São Paulo, quarta-feira, 06 de setembro de 2006

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TOSTÃO

Menos, menos euforia



Dunga começou muito bem, mas a turma do "oba-oba" precisa se conter, pois com o Parreira foi a mesma história


É ÓBVIO que mesmo os melhores jogadores da seleção brasileira podem, eventualmente, ficar na reserva, como já aconteceu até com o Pelé. O que discordo é colocar na reserva o Kaká e o Ronaldinho -ele também teria ficado no banco contra a Argentina se não estivesse contundido- por causa de esquema tático ou para o técnico mostrar autoridade. Ou ainda para agradar ao público e à imprensa.
Com o crescimento da interatividade e da busca pela audiência, cada vez mais as pessoas influenciam a opinião da mídia. Ou a reserva seria um castigo para satisfazer a ira e o prazer de muitos? Parece até que o Ronaldinho e o Kaká jogaram mal na Copa porque foram relapsos nos treinos -estava lá- ou não tiveram vontade ou foram indisciplinados ou possuíam privilégios.
Durante a transmissão do jogo contra a Argentina, Galvão Bueno informou que o presidente da CBF disse aos jogadores que não toleraria maus exemplos. Será que o Ricardo Teixeira, um grande exemplo de cidadão, se referia aos dois jogadores?
Um dos erros do Ronaldinho e do Kaká na Copa foi serem excessivamente disciplinados, bem comportados e tentarem fazer tudo que o Parreira pediu. Se fosse um Gerson, diria para o técnico: "Desse jeito não dá". Teria sido bom para o Ronaldinho, para o Kaká e para a seleção.
Dunga começou muito bem. Contra a Argentina, ele armou o time com duas linhas de quatro e priorizando as jogadas pelas laterais. A maioria dos times da Europa joga dessa forma há 40 anos. Parreira tentou fazer o mesmo na Copa, escalando Ronaldinho e Kaká recuados e abertos. Não era lugar para os dois.
Contra o País de Gales, Dunga, como prometera, pôs o Ronaldinho e o Kaká como eles jogam nos seus clubes. Faltou o Robinho pela direita no lugar de um dos três volantes. Apesar do ritmo lento, da atuação discreta e muito inferior à da equipe que jogou contra a Argentina, o caminho deveria ser o de tentar escalar junto os melhores (Ronaldinho, Kaká e Robinho). Dificilmente Dunga fará isso. O Barcelona atua com quatro jogadores ofensivos (Deco, Ronaldinho, Messi e Eto'o) e tem o time mais brilhante e eficiente do mundo.
Muitos jovens, principalmente Elano, confirmaram as suas qualidades e poderão ser úteis à seleção. Mas os apressados já dizem que Elano é titular imprescindível. Com os novos jogadores e o novo técnico, renasceu o entusiasmo pela seleção. Isso é bom.
Mas a turma do "oba-oba" precisa conter a euforia. O Brasil também goleou a Argentina pela Copa das Confederações. Naquela época, parecia tudo perfeito, e tudo que o Parreira dizia era exaltado. Agora elogiam até quando o Dunga faz cara de zangado.

Canhotinha de Ouro
Ao citar na coluna o Gerson, o Canhotinha de Ouro, lembrei que em 1968 a seleção fez uma longa excursão pelo mundo. Na estréia, levamos um baile da Alemanha e perdemos por 2 a 1. No outro dia, eu, Gerson e Ri- vellino sentamos para conversar e concordamos que não dava para jogar como queria o Aymoré Moreira. Gerson disse: "Vamos jogar do nosso jeito. Eu fico mais recuado pelo meio, Rivellino pela esquerda, e você [Tostão] pela direita. Vamos formar um trio de canhotos no meio-campo. Certo?!".
Perguntei se não deveríamos falar com o Aymoré Moreira, e o Gerson respondeu: "Ele nem vai perceber. Se notar e o time estiver bem, vai fingir que não viu". Foi o que aconteceu. Ganhamos a maioria dos jogos, e o Aymoré ficou bastante contente.

tostao.folha@uol.com.br


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