São Paulo, terça-feira, 06 de agosto de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Técnico adia encontro na CBF e continua dividido entre família e desafio

Nem Scolari decidiu se segue na seleção

FÁBIO VICTOR
DA REPORTAGEM LOCAL

Ninguém sabe ainda se Luiz Felipe Scolari continuará na seleção brasileira. Nem ele mesmo.
O técnico prometera fazer o anúncio depois de uma reunião com o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, marcada para ontem. O encontro foi adiado para a próxima quinta-feira por causa da morte do filho do preparador físico da seleção, Paulo Paixão.
Passado mais de um mês da conquista do pentacampeonato mundial, Scolari irá para a conversa com Teixeira com um dilema na cabeça e espera sair do Rio de Janeiro com o futuro definido.
Amigos de trabalho e do convívio pessoal do treinador que conversaram com ele nos últimos dias sentiram um Scolari hesitante e inseguro, apesar de tranquilo.
Ontem, em seguida ao adiamento do encontro, surgiram especulações de que o técnico já tomou a decisão de abandonar a seleção brasileira -e que irá apenas comunicá-la a Teixeira.
Mas não é bem assim. Scolari continua indeciso. De um lado, sua família e amigos influentes pedem e/ou dão conselhos para que ele deixe a seleção. A mulher do treinador, Olga, e o seu primogênito, Leonardo, detestam os holofotes e o assédio inerentes ao cargo. Demonstram a todo instante o desconforto com a situação, o que afeta Scolari.
Colegas do futebol têm outro argumento: sugerem que ele siga Parreira e saia "por cima", mantendo a reputação de vencedor.
Mas o técnico leva em conta outros fatores. Comenta com vontade adolescente a possibilidade de disputar uma Olimpíada -o que mais o deixa excitado é poder se hospedar numa Vila Olímpica com milhares de atletas de várias modalidades e de todo o mundo.
O projeto da CBF para Atenas-2004 será, assim, importante para a resposta de Scolari a Teixeira. O desafio de dar ao Brasil a inédita medalha olímpica e o de ser o único técnico a vencer uma Copa por duas vezes seguem em sua cabeça.
Aliada ao atual dilema há um fato. Nenhum grande clube europeu fez proposta para contratá-lo - e essa era a única chance de tirá-lo da seleção logo após a Copa.
As ofertas que chegaram ao técnico não o seduziram. A CBF, por sua vez, irá sugerir a redução do salário de Scolari, que recebeu, até a Copa, US$ 150 mil mensais.
Sem problemas financeiros, principalmente após o Mundial (acumula contratos publicitários vultosos e tem palestras agendadas até dezembro), o treinador não pretende aceitar, mas pode ceder se obtiver outros ganhos da CBF -como autonomia para trabalhar com as divisões de base.
Tudo dependerá da conversa com Teixeira, que também ainda não sabe se ele fica ou sai.
O que fascina Scolari hoje é a publicação de seu livro sobre a Copa, em parceria com o jornalista Ruy Carlos Ostermann. Ele tem dito a amigos que está desempregado e que só pensa no livro.
Ontem, ele prestou assistência à família de Paulo Paixão -com quem trabalha há quase dez anos-, enquanto o preparador físico retornava de Portugal, onde estava com o Grêmio. O enterro de Alessandro Paixão, 25, que morreu de parada cardíaca anteontem, seria às 22h de ontem.
Por isso Scolari não pôde anunciar a lista de convocados para o jogo contra o Paraguai, no dia 21, quando comandará a seleção no amistoso festivo em Fortaleza.


Texto Anterior: Painel FC
Próximo Texto: Federações já criticam novo endereço da CBF
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.