São Paulo, sexta-feira, 06 de novembro de 2009

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XICO SÁ

Conspiração Pompeia


As teorias que explicam o porquê de o Campeonato Brasileiro ter ficado tão emocionante na reta final


AMIGO TORCEDOR , amigo secador, uma das coisas mais sensacionais do futebol são as teorias das conspirações que correm soltas, Paulista ou na favela Bola na Rede, perto do Arruda, no Recife.
Claro que nem sempre são furadas, já acreditei em muitas e sempre ponho algumas fichas de viciado e místico diletante naquele velho adágio espanhol, sim, "yo no creo en brujas, pero que las hay, las hay".
Seu Lunga, um ex-vizinho da rua Santa Luzia, em Juazeiro do Norte, ainda hoje repete, atrás do balcão do seu Ferro-Velho: "É mais fácil eu acreditar que o homem foi à lua do que me desfazer da teoria da venda da Copa de 1998 para a França".
Famoso pela intransigência, personagem folclórico da cidade, Lunga junta qualquer conspiração atual com a aventura lunática da turma de Neil Armstrong. Sem essa de "um pequeno passo para um homem, um grande passo para a humanidade", como disse o astronauta.
A tese conspiratória desse Campeonato Brasileiro, em voga aqui na Vila Pompeia, é a de que a Sociedade Esportiva Palmeiras, o time da área, que andava bem à frente nos pontos corridos, fez um pacto com a TV Globo, proprietária dos direitos de transmissões dos jogos, para dar mais emoção à reta final do certame.
Do taxista ao barbeiro, dois grandes profissionais na arte das conspirações, sejam as do bairro ou as grandes questões da história, a unanimidade é esta. Besta é tu que tentas, como eu, enquanto aparo o bigode ou me arrasto qual um jabuti pelo trânsito, contrariá-los. Não adianta gastar a saliva ou o latim da sensatez com estes mestres.
Como toda teoria da conspiração, argumentos não faltam. No caso, repare o lastro explicativo: como a emissora não consegue mais resgatar o mata-mata, agora é obrigada a negociar com os clubes uma final de temporada emocionante.
Daí é um pulo para o festival nacional de teses conspiratórias. O cruzeirense, ainda engasgado com o tropeiro indigesto do Sobrenatural de Almeida disfarçado de garçom na serra do Rola Moça, vai achar mil desculpas para o mais épico atropelo de um clube este ano: a virada do Flu sobre o quadro azul em BH.
No final de semana, cutuca-me aqui o corvo Edgar, tem mais do mesmo tricolor, desta vez contra o Palmeiras, o mesmo da conspiração Pompeia que ainda está em voga.
"Os augúrios são os piores possíveis", diz a minha estimada e centenária ave. "Nunca vi uma boa estreia de um goleiro no Maraca", vislumbra sobre o menino que vai substituir ao São Marcos. "Aqueles 7 m de trave viram um Arco do Triunfo, o oco do universo, o buraco negro".
Conspirador qual um Noam Chomsky ludopédico, esqueça, amigo torcedor clorofilado, os palpites do rei do agouro. É que ele fez uma aliança tática com o seu primo pobre, o urubu dos Tristes Trópicos, e ainda aposta no Flamengo, ainda acredita no milagre. Sua segunda opção é o galo com quem promete um banquete com leitão à pururuca caso o Palestra fraqueje no seu samba de uma nota só, a tal da bola parada, obsessão muricystica. Do São Paulo, por mandiga e crendice particularíssima, o corvo prefere não se pronunciar no momento. Prepara em silêncio seus trabalhos contra o pecado da soberba.

xico.folha@uol.com.br

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