São Paulo, domingo, 06 de abril de 2008

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Veterano revê Olimpíada após 44 anos

Hiroshi Hoketsu, 67, atleta mais velho da delegação japonesa em Pequim, volta aos Jogos após saltar em Tóquio-1964

Falta de oportunidade para saltar na Europa adormeceu sonho do atleta, retomado após sua aposentadoria e opção pelo adestramento

MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL

Hiroshi Hoketsu ri do interesse repentino por sua história. O simpático senhor de 67 anos se tornará em Pequim o japonês mais velho a disputar uma Olimpíada. Mas não vê grandiosidade em sua proeza.
A modalidade que pratica, o adestramento, não impõe limites de idade nem grandes desafios físicos. Aposentado, Hoketsu não sofre com problemas de falta de tempo nem de dinheiro para se dedicar com afinco ao esporte que escolheu.
Sua biografia, no entanto, guarda um comovente exemplo de persistência. Na China, o cavaleiro japonês irá pela segunda vez a uma Olimpíada, 44 longos anos depois de ter estreado nos Jogos de Tóquio-1964.
"Eu não queria ser o mais velho", afirma Hoketsu à Folha, em meio a gargalhadas.
"Não sei como é no Brasil, mas no Japão há muitos jornais e revistas, e estão escrevendo bastante sobre esse fato. Como não sou candidato a medalha, acho que essa foi a maneira que encontraram de falar sobre mim", completa.
Nos últimos 44 anos, Hoketsu não parou de praticar equitação, esporte que abraçou quando tinha apenas 12 anos. Fazia saltos e adestramento.
Chegou a se classificar para a Olimpíada de Seul, em 1988, mas não pôde ir por problemas com a quarentena de seu cavalo. Nunca mais tentou.
"Ser atleta olímpico sempre foi um sonho. Em Tóquio, eu era muito jovem, gostava da adrenalina de saltar. Não me lembro de muitas coisas, mas fiquei muito empolgado, feliz com aquela honra. Não obtive uma boa posição [40º], mas meu objetivo estava cumprido", afirma Hoketsu.
O principal entrave foi a mudança de critérios para a classificação imposta pela federação internacional. Para se classificar aos Jogos, o atleta teria de somar pontos no ranking mundial e, no Japão, não havia competições de elite suficientes.
Hoketsu treinava em seu país, mas passou a construir uma carreira fora do esporte. Tornou-se executivo da filial de uma indústria farmacêutica norte-americana, casou-se, teve uma filha e prosperou.
Há quatro anos, aposentado como presidente da empresa, viu-se diante da pergunta "O que vou fazer agora?". Lembrou-se, imediatamente, do sonho de voltar a uma Olimpíada.
"Decidi ter um cavalo na Europa e ir competir lá. Agora passo uns dois meses na Alemanha, volto, passo um período no Japão, volto de novo. Tenho uma vida meio estranha."
Aos 34 anos, Hoketsu abandonou os saltos para se dedicar só ao adestramento. Não se sentia mais apto para competir. A visão fraca o atrapalhava.
Na Alemanha, passou a ser treinado por Alexandra Simons de Ridder, campeã olímpica pelo país em Sydney-2000. E encontrou a égua Whisper.
"Às vezes ela parece fazer as coisas por vontade própria, parece ter decidido dar uma chance a esse velho homem."
Na arena de Hong Kong, palco das provas de adestramento em agosto, Hoketsu espera chegar ao menos à segunda fase. Não crê em medalha, mas sonha com uma final.
"Quero obter uma performance que me deixe satisfeito. Não posso controlar se vou à decisão ou não, mas quero ir o mais longe possível", diz.
O veterano cavaleiro, no entanto, tem planos mais longínquos. Após 44 anos de espera, não irá se afastar facilmente dos Jogos Olímpicos.
"Não vou me aposentar depois da Olimpíada de Pequim. Depende dos meus cavalos, do meu físico. Mas, se puder, quero ir a Londres [2012]."


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