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Barrichello teve "medo de não voltar"
Brasileiro declara que está confiante no novo carro e que não quer correr somente para fazer número no grid da F-1
Piloto, que assinou contrato com a Brawn GP anteontem, volta a pilotar na terça-feira, em Barcelona, depois que o banco do carro ficar pronto
TATIANA CUNHA
DA REPORTAGEM LOCAL
Menos de 24 horas após ser
anunciado oficialmente como
piloto da Brawn GP, Rubens
Barrichello teve um dia cheio.
Não reclamou. Pelo contrário.
Foram quatro meses de férias forçadas enquanto o piloto
que mais GPs disputou na F-1
aguardava a definição sobre seu
futuro e o da Honda, que, sem
aviso, perdeu o apoio da montadora japonesa em dezembro e
anunciou que, sem um comprador, não seguiria na categoria.
Nesse período o piloto se dividiu entre o Brasil e os EUA,
jogou golfe, fechou a boca e
manteve a rotina de treinos e
uma rígida dieta alimentar.
A dica de que os dias de ócio
haviam acabado só veio na semana passada, quando Ross
Brawn lhe telefonou e pediu
que ele viajasse à Inglaterra.
O ex-diretor técnico do time
havia acertado a compra da
Honda e manteria a dupla dos
últimos quatro anos: Barrichello, 36, e Jenson Button, 29.
Depois de uma semana de
trabalho na fábrica do time em
Brackley, onde fez o molde para
o banco de seu carro, ontem o
brasileiro acompanhou o shakedown do BGP 001 em Silverstone pelas mãos de Button.
De lá, voou para Mônaco, sua
casa na Europa, para reorganizar a vida depois de tanto tempo afastado, pagar contas e fazer compras no supermercado,
de onde falou à Folha, na primeira entrevista que concedeu
como piloto da Brawn GP.
FOLHA - Como foi o primeiro dia da
Brawn GP em Silverstone?
RUBENS BARRICHELLO - Foi um dia
bem tranquilo. Usamos a pista
de 1.200 m, a Silverstone National. Na verdade, era só para verificar se nada estava vazando,
se tudo estava certo com o motor... A gente dava cinco voltas e
parava, dava outras cinco e parava mais uma vez. Saí de lá
umas 15h e estava tudo bem.
FOLHA - E quando você vai voltar a
se sentar num carro de F-1?
BARRICHELLO - Na segunda-feira, o time treina em Barcelona,
mas eu não vou poder andar
ainda por uma razão muito
simples. Meu banco ainda não
está pronto, e hoje em dia você
não pode testar com o de poliuretano porque, se acontece um
acidente, eles te amarram e tiram com o banco. O meu só vai
ficar pronto na terça, então eu
ando terça e quinta e, em Jerez,
domingo e metade da segunda.
FOLHA - Quando soube que a equipe ia sair do papel e você correria?
BARRICHELLO - O contrato mesmo eu só assinei ontem [quinta-feira], mas eu já sabia desde
quarta passada, que foi quando
ele [Ross Brawn] me ligou e eu
soube que estava indo [para a
Europa] por uma boa razão.
FOLHA - Durante esse período,
houve momento em que pensou
que a F-1 tinha acabado para você?
BARRICHELLO - Olha, tive quatro
meses de férias em que deixei a
emoção de lado, aprendi muita
coisa e me mantive sempre positivo. Nem por isso deixei de ir
atrás, porque meu objetivo era
esse. Na verdade, era como se
eu tivesse tido duas semanas de
férias, porque eu queria era
correr e sabia que tinha que ser
eu mesmo. Às vezes acham que
eu sou uma pessoa que quer dar
desculpas, que sou chorão, então tive medo de não voltar e de
não poder passar essa alegria
para o carro e para as pistas.
Mas meu contato com o Ross
sempre foi bastante amplo, e
ele sempre foi muito claro ao
dizer que me queria, mesmo
antes que a equipe virasse dele.
Porque este não era o plano original. Ele queria um comprador, mas não conseguiu, então
teve de comprar o time.
FOLHA - E nesse tempo todo conseguiu se manter em forma?
BARRICHELLO - Perdi 5 kg e estou
em melhor forma do que nunca. Nós, pilotos, geralmente
malhamos muito forte até janeiro e depois a gente acaba segurando durante o ano. Só que
desta vez foi diferente, porque
malhei até março. Só parei de
perder peso porque eu já estava
mais forte que o necessário.
FOLHA - Você é um piloto muito
experiente que agora vai ter de ajudar um time numa situação complicada. Isso é algo que motiva?
BARRICHELLO - Já passei por
muita coisa na minha carreira,
muitos altos e baixos, e o que
mais me motiva agora é que eu
acredito que vamos ter um carro bastante competitivo. Aerodinamicamente ele nasceu
muito bem, temos o mesmo
motor que a McLaren, que é
uma coisa que me deixa muito
confiante. Acho que, diferentemente do ano passado, agora
não vamos sofrer com velocidade. Não vamos ter o Kers [sistema que recupera a energia das
freadas e a transforma em potência], mas eu acho que vamos
ter um carro bem rápido.
FOLHA - Então esse tempo sem testar acabou não prejudicando o desenvolvimento do carro...
BARRICHELLO - De maneira nenhuma. Desde dezembro a
equipe sabia que teria motores
Mercedes e trabalhou nisso.
FOLHA - Qual seu objetivo para o
Mundial que começa no dia 29?
BARRICHELLO - Quero ganhar.
Não vou começar o ano fazendo
número, correndo para chegar
a 300 GPs [é o recordista da categoria, com 268 provas], nada
disso. Eu quero muito me divertir, mas também mostrar
para todo mundo por que lutei
para chegar aonde cheguei.
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