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FUTEBOL
Jogo secreto
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
No último sábado, sentei-me diante da TV para assistir ao amistoso da seleção
brasileira contra os EUA.
Mesmo que não fosse um colunista esportivo, não perderia
um jogo da seleção, pelo hábito
e prazer.
Pensei que as informações de
que a partida não seria televisionada fossem brincadeira.
Não acreditei no que não vi.
Nenhuma TV transmitiu o jogo.
Nem o canal americano via satélite. No dia seguinte, certamente passaria o teipe. Nem isso! Incrível!
O fato simboliza o término da
magia do futebol brasileiro?
Assisti pelo menos aos gols.
Disseram que o Brasil jogou
mal e melhorou no segundo
tempo, após a entrada do Ricardinho, do Edílson e do Euller,
nos lugares do Vampeta, do Juninho e do Christian.
Somente o Leão e alguns fãs
do jogador, no Rio Grande do
Sul, acreditavam no sucesso do
Christian na seleção.
O perigo era ele fazer um gol
de placa, como já fez pelo Internacional, contra o Cruzeiro, e
criar a ilusão de que o atacante
seria uma solução.
Teríamos, ainda, que escutar
o Leão dizer: ""Vocês não entendem de futebol".
Após a partida, o jornal americano ""Los Angeles Times" publicou que o futebol brasileiro e
o norte-americano estão no
mesmo nível.
Se fosse verdade, seria o real
fundo do poço.
De qualquer maneira, isso
pressupõe que o jogo deve ter sido muito ruim.
Numa entrevista ao Armando
Nogueira, Leão disse: ""Serei implacável com o volante que se
mete a fogueteiro. Agora, todo
volante se manda para frente,
ansioso por fazer gol, porque sabe que, no futebol, quem faz gol
vale muito mais".
Evidentemente, ninguém quer
ver os volantes abandonando a
marcação no meio-campo.
Essa qualidade é fundamental
e óbvia no sucesso de um time.
No entanto, a nova postura de
alguns volantes foi o único
avanço no futebol brasileiro dos
últimos anos.
Ricardinho, Rochemback,
Vampeta e o próprio Emerson,
na Roma, destacam-se por essa
qualidade.
No momento certo, avançam
para finalizar ou participar do
ataque. Por isso estão na seleção. Rochemback foi um dos
destaques da seleção sub-20.
A grande virtude de uma
equipe de futebol é a capacidade
de surpreender. Isso fez a fama
do futebol brasileiro.
Os volantes Zito, Clodoaldo e
Falcão fizeram gols decisivos em
Copas de Mundo.
Não adianta escalar muitos
atacantes que só atacam e volantes que só defendem. Fica
muito previsível.
Hoje, contra o México, o ataque brasileiro terá Rivaldo, Romário, Ronaldinho e Edílson.
Dará certo, se esses jogadores
ocuparem funções e espaços diferentes.
Imaginem o ataque do Brasil,
na Copa, com Ronaldinho
avançado pela direita, Rivaldo
pela esquerda e Romário e ou
Ronaldo pelo meio.
Ainda tem a opção de um dos
dois Juninhos vindo de trás, ou
Djalminha.
Esses jogadores se completam.
Rivaldo é um excepcional finalizador. Ronaldinho é muito inteligente e técnico. Ronaldo é veloz, habilidoso e faz gols. Um
craque! Romário é a síntese de
tudo isso.
No entanto, todos enfrentam
problemas. Na seleção, Rivaldo
não teve uma sequência de
grandes partidas, como no Barcelona. Na equipe espanhola,
Rivaldo brilha na ponta-esquerda, como queria o técnico Louis
Van Gaal, ou pelo meio, como
atua no momento.
Sua dificuldade na seleção
não é de posicionamento. É de
confiança. Talvez, não consiga
dividir o estrelato com outros jogadores.
Ronaldinho está em fase de
definição. Poderá se tornar um
dos maiores jogadores do mundo, ou não passar de um excelente atleta.
Seu xará Ronaldo é uma incógnita. Certamente voltará a
jogar, mas não se sabe se terá a
mesma descontração e técnica.
Romário está com 35 anos.
Sua presença na Copa, em forma, dependerá muito de seu desejo. Freqüentemente, grandes
atletas que brilharam numa Copa ou numa Olimpíada, como o
Pelé, Cruyff, Hortência e Paula,
não arriscaram seu prestígio
nas próximas competições desse
nível. Quiseram parar por cima.
É compreensível!
Se Rivaldo, Romário, Ronaldo
e Ronaldinho estiverem bem individualmente e entrosados, a
seleção brasileira poderá ser a
principal favorita ao título
mundial.
Na final da Taça Guanabara,
Roma mostrou novamente que
tem grande habilidade.
Seu drible elástico, com a bola
em movimento, foi sensacional.
Rivelino, pai desse tipo de drible, executava essa habilidade
com a bola parada. Romário
também. Com ela em movimento é muito mais difícil.
Se quiser ser um excepcional
jogador e não apenas habilidoso, Roma terá que treinar muito, aprender e aprimorar os fundamentos básicos, como o passe
e a finalização. Desenvolver a
visão e antevisão das jogadas.
Criatividade não se ensina, mas
pode-se aprender a usá-la.
Aí, sim, Roma será um craque.
E-mail: tostao.folha@uol.com.br
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