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Reciclagem é marca da Copa-2010
Apenas cinco estádios de torneio na África do Sul são novos, outros têm vocações distintas do futebol, como o rúgbi
Em tentativa de controlar
custos, organizadores
fecham com firmas privadas
que em certos casos quase
assumiram todos os gastos
FÁBIO ZANINI
NA ÁFRICA DO SUL
Adaptada à dura realidade de
país de terceiro mundo, a Copa-10, na África do Sul, terá a ""reciclagem" de estádios como uma
de suas marcas registradas. Serão dez palcos para os jogos,
distribuídos em nove cidades,
dos quais cinco reformados.
Um dos estádios a serem utilizados no torneio, o Loftus
Versfeld, na capital do país,
Pretoria, deverá fazer história
como o primeiro estádio centenário a ser utilizado em uma
competição desse nível. É de
1906 e sofre reforma para obter
capacidade necessária para
abrigar 50.000 pessoas.
Outro, o Free State, na cidade
de Bloemfontein, no centro do
país, é de 1952 e serve de palco
para partidas de rúgbi.
Há duas semanas, quando a
reportagem da Folha visitou as
obras, operários trabalhavam
em ritmo acelerado para construir uma nova lateral de arquibancadas, que fecharão os 360
graus em torno do gramado. As
traves de rúgbi ainda estavam
no local, que terá capacidade
para 48 mil torcedores. ""As
obras são extremamente simples. É só uma pequena reforma, na verdade", disse o engenheiro-chefe, Duncan Brown.
Na tentativa de conter os
custos, a organização fez parcerias com empresas privadas,
que praticamente assumiram
os custos de alguns estádios.
Em Bloemfontein, a Vodacom, gigante da telefonia celular, pôs placas de publicidade
em todo o local e está bancando
cerca de metade da obra.
O custo final dos estádios, se
não houver estouros no orçamento, será uma ""pechincha",
em termos comparativos. A organização da Copa de 2010
promete gastar 850 milhões,
70% menos do que o torneio da
Alemanha-06, quando a conta
ficou em 1,45 bilhão. Na última Copa, eram 12 estádios,
dois a mais que na próxima.
Mas a decisão política de cortar custos, avalizada pela Fifa e
pelo governo sul-africano, tem
contratempos. Um deles é utilizar estádios claramente sem
vocação para um evento desse
porte. O Ellis Park Stadium, em
Johannesburgo, é um exemplo.
Com capacidade para 61 mil
pessoas, é uma espécie de Maracanã do rúgbi sul-africano.
Fica encravado numa região de
ruas estreitas, no centro da metrópole sul-africana, e tem dificuldades notórias de escoamento de público. Suas arquibancadas verticais transformam o lugar num caldeirão. As
primeiras fileiras ficam a menos de cinco metros do campo.
Apesar disso, o Ellis está recebendo apenas uma micro-reforma. Quando a Folha visitou
o local, um punhado de operários trabalhava somente na tribuna de imprensa e na área para convidados vip.
Mas a maior preocupação
das autoridades sul-africanas é
mesmo com os estádios que demandam obras maiores.
A obra mais atrasada é a do
Greenpoint, na Cidade do Cabo
e com capacidade para abrigar
70 mil pessoas, que está sendo
construído do zero. Greves de
trabalhadores devem inviabilizar o término da obra no ano
que vem, como planejado.
Outro estádio novo, o
Mbombela, em Nelspruit (leste
do país), enfrenta problema pitoresco. A área é reivindicada
por um clã tradicional da região, que entrou na Justiça.
O processo, ainda não julgado, paira como uma ameaça sobre o ritmo das obras.
E há o principal estádio da
Copa, o Soccer City, em Johannesburgo, na entrada do histórico distrito de Soweto, famoso
como epicentro das lutas anti-apartheid, no século passado.
Lá devem ocorrer a abertura
e a final. O estádio é de 1987 e
está sendo praticamente refeito. Vai quase dobrar de capacidade, para 95 mil pessoas.
O ritmo de construção também segue lento, apesar de as
autoridades assegurarem que
até o final do ano que vem estará pronto. No dia em que a Folha realizou uma visita ao local,
em plena manhã de quinta-feira, ninguém trabalhava.
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