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FUTEBOL
Futebol, paixão e insânia
JUCA KFOURI
COLUNISTA DA FOLHA
O futebol mexe com tudo.
Com a alma, com o coração,
com a cabeça, com tudo.
Só não mexe com as nossas
"otoridades", passadas, presentes
e, provavelmente, futuras.
O que aconteceu na última
quinta-feira no Pacaembu e nas
imediações de São Januário foi
apenas mais uma cabal e inequívoca demonstração disso.
O tal "país do futebol" não é a
Bélgica nem a Índia, é a nossa famosa Belíndia. Na qual o andar
de cima e o de baixo são cúmplices, pelo menos e apenas, quando
o assunto é o ludopédio.
Excessos, diga-se, por causa da
paixão pelo futebol, acontecem
nas melhores cidades do planeta.
Mas, aqui, acontece sempre, às
vezes mais, às vezes menos, mas
sempre. Semanalmente.
Nosso futebol se transformou
aos poucos num espetáculo tão
deprimente que nem mesmo os
garotos-propagandas, que assolam a programação esportiva dos
domingos à noite na TV aberta,
merecem. Por mais que sejam co-responsáveis, ao participar, por
exemplo, de campanhas como a
da Nestlé que está no ar.
Levar a família aos estádios
uma ova, ora essa é muito boa.
Tratemos, isso sim, de deixá-la
bem longe, quanto mais melhor.
Quer coisa pior para um pai que
ensinou a seus filhos a paixão pela bola temer, hoje em dia, que
um dia um deles não volte ileso de
um estádio, seja porque lá esteve
para torcer ou para trabalhar?
O problema é grave e está, também, mais em cima.
Na absoluta falta de ação para
dar cabo aos insanos que promovem a violência na pele de torcedores, insuflados ainda pelo bestialógico provocador que encontra guarida na seara dinheirista
de tais comunicadores e na ânsia
pelos famosos 15 minutos de fama
das "otoridades" que deveriam,
porque são pagas por nós, contribuintes, achar as soluções.
Soluções que o mundo civilizado encontrou assim que a barbárie os atingiu, como a Inglaterra
nos anos 90.
Não parece incrível que no
chamado "país do futebol" não
tenhamos uma punição sumária
para os que se excedem em campo? Ao contrário, Brasília trama
para retirar da legislação as
penas que responsabilizam os
cartolas.
Mas esperar o que de quem?
Este Brasil tem gente capaz até
de desmoralizar a greve de fome!
Daí não surpreender a recente
declaração de Ronaldinho Gaúcho, que manifestou o desejo de
terminar sua carreira na Europa,
porque sabe o tamanho da bagunça em que vivemos.
Vem aí a Copa do Mundo, e o
Brasil vai parar para vê-la.
Não faltarão nem os políticos
oportunistas para celebrar a
grande integração nacional, nem
as análises bem-intencionadas
sobre a arte que nossos miscigenados atletas são capazes de tecer
para espanto do mundo.
Enquanto isso, no submundo
do futebol, os de sempre estarão
urdindo o próximo golpe, a próxima violência, até que o país complete mil anos de existência.
Alguns enriquecem, outros
morrem.
E nada muda.
Tristes trópicos.
Paixão
Diz a Regra 12 que o tiro livre direto será concedido se um jogador
cometer uma de seis faltas de maneira que o árbitro considere imprudente, temerária ou com uso de força excessiva. O pênalti do
meia palmeirense Cristian no lateral são-paulino Júnior continua dividindo opiniões. Esta coluna acha que houve, mas não tem dúvida
de que Cristian, mesmo atingindo antes a bola, foi imprudente e
usou força excessiva, tanto que atropelou Júnior. Negá-lo é sinal de
cega paixão.
Insânia
O Corinthians foi prejudicado pela arbitragem diante do River. Atribuir a eliminação aos erros, porém, já não é mais sinal de paixão, e
sim de insânia. A que levou aqueles malucos a fazer o que fizeram.
E-mail blogdojuca@uol.com.br
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