São Paulo, sábado, 07 de fevereiro de 2004

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Fenômeno, Kaká diz que será o melhor do mundo

Melhor jogador do futebol italiano na atualidade, atleta de 21 anos já fala em suceder Ronaldo

RODRIGO BUENO
DA REPORTAGEM LOCAL

"Uma hora vai chegar a minha vez!" A frase e o ponto de exclamação são de Kaká, 21, meia-atacante do Milan e sensação do futebol mundial, ao responder à Folha, por e-mail, se está pronto para ganhar a eleição de melhor jogador do mundo feita pela Fifa.
A maior revelação são-paulina dos últimos tempos estreou nesta temporada na Itália, virou titular do campeão europeu e, ao conduzir o Milan à liderança do Italiano, ofuscou algumas das maiores estrelas do planeta e é comparado a Platini, Van Basten, Rivera...
"Ser o melhor do mundo é o sonho de todo jogador. Tenho muito tempo para conquistar isso. No Brasil, há jogadores que podem receber esse título. O Ronaldo é sempre candidato, Roberto Carlos merece há muito tempo, o Rivaldo dará a volta por cima e pode ganhar de novo. Aqui no Milan vários podem receber o prêmio."
Pelos elogios que tem recebido no Milan do técnico Carlo Ancelotti, do presidente Silvio Belrusconi e de ex-ídolos, como Baresi, o prêmio de 2004 já será para ele.
"Comparar um atleta novo com craques do passado é comum. Admiro todos os jogadores com quem estão me comparando. Fico feliz em ser comparado com eles, mas meu caminho no futebol está no começo e tenho consciência de que preciso ir muito além para me tornar uma estrela como eles. Quero me firmar mais no Milan, conquistar de vez a torcida, ganhar muitos títulos e entrar para a história do clube e do futebol."
Kaká já faz frente em badalação aos "galácticos" do Real Madrid. "A fase do Ronaldo na Espanha é incrível. Ele é um fenômeno e já conquistou muita coisa no futebol. Ainda estou na minha primeira temporada aqui", diz Kaká.
Esperava-se que ele apenas pegasse experiência em sua temporada de estréia na Itália. Mas ele mal ficou no banco. Foram 17 jogos na Série A, 13 como titular.
"A cada mudança na vida ficamos sempre um pouco apreensivos, mas sempre estive seguro de que estava maduro o suficiente para encarar esse desafio. Sempre falei que, quando chegasse a hora de ir para Europa, eu estaria pronto. Graças a Deus isso aconteceu."

Vaias e família
Quando saiu do Brasil, Kaká sofria com as críticas e as vaias até de parte da torcida são-paulina.
"As vaias eram feitas por um grupo de torcedores que não representam a torcida do São Paulo, que sempre foi maravilhosa comigo. Sinto o carinho deles sempre que estou no Brasil e guardo todos os ótimos momentos que passei no São Paulo. Acompanho os jogos do Tricolor. É meu time do coração, além de eu ter muitos amigos que ainda estão lá. O que eu vivi no São Paulo em termos de cobrança foi muito importante para o meu crescimento profissional. Naquele momento não entendia o porquê [das vaias], mas hoje me sinto mais experiente e pronto para cobranças."
Na Itália, ficou quase todo tempo sozinho. Primeiro, em um hotel. Depois, em sua atual residência. "Sinto falta de muitas coisas. Da minha família, da namorada, dos amigos e até mesmo da comida de casa, apesar de não poder reclamar disso aqui na Itália. Eu cheguei bem preparado aqui e, quando falava isso no Brasil, muitos não acreditavam. Vim na hora certa. Cresci muito como profissional na Copa, vivi tempos difíceis no São Paulo com contusões e cobranças, fui capitão da seleção do Ricardo Gomes no Qatar e no México e, quando pintou a chance no Milan, mesmo jovem já tinha vivido muita coisa no futebol. Cheguei aqui sabendo que deveria me adaptar a muitas coisas diferentes do Brasil. Procurei fazê-las o mais rápido possível."
Kaká conta que sua meteórica ascensão não despertou inveja dos colegas e afirma ter amigos até na rival Inter. "Fui muito bem recebido aqui no Milan por todos. Não há inveja, mesmo por que todos aqui são reconhecidos mundialmente e sabem muito bem o seu valor. Tenho vários amigos aqui. Sempre estou com os outros brasileiros do Milan e da Inter [Adriano], jogo golfe com o Shevchenko. Sempre saio para jantar com um colega de clube. Já me sinto em casa aqui. Estou muito bem adaptado à Itália."
Nada, porém, como receber a família, o que acontecerá neste fim de semana. "Estão vindo para cá nos próximos dias e será importante ficar com eles. Minha namorada, sempre que pode, está aqui acompanhada da família dela, e isso também é ótimo para mim. Quem não gosta de ficar perto das pessoas que ama?"
Kaká diz sentir um felizardo por atuar em dois supertimes: Milan e seleção brasileira. "Jogar em time bom é sempre mais fácil e tanto o Milan quanto a seleção brasileira possuem craques e jogadores que fazem a diferença dentro de campo. Meu treinador [Ancelotti] é um ótimo profissional e muito do sucesso do Milan deve-se a ele."
Frustração mesmo só o fato de não poder ir ao Jogos de Atenas.
"Esperava ir à Olimpíada, mas tenho certeza de que quem esteve no Pré-Olímpico fez tudo para ganhar a vaga. Não acho justo culpar os jogadores, pois todos sabem das dificuldades que enfrentaram. O Ricardo Gomes é ótimo profissional, de caráter incrível. Perder é do jogo. Nem sempre há culpados para isso. O Brasil perdeu a vaga em 1992 e foi campeão mundial em 1994. Quem sabe em Pequim possa jogar sendo um dos atletas com mais de 23 anos?"


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