São Paulo, domingo, 06 de abril de 2008

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JUCA KFOURI

Caros inimigos


E no mundo ideal o Santos e o São Paulo convidariam os corintianos para torcer na Vila e no Morumbi

"O SANTOS convida os caros corintianos que vivem em nossa cidade para comparecer neste domingo à Vila Belmiro e engrossar a torcida santista no embate contra a Ponte Preta.
Durante o jogo, o telão do estádio transmitirá a partida de Bauru, para que ninguém perca nenhum detalhe."
Já o São Paulo convidaria os corintianos para ir ao Morumbi torcer contra o tricolor, pelo Juventus, e também passaria o jogo contra o Noroeste no telão.
Só mesmo num mundo em que os torcedores fossem tratados como adversários cordiais, e não como inimigos, diferentemente do título desta coluna, politicamente incorreto, mas, adiante, explicado.
Mundo que, diga-se de passagem, suspeito já ter existido, ali pelos anos 40 que não vivi, pelos 50 dos quais tenho vagas lembranças e mesmo dos 60 quando, ao menos, as torcidas se misturavam. Tinha até o chamado Torneio Início, quando todos os times e seus torcedores iam ao mesmo estádio, o Pacaembu, em regra, para ver jogos disputados em poucos minutos e nos quais escanteios valiam para desempatar as partidas, se a memória não me trai.
A memória não trai, certamente, ao não registrar cenas de violência nessas ocasiões.
Hoje em dia um jogo de futsal entre Corinthians e Palmeiras dá no que dá, sem que haja alguma esperança de mudança, ao contrário.
Há apenas a convicção de que é melhor ficar em casa e não correr mais riscos do que os habituais nas cidades brasileiras, pelo menos nas horas que deveriam ser de lazer.
Já imaginou a Vila repleta de corintianos, mais até do que de santistas, que têm mesmo pouco a fazer nela num domingo como este? Corintianos com um olho pregado no campo e outro no telão? Corintianos incentivando Kléber Pereira a se consolidar como artilheiro do Campeonato Paulista e as Torres Trigêmeas -Fabão, Marcelo e Evaldo, o menorzinho, com 1,90 m- para se manter inexpugnável?
Já pensou o Morumbi dividido entre são-paulinos e corintianos, estes proporcionando ao Juventus um apoio como jamais teve em seus quase (completará no próximo dia 20) 84 anos de vida? Seria um grande barato, seria muito divertido, seria inesquecível, ainda mais se, depois, com quaisquer resultados, os torcedores saíssem juntos pelas ruas de Santos e São Paulo, comemorando suas façanhas, pensando suas decepções. Mas este mundo se já existiu não existe mais, embora haja quem tenha dedicado a vida a tal utopia.

Caro amigo
Ele era corintiano quando criança e virou santista no começo de sua vida adulta, seduzido pela beleza do futebol de Pagão, Pelé e Pepe.
Não teria hoje, portanto, nenhuma dificuldade em torcer pelo Santos para beneficiar o Corinthians. Era alto, magro e bonito, diferentemente do sambista Sinhô, que era alto, magro e feio. Mas também tratava as palavras com a sensibilidade dos melhores poetas, e, muito além das palavras, o mundo.
Chamava-se Sérgio de Souza, e a dor de sua ausência insiste em não parar de doer.
Um caro, caríssimo amigo.

blogdojuca@uol.com.br


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