São Paulo, sábado, 06 de agosto de 2011

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JOSÉ ROBERTO TORERO

Um reclame


Meu slogan: 'Anuncie com Torero, o jornalista que pega o touro, e o leitor, à unha'


"Consumidor leitor, consumista leitora, este texto é um patrocínio de..."
Qualquer dia destes vou começar minha coluna assim. É que a publicidade está se entranhando no jornalismo esportivo como um câncer, numa metástase que usa slogans em vez de tumores.
É claro que o dinheiro da propaganda é necessário. Mas pode-se fazer negócios com Mefistófeles sem perder totalmente a classe. Não é o que acontece quando um jornalista se transforma em vendedor no meio de uma informação. Que credibilidade você dá a uma voz que, depois de criticar o excesso de peso de um jogador, fala da pizzaria sei-lá-o-quê ou da churrascaria não-sei-qual?
Mas não estou aqui para protestar. De jeito nenhum! Sei me render ao gosto do tempo. O que eu quero é isonomia. Por que só os profissionais de rádio e tevê podem ser garotos-propaganda? Sei que o termo garoto infelizmente não se aplica mais à minha pessoa, mas ainda posso ser, digamos, um tiozão-propaganda. E no meio de meu texto colocarei comerciais tão sutis quanto os dos coleguinhas. Para dar-lhes uma amostra grátis, coloco aqui um provável texto sobre a abertura da Copa: "Foi um jogo emocionante. Logo no primeiro minuto, Neymar invadiu a defesa japonesa em grande velocidade, como um Speeder, o novo carro da Fordswagen, mas o chute saiu longe da meta, talvez porque o craque não use chuteiras da Mike, a chuteira da mira certeira.
"A segunda chance não demorou muito: aos dez minutos, Lucas driblou dois zagueiros e chutou alto, tão alto como o padrão dos apartamentos do Residencial Nova Firenze, a arte de viver.
"Porém o melhor lance do primeiro tempo foi quando Robinho deu uma caneta no zagueiro Akira, uma caneta que, se tivesse marca, certamente seria Montnoir.
"No fim do primeiro tempo, apesar do 0 a 0, parecia que o Brasil daria um chocolate (Neslacta, o melhor chocolate do país do café). Mas veio a etapa complementar, e o ataque nacional não conseguia furar a defesa japonesa, resistente como os preservativos Olé.
"Aos 35min, houve um pênalti claro em Ganso (travesseiros Bom Sonhos, com legítimas penas de craque), mas o juiz não marcou nada e começou a ser xingado. Se as ofensas forem verdadeiras, certamente a progenitora do árbitro trabalha no Café Videô, onde os prazeres se encontram.
"Por fim, num contragolpe inesperado, Kurosawa marcou. Sim, parece inacreditável, mas o Brasil perdeu na estreia. O jeito é tomar uma 2014, a cachaça de quem é bom de copo e ruim de Copa."


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