São Paulo, domingo, 06 de abril de 2008

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Reciclagem é marca da Copa-2010

Apenas cinco estádios de torneio na África do Sul são novos, outros têm vocações distintas do futebol, como o rúgbi

Em tentativa de controlar custos, organizadores fecham com firmas privadas que em certos casos quase assumiram todos os gastos

FÁBIO ZANINI
NA ÁFRICA DO SUL

Adaptada à dura realidade de país de terceiro mundo, a Copa-10, na África do Sul, terá a ""reciclagem" de estádios como uma de suas marcas registradas. Serão dez palcos para os jogos, distribuídos em nove cidades, dos quais cinco reformados.
Um dos estádios a serem utilizados no torneio, o Loftus Versfeld, na capital do país, Pretoria, deverá fazer história como o primeiro estádio centenário a ser utilizado em uma competição desse nível. É de 1906 e sofre reforma para obter capacidade necessária para abrigar 50.000 pessoas.
Outro, o Free State, na cidade de Bloemfontein, no centro do país, é de 1952 e serve de palco para partidas de rúgbi.
Há duas semanas, quando a reportagem da Folha visitou as obras, operários trabalhavam em ritmo acelerado para construir uma nova lateral de arquibancadas, que fecharão os 360 graus em torno do gramado. As traves de rúgbi ainda estavam no local, que terá capacidade para 48 mil torcedores. ""As obras são extremamente simples. É só uma pequena reforma, na verdade", disse o engenheiro-chefe, Duncan Brown.
Na tentativa de conter os custos, a organização fez parcerias com empresas privadas, que praticamente assumiram os custos de alguns estádios.
Em Bloemfontein, a Vodacom, gigante da telefonia celular, pôs placas de publicidade em todo o local e está bancando cerca de metade da obra.
O custo final dos estádios, se não houver estouros no orçamento, será uma ""pechincha", em termos comparativos. A organização da Copa de 2010 promete gastar 850 milhões, 70% menos do que o torneio da Alemanha-06, quando a conta ficou em 1,45 bilhão. Na última Copa, eram 12 estádios, dois a mais que na próxima.
Mas a decisão política de cortar custos, avalizada pela Fifa e pelo governo sul-africano, tem contratempos. Um deles é utilizar estádios claramente sem vocação para um evento desse porte. O Ellis Park Stadium, em Johannesburgo, é um exemplo.
Com capacidade para 61 mil pessoas, é uma espécie de Maracanã do rúgbi sul-africano. Fica encravado numa região de ruas estreitas, no centro da metrópole sul-africana, e tem dificuldades notórias de escoamento de público. Suas arquibancadas verticais transformam o lugar num caldeirão. As primeiras fileiras ficam a menos de cinco metros do campo.
Apesar disso, o Ellis está recebendo apenas uma micro-reforma. Quando a Folha visitou o local, um punhado de operários trabalhava somente na tribuna de imprensa e na área para convidados vip.
Mas a maior preocupação das autoridades sul-africanas é mesmo com os estádios que demandam obras maiores.
A obra mais atrasada é a do Greenpoint, na Cidade do Cabo e com capacidade para abrigar 70 mil pessoas, que está sendo construído do zero. Greves de trabalhadores devem inviabilizar o término da obra no ano que vem, como planejado.
Outro estádio novo, o Mbombela, em Nelspruit (leste do país), enfrenta problema pitoresco. A área é reivindicada por um clã tradicional da região, que entrou na Justiça.
O processo, ainda não julgado, paira como uma ameaça sobre o ritmo das obras.
E há o principal estádio da Copa, o Soccer City, em Johannesburgo, na entrada do histórico distrito de Soweto, famoso como epicentro das lutas anti-apartheid, no século passado.
Lá devem ocorrer a abertura e a final. O estádio é de 1987 e está sendo praticamente refeito. Vai quase dobrar de capacidade, para 95 mil pessoas.
O ritmo de construção também segue lento, apesar de as autoridades assegurarem que até o final do ano que vem estará pronto. No dia em que a Folha realizou uma visita ao local, em plena manhã de quinta-feira, ninguém trabalhava.


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