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FUTEBOL
Dono de mais de 100 mil votos em 98, presidente vascaíno tenta 3º mandato de deputado em péssima fase do clube
Eurico encara nas urnas legado de cartola
PAULO COBOS
DA REPORTAGEM LOCAL
"Eu peço voto para defender os
interesses do Vasco. Votaram em
mim. Repudiem meus eleitores.
Quando eu afirmo que sou deputado do Vasco, foram os eleitores
que me colocaram aqui. Sou muito mais representante do meu clube do que qualquer outra coisa."
Com uma plataforma simples,
defender os interesses de um time
de futebol, no caso o Vasco, Eurico Ângelo de Oliveira Miranda,
58, se elegeu duas vezes deputado
federal pelo Estado do Rio.
Hoje, o pepebista tenta um terceiro mandato, só que em um
momento bem diferente do vivido na última eleição.
Em 1998, quando era um vice
que mandava como presidente, o
seu time, cheio de astros, era campeão da Taça Libertadores, a
maior glória de toda a história
centenária do clube.
Finalmente presidente em 22 de
janeiro de 2001, quatro dias depois da conquista derradeira, a
Copa JH, Eurico viu o mesmo
Vasco abandonar seu período
mais frutífero em termos de títulos para entrar no mais absoluto
jejum. Já são nove campeonatos
seguidos de fracassos.
E, ao que tudo indica, o Brasileiro deste ano, em que o time cumpre campanha medíocre, deverá
ser o décimo. Em São Januário,
mais que a luta para estar entre os
oito melhores, a preocupação é
como sair do perigo do rebaixamento para a Série B.
Se tal desempenho influirá na
tentativa de reeleição amanhã, isso vai depender dos eleitores, vascaínos ou não. O fato é que Eurico
teve, há quatro anos, a sétima
maior votação para deputado federal no Rio, 105.969 votos, mais
que nomes famosos da política
fluminense de então, como o ex-militar Jair Bolsonaro e Roberto
Jefferson, líder do PTB.
Bem mais também que os quase
50 mil votos obtidos em 1994,
quando ganhou uma vaga na Câmara após recontagem em um
pleito conturbado, repleto de suspeitas de fraudes.
Nessa época, o Vasco se destacava apenas no Rio, onde acumulava três Estaduais consecutivos.
Em 1998, além da Libertadores, o
time ostentava o Brasileiro de
1997, conquistado com o atacante
Edmundo, e, não menos importante, caixa cheio -o clube vivia
o início da parceria com um grande banco norte-americano.
Com dinheiro sobrando, o Vasco não se consagrava apenas nos
campos de futebol, onde Eurico
dava cartas, mudava tabelas, "absolvia" jogadores.
Nos Jogos de Sydney-2000, por
exemplo, o clube era de alguma
forma responsável por 83 dos 204
competidores que compunham a
delegação brasileira na Austrália.
Um time de estrelas: do cavaleiro Rodrigo Pessoa ao iatista Robert Scheidt, da dupla Adriana
Behar/Shelda à equipe do revezamento 4 x 100 m -ao todo, gastos
de R$ 30 milhões, mais que o orçamento do próprio COB. Até Eurico foi à Olimpíada. "Prestigiar."
Trabalhando quase como um
mecenas, o dirigente ascendeu à
presidência após duas décadas
como vice de Antônio Soares Calçada. Ajuste hierárquico, ele sempre fora o homem-forte do clube.
De lá para cá, uma tragédia em
São Januário, uma violenta disputa com a TV Globo, o sumiço de
um cheque de US$ 110 mil da Sul-Americana, o fim litigioso da milionária parceria com o banco, as
CPIs do Congresso e até um pedido de cassação arquivado.
Em campo, uma derrota na final do Estadual do Rio, em 2001, e,
neste ano, apenas vexames, sem
chegar nem a uma semifinal em
quatro competições disputadas.
No Brasileiro, contabilizada a vitória de ontem sobre o Guarani,
são 15 jogos, oito derrotas e o fantasma da zona de rebaixamento.
Efeito imediato da falta de dinheiro, a debandada de craques, o
último deles Romário, hoje no rival Fluminense.
Legado incômodo para o mais
notável membro da "bancada da
bola", que será julgado hoje pelos
eleitores. Vascaínos ou não.
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