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Carnaval antecipado
Soweto adianta festa tradicional para coincidir com a Copa e festeja africanidade com mar vibrante de gente nas ruas
JOSÉ GERALDO COUTO
PAULA CESARINO COSTA
ENVIADOS ESPECIAIS A JOHANNESBURGO
Um Carnaval fora de hora
para unir as culturas tradicionais sul-africanas tomou
conta ontem das ruas de Soweto. "Um dia maravilhoso",
"um momento inesquecível", "uma celebração emocionante" eram algumas definições ditas por moradores
da Província de Gauteng, onde fica Johannesburgo.
O festival, que segue hoje
com a participação de Martinália, é a sexta edição do Pale Ya Rona Carnival, este ano
antecipado (normalmente é
em setembro) para coincidir
com a Copa do Mundo.
Sessenta velhinhas de Pretoria, adolescentes de distritos de Johannesburgo, grupos de dança e teatro do próprio Soweto, batuqueiros da Nigéria, dançarinos da região de Kwazulu-Natal.
Nesse vibrante mar de gente, de brancos mesmo só os membros de delegações de fora da África e um ou outro sul-africano da organização do evento ou integrantes da John Arc Productions, responsáveis pela criação artística de vários blocos.
Para o percussionista zulu Bafana, 30, do grupo Sava Theatre, de Soweto, aquela era uma oportunidade ímpar de "exibir ao mundo nossas tradições, nossa cultura, mostrando que não existe só pobreza e violência entre o povo negro sul-africano".
Para Bafana, as seleções de futebol de outros países deveriam visitar Soweto. "Não só acenar da janela do ônibus, mas conversar com a gente, ver como vivemos, conhecer nossa arte."
Ao lado, só observando a "concentração" dos vários grupos que desfilariam, duas irmãs adolescentes, Nandipha, 18, e Amanda, 15, não continham o entusiasmo pela festa e pela Copa do Mundo. "É maravilhoso estar aqui hoje", disse Nandipha, moradora do distrito. Ela acredita que o Mundial trará ganhos permanentes para o país: "Mais empregos, mais recursos, mais respeito".
Peggy Manganye, Joyce Fennie e Sam Maphale acreditam que a Copa do Mundo é muito boa para que pessoas de várias partes do mundo possam olhar o país sem preconceito. Têm esperança, mas não muita confiança, de que algo de bom pode ficar depois da competição.
Veterano de quatro edições do Pale Ya Carnival (expressão que significa "nossa história") e sobrevivente dos sangrentos conflitos entre zulus e xhosas dos anos 90, Bafana é mais cético. "Os empregos são temporários. Tenho dúvidas sobre quem vai se beneficiar de fato com a Copa", diz ele, em seu traje sumário de pele de leopardo.
Havia uma alegria e uma emoção visíveis, especialmente nos mais velhos.
Patricia Marabe, Thoko Motloung, Lindiwe Buthelezi e Suzan Mpekula estreavam na festa com trajes típicos da etnia zulu e iriam representar um ritual Sangoma.
Havia fantasias de todo tipo. Desde as mais improvisadas até alegorias elaboradas. Nada que chegasse perto dos carnavais brasileiros.
Destacava-se um carro alegórico que reproduzia o estádio Soccer City, onde acontecerá a abertura e a final da Copa. Iria desfilar ao som de com um DJ tocando músicas contemporâneas. Era um dos vários ritmos ouvidos na festa, ao lado de cantos tradicionais e diferentes batuques.
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