|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Veterano revê Olimpíada após 44 anos
Hiroshi Hoketsu, 67, atleta mais velho da delegação japonesa em Pequim, volta aos Jogos após saltar em Tóquio-1964
Falta de oportunidade para saltar na Europa adormeceu sonho do atleta, retomado após sua aposentadoria e
opção pelo adestramento
MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL
Hiroshi Hoketsu ri do interesse repentino por sua história. O simpático senhor de 67
anos se tornará em Pequim o
japonês mais velho a disputar
uma Olimpíada. Mas não vê
grandiosidade em sua proeza.
A modalidade que pratica, o
adestramento, não impõe limites de idade nem grandes desafios físicos. Aposentado, Hoketsu não sofre com problemas
de falta de tempo nem de dinheiro para se dedicar com
afinco ao esporte que escolheu.
Sua biografia, no entanto,
guarda um comovente exemplo
de persistência. Na China, o cavaleiro japonês irá pela segunda vez a uma Olimpíada, 44 longos anos depois de ter estreado
nos Jogos de Tóquio-1964.
"Eu não queria ser o mais velho", afirma Hoketsu à Folha,
em meio a gargalhadas.
"Não sei como é no Brasil,
mas no Japão há muitos jornais e revistas, e estão escrevendo bastante sobre esse fato.
Como não sou candidato a medalha, acho que essa foi a maneira que encontraram de falar
sobre mim", completa.
Nos últimos 44 anos, Hoketsu não parou de praticar equitação, esporte que abraçou
quando tinha apenas 12 anos.
Fazia saltos e adestramento.
Chegou a se classificar para a
Olimpíada de Seul, em 1988,
mas não pôde ir por problemas
com a quarentena de seu cavalo. Nunca mais tentou.
"Ser atleta olímpico sempre
foi um sonho. Em Tóquio, eu
era muito jovem, gostava da
adrenalina de saltar. Não me
lembro de muitas coisas, mas
fiquei muito empolgado, feliz
com aquela honra. Não obtive
uma boa posição [40º], mas
meu objetivo estava cumprido", afirma Hoketsu.
O principal entrave foi a mudança de critérios para a classificação imposta pela federação
internacional. Para se classificar aos Jogos, o atleta teria de
somar pontos no ranking mundial e, no Japão, não havia competições de elite suficientes.
Hoketsu treinava em seu
país, mas passou a construir
uma carreira fora do esporte.
Tornou-se executivo da filial
de uma indústria farmacêutica
norte-americana, casou-se, teve uma filha e prosperou.
Há quatro anos, aposentado
como presidente da empresa,
viu-se diante da pergunta "O
que vou fazer agora?". Lembrou-se, imediatamente, do sonho de voltar a uma Olimpíada.
"Decidi ter um cavalo na Europa e ir competir lá. Agora
passo uns dois meses na Alemanha, volto, passo um período no Japão, volto de novo. Tenho uma vida meio estranha."
Aos 34 anos, Hoketsu abandonou os saltos para se dedicar
só ao adestramento. Não se
sentia mais apto para competir. A visão fraca o atrapalhava.
Na Alemanha, passou a ser
treinado por Alexandra Simons
de Ridder, campeã olímpica
pelo país em Sydney-2000. E
encontrou a égua Whisper.
"Às vezes ela parece fazer as
coisas por vontade própria, parece ter decidido dar uma
chance a esse velho homem."
Na arena de Hong Kong, palco das provas de adestramento
em agosto, Hoketsu espera
chegar ao menos à segunda fase. Não crê em medalha, mas
sonha com uma final.
"Quero obter uma performance que me deixe satisfeito.
Não posso controlar se vou à
decisão ou não, mas quero ir o
mais longe possível", diz.
O veterano cavaleiro, no entanto, tem planos mais longínquos. Após 44 anos de espera,
não irá se afastar facilmente
dos Jogos Olímpicos.
"Não vou me aposentar depois da Olimpíada de Pequim.
Depende dos meus cavalos, do
meu físico. Mas, se puder, quero ir a Londres [2012]."
Texto Anterior: Decepcionado, Massa culpa tráfego por posição Próximo Texto: Cuidados com os cavalos ainda espantam cavaleiro Índice
|