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Contra inimigos, CBF abre sua campanha eleitoral
Na mesma semana, Teixeira acena com ajuda da seleção à reeleição
de Lula e se encontra com Alckmin
JOSÉ ALBERTO BOMBIG
DO PAINEL
RODRIGO MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Preocupado com a possibilidade de os tucanos das CPIs que o
investigaram voltarem ao Planalto, o presidente da CBF, Ricardo
Teixeira, nunca esteve tão próximo de Lula e do PT. Ao mesmo
tempo, o cartola tenta se calçar
para uma eventual derrota petista, conquistando parcela do PSDB
para evitar a volta de seus inimigos dentro do partido.
Nesta semana, o cartola encontrou os principais postulantes ao
Planalto na eleição deste ano, Lula
e Geraldo Alckmin.
Na segunda-feira, prometeu ao
presidente não pôr empecilhos
para que o governo tenha acesso à
seleção brasileira antes e depois
da Copa da Alemanha.
Em conversas reservadas, Teixeira admitiu engajar a seleção,
no ano de Copa, na campanha pela reeleição. Oficialmente, a CBF
se recusa a comentar o assunto.
Na quarta-feira, o cartola se encontrou com Alckmin, quando
iria se reunir com o governador
de Minhas Gerais, Aécio Neves. A
reunião foi patrocinada pelo mineiro, que tem relação próxima
com o cartola.
Os três conversaram por alguns
minutos no Palácio das Mangabeiras. A intenção de Teixeira é
marcar encontro posterior com o
presidenciável do PSDB, que não
sabia da sua presença em Minas.
A articulação de Teixeira é motivada pelo temor de Silvio Torres
(PSDB-SP) e Álvaro Dias (PSDB-PR), ex-relator e ex-presidente
das CPIs da CBF/Nike e do Futebol, respectivamente. Ambos são
candidatos ao Ministério do Esporte em um governo tucano.
A seu grupo de aliados, o cartola
disse que fará tudo para impedir a
atuação de ambos no governo.
As comissões devassaram o dirigente, a confederação e os clubes entre 2000 e 2001. A CPI do
Futebol pediu o indiciamento ao
Ministério Público, que tem dez
inquéritos sobre o assunto.
O presidente da CBF recebeu informações de que Torres vai elaborar o programa de Alckmin para o esporte. O deputado nega.
Mas dirigentes da confederação
acham que será mais fácil negociar com o ex-governador de São
Paulo do que com o ex-presidente
Fernando Henrique Cardoso,
com quem não tinha boa relação.
Mas a principal aposta de Teixeira é em Lula. E o cartola costuma patrocinar, legalmente, campanhas eleitorais e marcar amistosos da seleção em bases políticas de aliados.
Dois dos políticos que receberam doações da CBF, na eleição
de 2002, os senadores Renan Calheiros (PMDB-AL) e Delcídio
Amaral (PT-MT), ajudaram a
aproximar Lula do cartola. Até
meados de 2004, o presidente
mantinha-se distante do cartola.
A relação começou na negociação do jogo da seleção no Haiti,
que também teve como articulador o petista Mauro Marques, que
é dirigente da Federação Paulista.
Em junho de 2004, Teixeira foi recebido por Lula. Ao sair, afirmou
que Lula tinha sido muito carinhoso. A partir daí, foram mais
quatro encontros entre o chefe do
governo e o da CBF.
Neste período, o governo editou
uma medida provisória para fazer
a Timemania, loteria que beneficia os clubes de futebol com renegociação de suas dívidas. Depois
de passar pelo Congresso, o projeto de lei deve ser sancionado pelo
governo nas próximas semanas,
após aprovação de algumas
emendas na Câmara.
O governo ainda tentou viabilizar um projeto legislativo que alterava a Lei Pelé, criando uma espécie de passe disfarçado, ao prever renovações automáticas de
contrato. Ainda tirava direitos
trabalhistas dos jogadores, uma
das bandeiras da CBF.
Só advogados dos clubes e da
confederação têm sido ouvidos
pelo ministério para a legislação.
O ministro Agnelo Queiroz foi
peça-chave neste processo. Tornou-se aliado dos clubes e da confederação. Até viajou com a seleção como chefe de delegação e recebeu uma medalha de campeão
da Copa América.
Não foi o único da base do governo a viajar com a CBF. A confederação convidou petistas para
um "vôo da alegria" com a seleção, que jogou com a Rússia, em
Moscou, em março.
O presidente do PT paulista,
Paulo Frateschi, que tem trânsito
livre no Planalto, foi à Rússia. É do
grupo de José Dirceu, outro interlocutor da CBF.
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