São Paulo, terça-feira, 06 de setembro de 2011

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LOS GRINGOS

JOHN CARLIN

O Brasil não é o que era


Se você procura talento no ataque, melhor pensar em outros países antes de tentar o Brasil

AS NOVELAS quanto a transferências no futebol (pelo menos aqui na Europa) em geral têm data de vencimento. Quando a janela se fecha, em 31 de agosto, podemos voltar a nos concentrar no futebol até que ela volte a se abrir no final do ano e a se fechar em janeiro. Prazos são bons, pois há um limite para nossa capacidade de suportar melodramas.
Infelizmente, no caso de Neymar não existe um fim previsível. A temporada já está em curso, mas não passa um dia sem que surja alguma migalha de informação, um rumor ou uma mentira escancarada quanto ao destino europeu de Neymar. Ele vai para o Real Madrid em janeiro? Fechou acordo secreto com o Barça para 2012 ou até 2013? Demitiu seu agente? Será que o xeque árabe que controla o Manchester City surpreenderá a todos e fará à grande esperança brasileira uma oferta que nem ele e nem o Santos poderiam recusar?
Um dia a novela vai acabar. E talvez então seja possível determinar se ainda persiste a posição do Brasil como maior fonte de talentos futebolísticos do planeta, ou se isso já é um mito, alimentado pela eterna grandeza da geração de Pelé. Sejamos honestos, os brasileiros decepcionaram um pouco nos últimos anos, aqui no maior dos cenários de teste do futebol mundial.
O pobre Robinho, quanto ao qual vocês estavam tão certos por aí, não floresceu. Já nem sei por que time ele está jogando. Kaká: o Real Madrid adoraria se livrar dele, a quase qualquer preço, depois de dois anos de profunda inutilidade. É verdade que Ronaldinho foi magnífico, mas ele deixou de levar o futebol a sério aos 27 anos. Que insensatez, e como se arrependerá disso um dia.
O engraçado é que os brasileiros que obtiveram sucesso nos últimos anos de maneira sustentada e séria não são atacantes fantasiosos, mas defensores esforçados. Como Lúcio, Maicon, Daniel Alves. Ou Júlio César -por Deus, ele é goleiro! Não há brasileiro que mereça lugar na lista dos dez mais talentosos do mundo. O único a fazer parte da lista dos 20 indicados a melhor do mundo no ano passado foi Alves, que é o menos confiável e o menos refinado entre os 11 titulares do Barcelona.
Se você procura talento e criatividade no ataque, melhor pensar em Espanha (Iniesta, Xavi, Villa), Alemanha (Özil), Holanda (Robben) e Inglaterra (Rooney) antes de tentar o Brasil. A menos que Neymar prove seu talento. É triste e cruel dizê-lo, mas só saberemos quando essa tediosa novela acabar e ele cruzar o oceano para a Europa.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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