São Paulo, quarta-feira, 07 de março de 2007

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TOSTÃO

Treinador de atacantes

O craque artilheiro não enrola. Domina e finaliza. Romário poderia ensinar isso a Jean, Valdívia, Renato Augusto...

P ARA SE FORMAR um bom time, um bom conjunto, é preciso, antes de tudo, trocar passes. Isso é básico.
A troca de passes pode ser mais cadenciada, com a intenção de manter a posse de bola, de não dar chances ao time adversário e de esperar o momento certo para chegar ao gol. Essa era uma característica do futebol brasileiro, que diminuiu com o tempo.
A outra maneira de trocar passes é procurar o gol com mais velocidade e menos toque de bola. Os europeus, principalmente os ingleses, jogam dessa forma.
Os dois estilos são bons. O ideal é uma mesma equipe atuar das duas formas, dependendo do jogo e das características dos jogadores. Péssimo é não trocar passes, de nenhuma forma, como ocorre com o Corinthians desde o início do Campeonato Paulista. Enquanto o time dava chutões e corria atrás da bola, o Palmeiras trocava passes e envolvia o arqui-rival.
Parece que o Palmeiras já tem um estilo para jogar contra os grandes. Precisa agora aprender a atuar em casa e contra os pequenos. O bom senso e a torcida pedem que a equipe pressione mais desde o início para tentar decidir logo o jogo. O Palmeiras poderá evoluir, mas o torcedor não pode se iludir com a fácil vitória sobre o Corinthians, uma equipe desorganizada.
Como Wendel joga de lateral, e não de ala como Paulo Baier, o Palmeiras não precisa ter três zagueiros e pode ter mais um jogador no meio-de-campo. Com isso, Martinez, que tem um bom passe, pode se juntar mais a Edmundo e a Valdívia para trocar passes, como fizeram muito bem contra o Corinthians.
Se o Palmeiras tivesse um atacante mais eficiente para o contra-ataque, Edmundo não cansasse no segundo tempo e Valdívia finalizasse melhor, poderia ter dado uma grande goleada no Corinthians. Assim como ocorre com tantos meias e atacantes em todo o mundo, o habilidoso e criativo Valdívia não sabe fazer gols. Se soubesse, seria um craque.
Para finalizar bem, é necessário não ter angústia no momento do chute, além de colocar o corpo na posição correta, com o pé de apoio ao lado e próximo da bola. Atacante nervoso e desequilibrado erra sempre a finalização. Após fazer os mil gols, Romário deveria se tornar um professor de fazer gols. Valdívia, Renato Augusto, do Flamengo, e Jean, do Corinthians, seriam seus primeiros alunos. Acho que nem Romário daria jeito no Jean.
Segundo o Google, o filósofo francês Voltaire disse que escrever bem é a arte de cortar palavras. Para ser um craque artilheiro, é necessário também a concisão e a economia de gestos. O craque artilheiro não enrola com a bola. Domina (às vezes nem é preciso) e finaliza, olhando para o goleiro. O craque artilheiro precisa ainda fugir do defensor, fintá-lo com o corpo sem tocar na bola e recebê-la livre, como fez Edmundo no terceiro gol do Palmeiras.
Não é a bola que procura o artilheiro, como dizem alguns narradores. A bola não enxerga. É o artilheiro que sabe, antes dos defensores, aonde a bola vai chegar. Como ele sabe? Sabendo. Existe um saber intuitivo e inconsciente que antecede ao raciocínio.

Decisão no Rio
Enquanto o Paulistão está ainda longe das partidas decisivas, o Cariocão, mais enxuto e com uma fórmula mais interessante para um campeonato estadual, terá hoje o campeão do primeiro turno (Taça Guanabara). Depois de duas vitórias seguidas sobre o Flamengo, o Madureira deixou de ser zebra. Seria favorito? Também não.

tostao.folha@uol.com.br


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