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BOXE
Pesquisa diz que susceptibilidade a golpes na cabeça está no DNA e pode gerar controle sobre futuro de pugilistas
Genética pode revelar cérebros de 'vidro'
PHILIP COHEN
da "New Scientist"
Genes podem conter um trágico
nocaute para alguns boxeadores.
Um estudo revela que parte dos lutadores são geneticamente predispostos a sofrer danos cerebrais como resultado de golpes na cabeça.
Apesar das descobertas serem
preliminares, alguns especialistas
dizem que a pesquisa pode conduzir a uma peneira genética, banindo pessoas susceptíveis do boxe e
de outros esportes de contato
-uma proposta controversa.
Barry Jordan, neurologista da
Universidade da Califórnia, em
Los Angeles, apresentou sua descoberta na Primeira Conferência
Médica de Segurança no Boxe,
realizada em Aruba, em maio.
Afirmou que lutadores com uma
variação comum do gene responsável pela produção da proteína
ApoE, conhecida como E4 alelle
-que coloca seus portadores sob
alto risco de desenvolver o mal de
Alzheimer-, são mais passíveis
de desenvolver danos neurológicos nos ringues.
O trabalho de Jordan poderia explicar por que alguns pugilistas sobrevivem a centenas de combates,
enquanto outros apresentam sérios sintomas neurológicos após
apenas alguns golpes na cabeça.
O que já está claro é que pelo menos 10% dos boxeadores -alguns
estudos apontam mais da metade- adquirem uma condição conhecida como síndrome do soco
bêbado, caracterizada por enfraquecimento da memória, perda de
coordenação e fala desarticulada.
Jordan notou que pacientes de
Alzheimer têm sintomas similares
e que contusões graves na cabeça
são conhecidas por acelerar o progresso da doença.
De fato, no ano passado, um pesquisador britânico relatou que necropsias em dois boxeadores revelaram anormalidades cerebrais similares às constatadas em pacientes de Alzheimer.
Jordan e sua equipe, então, decidiram ver se a similaridade entre a
síndrome do soco bêbado e o mal
de Alzheimer tinha base genética.
Em amostras de DNA de 27 lutadores aposentados e três ativos,
verificaram a presença do E4 allele
e relacionaram isso com a saúde
neurológica dos lutadores.
Perto de um terço da população
carrega uma cópia do E4 allele enquanto 10% carregam duas. Alguns estudos sugerem que pessoas
com dois genes E4 têm dez vezes
mais chances de desenvolver o mal
de Alzheimer do que uma pessoa
que não os possua.
Quando Jordan examinou os lutadores, mesmo aqueles sem genes
E4 mostraram alguma evidência
de dano neurológico. Mas um terço dos que tinham um único E4
apresentaram danos mais extensos. O lutador mais seriamente
prejudicado tinha duas cópias.
Por que o E4 allele colocaria a
pessoa sob alto risco de dano cerebral não está claro. "É importante
descobrir pois podemos estar aptos a fazer algo a respeito", diz James Nicoll, do Southern General
Hospital de Glasgow, que estuda a
ligação entre ApoE e a recuperação
de danos cerebrais.
Uma possibilidade é que as pessoas com o E4 allele têm mais
chances de produzir depósitos de
proteína amilóide, que é tóxica,
em seus cérebros quando feridos.
O ApoE está envolvido no transporte de lipídios, necessários à recuperação de células nervosas. A
versão da proteína codificada por
E4 seria menos eficiente na função.
Utilidade
Jordan acha que perfis genéticos
possam, no futuro, ser ferramentas comuns para técnicos de boxe e
médicos. "Você assistiria boxeadores com esses genes mais de perto e tentaria espaçar suas lutas."
"E, claro, você os alertaria para
o risco que estão correndo."
Outros especialistas dizem que
as implicações poderiam ter alcance maior. "Esse trabalho pode ter
importância histórica", afirma Joe
Estwanik, médico e escritor.
Para ele, a descoberta deixa aos
médicos um dilema: o que dizer a
esportistas com perfis genéticos
que apontam alto risco. "Você os
desencorajaria? Baniria eles do esporte aos dez anos de idade?"
Jordan e Estwanik acham que os
atletas evitariam o teste genético,
mas outros discordam.
George Lundberg, editor do
"The Journal of the American Medical Association" e um proeminente crítico do boxe, aponta que
muitos Estados norte-americanos
já exigem de pugilistas certos critérios médicos para competir.
"Eles não lhe deixam lutar se você é parcialmente cego", afirma.
"Certamente criariam leis para
proibir aqueles sob alto risco de lesão de subir aos ringues."
Jordan, agora, está checando se a
mesma ligação entre lesões e o E4
allele pode ser detectada no futebol e no futebol americano.
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