São Paulo, segunda-feira, 06 de maio de 2002

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FUTEBOL

Acusado por ex-aliado, dirigente reconhece que não seguiu procedimentos corretos na presidência da entidade

Blatter já admite irregularidades no comando da Fifa

DA REDAÇÃO

O presidente da Fifa, Joseph Blatter, admitiu ter cometido parte das irregularidades apontadas em dossiê de Michel Zen-Ruffinen, secretário-geral da entidade, que o acusa de uma série de atos de corrupção.
O documento apresentado por Zen-Ruffinen ao Comitê Executivo da Fifa na reunião da última sexta-feira, apesar de ter sido entregue com a exigência de confidencialidade, foi exibido na íntegra na versão on-line do jornal SonntagsZeitung, de Zurique.
No dossiê, o ex-braço direito de Blatter diz que o dirigente foi o responsável por uma série de pagamentos irregulares, entre os quais US$ 9,75 milhões para a Concacaf, entidade que dirige o futebol das Américas Central e do Norte, em 1999, US$ 55 mil para o brasileiro João Havelange e US$ 100 mil a Viacheslav Koloskov, que comanda a Federação Russa.
Em entrevista ao jornal suíço, o presidente da Fifa admitiu ter pago US$ 100 mil para Koloskov entre 1998 e 2000, apesar de o russo ter perdido o cargo de vice-presidente da entidade.
""Não segui os procedimentos corretos. Koloskov não era mais um delegado eleito, mas ainda ajudava [informalmente" a Fifa. Por isso, decidi lhe dar o dinheiro, US$ 50 mil por ano, como ganha qualquer membro do Comitê Executivo. Foi uma irregularidade, mas o comitê [se soubesse dos pagamentos na época] teria apoiado minha decisão."
Zen-Ruffinen disse ainda que Blatter pagou US$ 25 mil para o árbitro Lucien Bouchardeau fazer acusações contra Farah Addo, delegado da Somália, que acusou o presidente da Fifa de tê-lo tentado subornar nas eleições de 1998.
Em sua resposta, Blatter admitiu ter lhe dado US$ 25 mil, mas afirmou que foi de sua conta pessoal, não da da Fifa. ""É que sou uma pessoa muito generosa."
"Cometi erros, sim, aqui e acolá, mas nada que possa ser considerado crime [como vem dizendo Zen-Ruffinen]."
Para o secretário-geral, o presidente tem usado a Fifa como se ela lhe pertencesse, negando-se a dar satisfações de seus atos a quem quer que seja. ""Ele tomou várias decisões favoráveis aos interesses econômicos de Jack Warner [presidente da Concacaf], mas contrárias aos da Fifa."
Warner, que é de Trinidad e Tobago, recebeu, segundo Zen-Ruffinen, os direitos de TV das Copas de 1990, 1994 e 1998 pelo preço simbólico de US$ 1,00.
A decisão teria sido tomada por Blatter, na época secretário-geral da Fifa, e Havelange, que presidiu a entidade que comanda o futebol mundial entre 1974 e 1998.
Em troca de vantagens financeiras, Warner teria colocado a Concacaf à disposição dos interesses de Blatter e Havelange.
Em viagem à China e à Coréia do Norte, o presidente da Fifa insiste que, quando possível, tentará responder ponto por ponto as acusações de Zen-Ruffinen.
Procurado pela reportagem da Folha, João Havelange não foi encontrado. Segundo a assessoria do brasileiro, ele se encontra no exterior e só se manifestará sobre o assunto após as eleições da Fifa, em 29 de maio, em Seul.


Com agências internacionais



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