São Paulo, domingo, 7 de junho de 1998

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Brasileiros utilizam tática desprezada por favoritos

Principais seleções da Copa, como Alemanha, Argentina, Itália e França, jogam com três zagueiros dos enviados a Ozoir-la-Ferrière

A seleção brasileira vai abrir a Copa do Mundo, na próxima quarta-feira, em Saint-Denis, contra a Escócia, com um sistema de jogo praticamente abandonado pela cúpula do futebol mundial.
Há quatro anos, nos EUA, a maioria das principais seleções do mundo atuava no sistema 4-4-2 (quatro jogadores de defesa, quatro de meio-campo e dois de ataque, respectivamente).
Nesse grupo, estavam incluídas as quatro seleções semifinalistas -Brasil, Itália, Suécia e Bulgária- mais Argentina, Romênia, Nigéria e Espanha.
As exceções, entre os times de primeira linha, eram a Alemanha, que jogava em esquema tático 5-3-2, e a Holanda, com um sistema 3-4-3.
Polonês
O sistema com três zagueiros foi criado pelo polonês Sepp Piontek, técnico da Dinamarca na Copa de 1986, no México.
Como a maioria das seleções atuava com dois atacantes, Piontek ponderou que bastavam três zagueiros para marcá-los.
Nesse sistema, os laterais tornam-se jogadores de meio-campo e são rebatizados de alas.
A Copa da França deve ser a consagração desse esquema de jogo. Com exceção do Brasil, todas as seleções consideradas favoritas -Inglaterra, Alemanha, Argentina, França e Itália- devem atuar com três jogadores na defesa, ou pelo menos prepararam uma alternativa de jogar assim.
A França adotou esse sistema de jogo no ano passado, após muita hesitação do técnico Aimé Jacquet. Thuram, Blanc e Desailly são os titulares.
Na Itália, o técnico Cesare Maldini já tinha optado pelo 3-5-2, quando seu principal zagueiro, Ciro Ferrara, da Juventus, quebrou a perna em março.
Maldini, então, voltou a utilizar o sistema 4-4-2 -mas deve mudar de novo.
Na Argentina, Daniel Passarella introduziu o 3-5-2 num momento de desespero, contra o Brasil, na Copa América de 1995.
O resultado foi um fracasso, mas o treinador insistiu, e agora seus jogadores já assimilaram bem o esquema. Contra o Brasil, Vivas e Ayala jogaram na marcação, e Sensini, na sobra.
O Brasil é a única exceção. A alteração tática introduzida pelo técnico Zagallo, o homem de ligação entre o meio-campo e o ataque, o "1" do esquema 4-3-1-2, não é nova (a Argentina já utiliza um "enganche" desde pelo menos meados dos anos 80).
Desde o ano passado, Zagallo, em praticamente toda entrevista sobre o sistema de jogo da seleção, ora mata, ora ressuscita o número "1". O sistema, na prática, não deu resultado.
Foram testados na função vários jogadores, como Giovanni, Leonardo, Juninho, Djalminha e Rivaldo, entre outros. O problema para Zagallo é que nenhum deles aprovou totalmente.
Ao longo dos quase quatro anos em que tem estado à frente da seleção brasileira, Zagallo jamais considerou a possibilidade de usar três defensores centrais.
O zagueiro Aldair, o mais experiente defensor da seleção, afirmou que o Brasil não pode adotar esse esquema sem ter treinado anteriormente.
Segundo o atacante Ronaldinho, o esquema 3-5-2 não é necessariamente melhor do que o 4-4-2.
"Mas, como eles mantêm um jogador na sobra, precisamos nos movimentar para tirar esse jogador da área."



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