E temos a vaidade dos nossos atletas, com os Romarinhos e Ronalds, cujos batismos já prescrevem a sucessão. Muitas vezes, vira um peso medonho para os meninos que se arriscam na arte dos pais. Nem sempre nome é destino, nem sempre a glória se perpetua na terra em que, para muitos de nós, só as desventuras das várzeas costumam ser hereditárias.

O abusado
Muita gente interpretou como arrogância a comparação que Lulinha, do Corinthians, fez nesta semana. Disse apenas que o seu futebol lembra um pouco de Kaká e um punhado de Ronaldinho. Quem o viu jogar entende muito bem o que o menino quis dizer. Usou referências perfeitas para o seu estilo. Um saco essa exigência de humildade franciscana a todo boleiro. Você está certo, Lulinha, para cima deles que o mundo é dos abusados!

xico.folha@uol.com.br


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