São Paulo, sábado, 07 de março de 2009

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Barrichello teve "medo de não voltar"

Brasileiro declara que está confiante no novo carro e que não quer correr somente para fazer número no grid da F-1

Piloto, que assinou contrato com a Brawn GP anteontem, volta a pilotar na terça-feira, em Barcelona, depois que o banco do carro ficar pronto

TATIANA CUNHA
DA REPORTAGEM LOCAL

Menos de 24 horas após ser anunciado oficialmente como piloto da Brawn GP, Rubens Barrichello teve um dia cheio. Não reclamou. Pelo contrário. Foram quatro meses de férias forçadas enquanto o piloto que mais GPs disputou na F-1 aguardava a definição sobre seu futuro e o da Honda, que, sem aviso, perdeu o apoio da montadora japonesa em dezembro e anunciou que, sem um comprador, não seguiria na categoria. Nesse período o piloto se dividiu entre o Brasil e os EUA, jogou golfe, fechou a boca e manteve a rotina de treinos e uma rígida dieta alimentar. A dica de que os dias de ócio haviam acabado só veio na semana passada, quando Ross Brawn lhe telefonou e pediu que ele viajasse à Inglaterra. O ex-diretor técnico do time havia acertado a compra da Honda e manteria a dupla dos últimos quatro anos: Barrichello, 36, e Jenson Button, 29. Depois de uma semana de trabalho na fábrica do time em Brackley, onde fez o molde para o banco de seu carro, ontem o brasileiro acompanhou o shakedown do BGP 001 em Silverstone pelas mãos de Button. De lá, voou para Mônaco, sua casa na Europa, para reorganizar a vida depois de tanto tempo afastado, pagar contas e fazer compras no supermercado, de onde falou à Folha, na primeira entrevista que concedeu como piloto da Brawn GP.

 

FOLHA - Como foi o primeiro dia da Brawn GP em Silverstone?
RUBENS BARRICHELLO
- Foi um dia bem tranquilo. Usamos a pista de 1.200 m, a Silverstone National. Na verdade, era só para verificar se nada estava vazando, se tudo estava certo com o motor... A gente dava cinco voltas e parava, dava outras cinco e parava mais uma vez. Saí de lá umas 15h e estava tudo bem.

FOLHA - E quando você vai voltar a se sentar num carro de F-1?
BARRICHELLO
- Na segunda-feira, o time treina em Barcelona, mas eu não vou poder andar ainda por uma razão muito simples. Meu banco ainda não está pronto, e hoje em dia você não pode testar com o de poliuretano porque, se acontece um acidente, eles te amarram e tiram com o banco. O meu só vai ficar pronto na terça, então eu ando terça e quinta e, em Jerez, domingo e metade da segunda.

FOLHA - Quando soube que a equipe ia sair do papel e você correria?
BARRICHELLO
- O contrato mesmo eu só assinei ontem [quinta-feira], mas eu já sabia desde quarta passada, que foi quando ele [Ross Brawn] me ligou e eu soube que estava indo [para a Europa] por uma boa razão.

FOLHA - Durante esse período, houve momento em que pensou que a F-1 tinha acabado para você?
BARRICHELLO
- Olha, tive quatro meses de férias em que deixei a emoção de lado, aprendi muita coisa e me mantive sempre positivo. Nem por isso deixei de ir atrás, porque meu objetivo era esse. Na verdade, era como se eu tivesse tido duas semanas de férias, porque eu queria era correr e sabia que tinha que ser eu mesmo. Às vezes acham que eu sou uma pessoa que quer dar desculpas, que sou chorão, então tive medo de não voltar e de não poder passar essa alegria para o carro e para as pistas. Mas meu contato com o Ross sempre foi bastante amplo, e ele sempre foi muito claro ao dizer que me queria, mesmo antes que a equipe virasse dele. Porque este não era o plano original. Ele queria um comprador, mas não conseguiu, então teve de comprar o time.

FOLHA - E nesse tempo todo conseguiu se manter em forma?
BARRICHELLO
- Perdi 5 kg e estou em melhor forma do que nunca. Nós, pilotos, geralmente malhamos muito forte até janeiro e depois a gente acaba segurando durante o ano. Só que desta vez foi diferente, porque malhei até março. Só parei de perder peso porque eu já estava mais forte que o necessário.

FOLHA - Você é um piloto muito experiente que agora vai ter de ajudar um time numa situação complicada. Isso é algo que motiva?
BARRICHELLO
- Já passei por muita coisa na minha carreira, muitos altos e baixos, e o que mais me motiva agora é que eu acredito que vamos ter um carro bastante competitivo. Aerodinamicamente ele nasceu muito bem, temos o mesmo motor que a McLaren, que é uma coisa que me deixa muito confiante. Acho que, diferentemente do ano passado, agora não vamos sofrer com velocidade. Não vamos ter o Kers [sistema que recupera a energia das freadas e a transforma em potência], mas eu acho que vamos ter um carro bem rápido.

FOLHA - Então esse tempo sem testar acabou não prejudicando o desenvolvimento do carro...
BARRICHELLO
- De maneira nenhuma. Desde dezembro a equipe sabia que teria motores Mercedes e trabalhou nisso.

FOLHA - Qual seu objetivo para o Mundial que começa no dia 29?
BARRICHELLO
- Quero ganhar. Não vou começar o ano fazendo número, correndo para chegar a 300 GPs [é o recordista da categoria, com 268 provas], nada disso. Eu quero muito me divertir, mas também mostrar para todo mundo por que lutei para chegar aonde cheguei.


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