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Na Espanha, seleção adota "povo" apenas no discurso
Equipe ignora festa que reuniu milhares de brasileiros diante do hotel
ROBERTO DIAS
EM BARCELONA
"A gente é do povo", disse
Robinho logo no primeiro dia
de treino em Barcelona.
A frase do atacante não é
despretensiosa nem isolada:
repetida por outros atletas, a
mensagem faz parte do plano
da CBF para melhorar a imagem da seleção após a era de
atritos do técnico Dunga.
Pois uma coincidência deixou ontem milhares de integrantes do "povo" bem diante do hotel onde está hospedada a seleção na Espanha.
A festa pela Independência do Brasil foi marcada para o Porto Olímpico de Barcelona, com oito horas de eventos que invadiram a noite.
Mas, a despeito da insistência da organização, a seleção ignorou a festa e manteve a rotina de sair do hotel
uma vez ao dia para treinar.
Saída que provocou o único encontro com a torcida,
por sinal inevitável: a altura
do ônibus da seleção impedia sua entrada no estacionamento do hotel, o que obrigava os atletas a cruzar a calçada e a multidão que tinha se
inteirado da presença deles.
Questionado pela Folha
se os atletas poderiam participar da festa pela Independência do país a 8.500 quilômetros do Rio, o técnico Mano Menezes foi direto: "Não".
Os organizadores estimavam que mais de 5.000 pessoas passaram pela festa,
promovida pela TV Record,
emissora que é a principal
concorrente da TV Globo, detentora dos direitos de transmissão dos jogos da seleção.
A estratégia de insistir no
rótulo de "seleção do povo"
não é nova: foi usada antes
da Copa-2002, quando a
equipe vinha da maior crise
de sua história, após as CPIs
que investigaram a CBF.
Em Nova Jersey, onde Mano comandou pela primeira
vez a equipe, o presidente da
CBF, Ricardo Teixeira, passou esse tema aos jogadores.
"Essa seleção vai ser completamente diferenciada das
que já passaram e das que
vão passar. Vocês vão ser depois de 60 anos a primeira seleção a fazer a Copa dentro
do Brasil", disse Teixeira.
"Que vocês consigam efetivamente se transformar na
seleção do povo do Brasil."
No time, o recado foi muito
bem entendido, a julgar pelo
que dizem os atletas nas entrevistas em Barcelona.
"Estar ao lado dos torcedores ajuda", disse o meia Carlos Eduardo. "Quando o jogador dá uma atenção especial, o torcedor fica alegre",
falou o meia Fernandinho.
Mas ontem nem todos os
torcedores estavam tão felizes assim na festa. "Tinha
que vir, sim, eles estão aqui",
disse Carlos Santana, rondoniense que vive há seis anos
em Barcelona. Receoso de tumulto, um conterrâneo discordava: "Não tem condição,
não", declarou Gedeon Alves, há cinco anos na cidade.
O ritmo de trabalho em
Barcelona decerto não seria
empecilho para dar satisfação à torcida. Os jogadores
fazem só um treino diário, à
tarde. Segundo os relatos dos
atletas, o time passa as demais horas do dia no hotel,
descansando e conversando.
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