São Paulo, quarta-feira, 07 de março de 2001

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FUTEBOL

Jogo secreto

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

No último sábado, sentei-me diante da TV para assistir ao amistoso da seleção brasileira contra os EUA.
Mesmo que não fosse um colunista esportivo, não perderia um jogo da seleção, pelo hábito e prazer.
Pensei que as informações de que a partida não seria televisionada fossem brincadeira.
Não acreditei no que não vi. Nenhuma TV transmitiu o jogo. Nem o canal americano via satélite. No dia seguinte, certamente passaria o teipe. Nem isso! Incrível!
O fato simboliza o término da magia do futebol brasileiro?
Assisti pelo menos aos gols.
Disseram que o Brasil jogou mal e melhorou no segundo tempo, após a entrada do Ricardinho, do Edílson e do Euller, nos lugares do Vampeta, do Juninho e do Christian.
Somente o Leão e alguns fãs do jogador, no Rio Grande do Sul, acreditavam no sucesso do Christian na seleção.
O perigo era ele fazer um gol de placa, como já fez pelo Internacional, contra o Cruzeiro, e criar a ilusão de que o atacante seria uma solução.
Teríamos, ainda, que escutar o Leão dizer: ""Vocês não entendem de futebol".
Após a partida, o jornal americano ""Los Angeles Times" publicou que o futebol brasileiro e o norte-americano estão no mesmo nível.
Se fosse verdade, seria o real fundo do poço.
De qualquer maneira, isso pressupõe que o jogo deve ter sido muito ruim.
Numa entrevista ao Armando Nogueira, Leão disse: ""Serei implacável com o volante que se mete a fogueteiro. Agora, todo volante se manda para frente, ansioso por fazer gol, porque sabe que, no futebol, quem faz gol vale muito mais".
Evidentemente, ninguém quer ver os volantes abandonando a marcação no meio-campo.
Essa qualidade é fundamental e óbvia no sucesso de um time.
No entanto, a nova postura de alguns volantes foi o único avanço no futebol brasileiro dos últimos anos.
Ricardinho, Rochemback, Vampeta e o próprio Emerson, na Roma, destacam-se por essa qualidade.
No momento certo, avançam para finalizar ou participar do ataque. Por isso estão na seleção. Rochemback foi um dos destaques da seleção sub-20.
A grande virtude de uma equipe de futebol é a capacidade de surpreender. Isso fez a fama do futebol brasileiro.
Os volantes Zito, Clodoaldo e Falcão fizeram gols decisivos em Copas de Mundo.
Não adianta escalar muitos atacantes que só atacam e volantes que só defendem. Fica muito previsível.
Hoje, contra o México, o ataque brasileiro terá Rivaldo, Romário, Ronaldinho e Edílson.
Dará certo, se esses jogadores ocuparem funções e espaços diferentes.
Imaginem o ataque do Brasil, na Copa, com Ronaldinho avançado pela direita, Rivaldo pela esquerda e Romário e ou Ronaldo pelo meio.
Ainda tem a opção de um dos dois Juninhos vindo de trás, ou Djalminha.
Esses jogadores se completam. Rivaldo é um excepcional finalizador. Ronaldinho é muito inteligente e técnico. Ronaldo é veloz, habilidoso e faz gols. Um craque! Romário é a síntese de tudo isso.
No entanto, todos enfrentam problemas. Na seleção, Rivaldo não teve uma sequência de grandes partidas, como no Barcelona. Na equipe espanhola, Rivaldo brilha na ponta-esquerda, como queria o técnico Louis Van Gaal, ou pelo meio, como atua no momento.
Sua dificuldade na seleção não é de posicionamento. É de confiança. Talvez, não consiga dividir o estrelato com outros jogadores.
Ronaldinho está em fase de definição. Poderá se tornar um dos maiores jogadores do mundo, ou não passar de um excelente atleta.
Seu xará Ronaldo é uma incógnita. Certamente voltará a jogar, mas não se sabe se terá a mesma descontração e técnica.
Romário está com 35 anos. Sua presença na Copa, em forma, dependerá muito de seu desejo. Freqüentemente, grandes atletas que brilharam numa Copa ou numa Olimpíada, como o Pelé, Cruyff, Hortência e Paula, não arriscaram seu prestígio nas próximas competições desse nível. Quiseram parar por cima.
É compreensível!
Se Rivaldo, Romário, Ronaldo e Ronaldinho estiverem bem individualmente e entrosados, a seleção brasileira poderá ser a principal favorita ao título mundial.

Na final da Taça Guanabara, Roma mostrou novamente que tem grande habilidade.
Seu drible elástico, com a bola em movimento, foi sensacional.
Rivelino, pai desse tipo de drible, executava essa habilidade com a bola parada. Romário também. Com ela em movimento é muito mais difícil.
Se quiser ser um excepcional jogador e não apenas habilidoso, Roma terá que treinar muito, aprender e aprimorar os fundamentos básicos, como o passe e a finalização. Desenvolver a visão e antevisão das jogadas. Criatividade não se ensina, mas pode-se aprender a usá-la.
Aí, sim, Roma será um craque.

E-mail: tostao.folha@uol.com.br


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