São Paulo, domingo, 07 de maio de 2006

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FUTEBOL

Futebol, paixão e insânia

JUCA KFOURI
COLUNISTA DA FOLHA

O futebol mexe com tudo. Com a alma, com o coração, com a cabeça, com tudo.
Só não mexe com as nossas "otoridades", passadas, presentes e, provavelmente, futuras.
O que aconteceu na última quinta-feira no Pacaembu e nas imediações de São Januário foi apenas mais uma cabal e inequívoca demonstração disso.
O tal "país do futebol" não é a Bélgica nem a Índia, é a nossa famosa Belíndia. Na qual o andar de cima e o de baixo são cúmplices, pelo menos e apenas, quando o assunto é o ludopédio.
Excessos, diga-se, por causa da paixão pelo futebol, acontecem nas melhores cidades do planeta.
Mas, aqui, acontece sempre, às vezes mais, às vezes menos, mas sempre. Semanalmente.
Nosso futebol se transformou aos poucos num espetáculo tão deprimente que nem mesmo os garotos-propagandas, que assolam a programação esportiva dos domingos à noite na TV aberta, merecem. Por mais que sejam co-responsáveis, ao participar, por exemplo, de campanhas como a da Nestlé que está no ar.
Levar a família aos estádios uma ova, ora essa é muito boa.
Tratemos, isso sim, de deixá-la bem longe, quanto mais melhor.
Quer coisa pior para um pai que ensinou a seus filhos a paixão pela bola temer, hoje em dia, que um dia um deles não volte ileso de um estádio, seja porque lá esteve para torcer ou para trabalhar?
O problema é grave e está, também, mais em cima.
Na absoluta falta de ação para dar cabo aos insanos que promovem a violência na pele de torcedores, insuflados ainda pelo bestialógico provocador que encontra guarida na seara dinheirista de tais comunicadores e na ânsia pelos famosos 15 minutos de fama das "otoridades" que deveriam, porque são pagas por nós, contribuintes, achar as soluções.
Soluções que o mundo civilizado encontrou assim que a barbárie os atingiu, como a Inglaterra nos anos 90.
Não parece incrível que no chamado "país do futebol" não tenhamos uma punição sumária para os que se excedem em campo? Ao contrário, Brasília trama para retirar da legislação as penas que responsabilizam os cartolas.
Mas esperar o que de quem?
Este Brasil tem gente capaz até de desmoralizar a greve de fome!
Daí não surpreender a recente declaração de Ronaldinho Gaúcho, que manifestou o desejo de terminar sua carreira na Europa, porque sabe o tamanho da bagunça em que vivemos.
Vem aí a Copa do Mundo, e o Brasil vai parar para vê-la.
Não faltarão nem os políticos oportunistas para celebrar a grande integração nacional, nem as análises bem-intencionadas sobre a arte que nossos miscigenados atletas são capazes de tecer para espanto do mundo.
Enquanto isso, no submundo do futebol, os de sempre estarão urdindo o próximo golpe, a próxima violência, até que o país complete mil anos de existência.
Alguns enriquecem, outros morrem.
E nada muda.
Tristes trópicos.

Paixão
Diz a Regra 12 que o tiro livre direto será concedido se um jogador cometer uma de seis faltas de maneira que o árbitro considere imprudente, temerária ou com uso de força excessiva. O pênalti do meia palmeirense Cristian no lateral são-paulino Júnior continua dividindo opiniões. Esta coluna acha que houve, mas não tem dúvida de que Cristian, mesmo atingindo antes a bola, foi imprudente e usou força excessiva, tanto que atropelou Júnior. Negá-lo é sinal de cega paixão.

Insânia
O Corinthians foi prejudicado pela arbitragem diante do River. Atribuir a eliminação aos erros, porém, já não é mais sinal de paixão, e sim de insânia. A que levou aqueles malucos a fazer o que fizeram.

E-mail blogdojuca@uol.com.br


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