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TOSTÃO
Semifinal paulista
O São Paulo foi melhor, até
este momento, mas ainda não
ganhou nada. O campeonato
de verdade começou ontem.
Nas duas vezes que o time decidiu neste ano, foi derrotado
pelo Botafogo, na Copa do
Brasil, e pelo Vasco, no Rio-São Paulo.
Gosto muito das
inovações táticas
do Carpegiani, da
presença de três
zagueiros, que não
são fixos, e das
mudanças durante a partida. A
equipe é leve, habilidosa e criativa.
A dupla Raí-França e mais Dodô
empolgam pela
troca rápida de
passes, pela beleza
do drible e pela
conclusão.
Esse estilo encanta, mas nem
sempre vence em
uma decisão. O time precisa associar a técnica à jogada feia, ao
gol por acaso, transpirado e
grosso. Prefiro ver o Raí vindo
de trás, ao lado do Dodô e do
França, do que jogando na
frente, com o Dodô na reserva.
O Corinthians está preocupado em marcar o excepcional
lateral-esquerdo Serginho. Se
recuar o Marcelinho para essa
função, perde a presença do jogador no ataque. Se deixá-lo
mais solto na frente, terá de
deslocar o volante Vampeta
para ajudar o tímido lateral
Índio na marcação do jogador
do São Paulo. Por causa dessa
mesma dúvida, Marcelinho
brigou com o ex-corintiano Luxemburgo, já que o atleta
não queria jogar recuado, para fazer essa função.
O grande diferencial do time de Oswaldo de Oliveira é a
presença, no meio-campo, de dois armadores (Rincón e
Vampeta), que são
ofensivos e defensivos ao mesmo tempo.
Vampeta é o único
jogador de meio-campo, no Brasil,
com essa capacidade.
Parece que o preconceito do treinador da
seleção brasileira,
pelo fato de o jogador ter posado nu para uma revista, está atrapalhando sua
convocação.
O Corinthians perdeu a Libertadores e a Copa do Brasil e
não quer ficar sem esse terceiro
título. O São Paulo precisa se
afirmar como um grande time
de decisão. Portanto, teremos
hoje um jogaço, sem favoritos.
Decisão carioca
Quando começou o Campeonato Carioca, todos nós dizíamos que o Vasco era o franco
favorito. Eurico Miranda, com
sua empáfia, falava que a disputa seria pela segunda colocação.
Tudo mudou. O Flamengo
melhorou, e o Vasco piorou.
Hoje, existe um equilíbrio. O
Mengo, além do genial Romário, tem Iranildo -que vai
progressivamente conquistando um lugar de destaque no futebol brasileiro-, Athirson,
Beto, Clêmer, Luiz Alberto,
Caio e outros bons jogadores.
O Flamengo não é um timaço,
mas é um bom time, equilibrado e regular.
O Vasco perdeu sua confiança e a tranquilidade de ganhar
quando quisesse. Agora, ganha se o adversário permitir.
O clube trouxe Edmundo, como se o atacante, sozinho, fosse resolver todos os seus problemas e, para hoje, provavelmente estará desfalcado de
seus dois outros grandes jogadores (Juninho e Mauro Galvão), além da falta crônica do
Pedrinho.
Seu sistema tático, com Nasa
jogando praticamente de zagueiro, correndo atrás do atacante adversário, um armador
ofensivo de cada lado e dois
atacantes, está se tornando saturado.
A equipe do Vasco precisa
mudar sua filosofia em campo,
criar outras opções táticas e
descobrir novos caminhos.
Auto-estima
Existe jogador que, ao ser
elogiado por seu técnico e pelos torcedores, se torna insuportável, deslumbrado e piora
seu rendimento.
Outros, pelo contrário, precisam ser reconhecidos, valorizados, para aumentar sua auto-estima e melhorar sua qualidade técnica. Sentem-se mais
seguros com os elogios e o
apoio dos treinadores e dos
torcedores.
João Saldanha, em 69, assumiu o comando da seleção
brasileira, chamou-me e disse:
"A partir de hoje, você é titular
absoluto da equipe, ao lado do
Pelé. Se jogar mal, continuará
no time".
Eu, que até aquele momento
me sentia inseguro, pelo receio
de que seria o eterno reserva
do Rei, passei a jogar muito
melhor e tive, nas eliminatórias para a Copa do Mundo, o
meu maior momento no time
brasileiro.
Luiz Felipe escalou os jogadores Arce e César Sampaio,
para vigiar o Alex e não deixá-lo sonolento em campo. O jovem meia precisa somente do
reconhecimento do técnico,
dos torcedores e da imprensa.
Ele é um atleta excepcional e
não deveria ser substituído
com tanta frequência.
O mesmo aconteceu como o
Iranildo no Flamengo.
Giovanni passa por esse mesmo problema no Barcelona.
Com mais segurança, confiança e apoio, o futebol desses e de
outros jogadores atingiria as
alturas.
Lembranças
Aqui, em Cali, Colômbia, o
Palmeiras perdeu para o Deportivo, mas novamente venceu, pois terá ótimas chances
de ser campeão da Libertadores, em São Paulo.
Há 30 anos, estive aqui na
Colômbia, para disputar as
eliminatórias para a Copa do
Mundo de 70. Ganhamos por 2
a 0, e sofri um corte no supercílio esquerdo. Os médicos disseram que esse problema não teve relação com o descolamento
da retina, em setembro do
mesmo ano, no Pacaembu, durante a partida entre o Cruzeiro e o Corinthians.
Naquele período, assisti, em
Bogotá, pela TV, o homem pisar na lua pela primeira vez.
Fiquei deslumbrado com o fato. Como um bom mineiro,
desconfiado, perguntei-me se
tudo aquilo era verdade. Imaginei, ao mesmo tempo, que 30
anos depois estaríamos viajando de rotina, para a lua.
Antes de viajar desta vez para a Colômbia, estive na Universidade de Campinas (Unicamp). Um professor me perguntou o que senti quando parei de jogar, ainda jovem, por
causa de uma grave contusão
no joelho. Corrigi que não tinha sido por causa do joelho, e
sim por causa de um problema
no olho esquerdo.
Esta é uma pequena amostra
de como a história vai sendo
transformada com o tempo.
Talvez, daqui a 30 anos, dirão
que o meu problema foi no pé,
que o homem não chegou à lua,
que tudo foi um sonho.
Tostão escreve aos domingos e às quartas-feiras
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