São Paulo, sexta-feira, 07 de abril de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Contra inimigos, CBF abre sua campanha eleitoral

Na mesma semana, Teixeira acena com ajuda da seleção à reeleição de Lula e se encontra com Alckmin

JOSÉ ALBERTO BOMBIG
DO PAINEL

RODRIGO MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Preocupado com a possibilidade de os tucanos das CPIs que o investigaram voltarem ao Planalto, o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, nunca esteve tão próximo de Lula e do PT. Ao mesmo tempo, o cartola tenta se calçar para uma eventual derrota petista, conquistando parcela do PSDB para evitar a volta de seus inimigos dentro do partido.
Nesta semana, o cartola encontrou os principais postulantes ao Planalto na eleição deste ano, Lula e Geraldo Alckmin.
Na segunda-feira, prometeu ao presidente não pôr empecilhos para que o governo tenha acesso à seleção brasileira antes e depois da Copa da Alemanha.
Em conversas reservadas, Teixeira admitiu engajar a seleção, no ano de Copa, na campanha pela reeleição. Oficialmente, a CBF se recusa a comentar o assunto.
Na quarta-feira, o cartola se encontrou com Alckmin, quando iria se reunir com o governador de Minhas Gerais, Aécio Neves. A reunião foi patrocinada pelo mineiro, que tem relação próxima com o cartola.
Os três conversaram por alguns minutos no Palácio das Mangabeiras. A intenção de Teixeira é marcar encontro posterior com o presidenciável do PSDB, que não sabia da sua presença em Minas.
A articulação de Teixeira é motivada pelo temor de Silvio Torres (PSDB-SP) e Álvaro Dias (PSDB-PR), ex-relator e ex-presidente das CPIs da CBF/Nike e do Futebol, respectivamente. Ambos são candidatos ao Ministério do Esporte em um governo tucano.
A seu grupo de aliados, o cartola disse que fará tudo para impedir a atuação de ambos no governo.
As comissões devassaram o dirigente, a confederação e os clubes entre 2000 e 2001. A CPI do Futebol pediu o indiciamento ao Ministério Público, que tem dez inquéritos sobre o assunto.
O presidente da CBF recebeu informações de que Torres vai elaborar o programa de Alckmin para o esporte. O deputado nega.
Mas dirigentes da confederação acham que será mais fácil negociar com o ex-governador de São Paulo do que com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, com quem não tinha boa relação.
Mas a principal aposta de Teixeira é em Lula. E o cartola costuma patrocinar, legalmente, campanhas eleitorais e marcar amistosos da seleção em bases políticas de aliados.
Dois dos políticos que receberam doações da CBF, na eleição de 2002, os senadores Renan Calheiros (PMDB-AL) e Delcídio Amaral (PT-MT), ajudaram a aproximar Lula do cartola. Até meados de 2004, o presidente mantinha-se distante do cartola.
A relação começou na negociação do jogo da seleção no Haiti, que também teve como articulador o petista Mauro Marques, que é dirigente da Federação Paulista. Em junho de 2004, Teixeira foi recebido por Lula. Ao sair, afirmou que Lula tinha sido muito carinhoso. A partir daí, foram mais quatro encontros entre o chefe do governo e o da CBF.
Neste período, o governo editou uma medida provisória para fazer a Timemania, loteria que beneficia os clubes de futebol com renegociação de suas dívidas. Depois de passar pelo Congresso, o projeto de lei deve ser sancionado pelo governo nas próximas semanas, após aprovação de algumas emendas na Câmara.
O governo ainda tentou viabilizar um projeto legislativo que alterava a Lei Pelé, criando uma espécie de passe disfarçado, ao prever renovações automáticas de contrato. Ainda tirava direitos trabalhistas dos jogadores, uma das bandeiras da CBF.
Só advogados dos clubes e da confederação têm sido ouvidos pelo ministério para a legislação.
O ministro Agnelo Queiroz foi peça-chave neste processo. Tornou-se aliado dos clubes e da confederação. Até viajou com a seleção como chefe de delegação e recebeu uma medalha de campeão da Copa América.
Não foi o único da base do governo a viajar com a CBF. A confederação convidou petistas para um "vôo da alegria" com a seleção, que jogou com a Rússia, em Moscou, em março.
O presidente do PT paulista, Paulo Frateschi, que tem trânsito livre no Planalto, foi à Rússia. É do grupo de José Dirceu, outro interlocutor da CBF.


Texto Anterior: Painel FC
Próximo Texto: Técnico e atletas rejeitam uso político do time
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.