São Paulo, sexta-feira, 07 de julho de 2006

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Inspirada na Copa de 82, Itália faz Fifa comemorar

Paolo Rossi, herói do título na Espanha 24 anos atrás, aponta semelhanças no ambiente atual na seleção com o da última conquista

Entidade vê seleção como símbolo do triunfo do futebol sobre manipulações


GUILHERME ROSEGUINI
ENVIADO ESPECIAL A DUISBURGO

RICARDO PERRONE
ENVIADO ESPECIAL A BERLIM

A associação vem do herói do último título, que está na Alemanha e acompanha a seleção italiana. "A atmosfera é igual. Há um espírito de luta que eu só havia visto naquele time. E existem também todas as coincidências", diz Paolo Rossi.
Ele se refere à equipe campeã da Copa em 1982. E relembra um script que parece se repetir integralmente. Fora de campo, escândalos de corrupção e rusgas com a imprensa. Nos gramados, um time que começa mal e depois decola graças à sua defesa aguerrida e ao seu ataque letal. No banco, um treinador que uniu seus comandados ao pregar o resguardo da dignidade de todo o país.
"Tudo o que ocorreu mexeu com os brios dos atletas. Como em 1982, o Mundial passou a valer mais que um título de futebol", afirma Rossi, artilheiro do certame de 24 anos atrás e hoje comentarista de TV.
Sua análise é encampada pelos jogadores do atual elenco e deixa esperançoso não apenas o torcedor italiano. Nos bastidores, quem comemora o sucesso da Azzurra é a Fifa.
Motivos não faltam. Pressionada antes da Copa a coibir problemas de manipulação de resultados que assolavam Brasil, Alemanha e Itália, a entidade anunciou a criação de um órgão para zelar pelos juízes e combater a corrupção.
Mesmo assim, não se livrou dos escândalos. Durante o torneio, precisou expulsar um membro de seu comitê executivo que vendia entradas da Copa no mercado negro. Também assistiu a atuações deprimentes de árbitros -um deles chegou a dar dois amarelos ao mesmo jogador sem expulsá-lo.
Os italianos, assim, funcionam quase como redentores, exemplos de que o futebol, no final, sempre vence. "É verdade que o que ocorreu na Itália foi um escândalo, mas os jogadores reagiram. Estou muito feliz de ver isso. O futebol é mais forte que tudo", disse Joseph Blatter, presidente da Fifa.
O discurso é ousado, já que o epílogo deste enredo ainda não foi escrito. "Se perdermos para a França, nada do que fizemos até aqui será lembrado", resume o zagueiro Materazzi.
Em 1982, o elenco teve um final feliz. O país chegou à Espanha denegrido por uma máfia da loteria esportiva, que envolvia atletas, dirigentes e juízes.
Empatou os três primeiros jogos, entrou em guerra com a imprensa. Enzo Bearzot, então técnico, juntou os cacos. Recuperou Rossi (seis gols no torneio), eliminou o Brasil de Telê Santana, e o time capitaneado pelo goleiro Dino Zoff ganhou a taça com um 3 a 1 sobre a então Alemanha Ocidental.
Hoje, na Itália, o alvoroço é provocado por esquemas criados para arranjar o placar de jogos e pode causar rebaixamento de clubes tradicionais como Juventus, Milan e Lazio.
O turbilhão aumentou quando, na primeira fase da Copa, a seleção não convenceu. Antes do confronto com a Austrália, o primeiro dos mata-matas, o treinador Marcello Lippi revoltou-se com as críticas da imprensa. Tentou até tirar um jornalista de uma entrevista.
Só que o grupo deslanchou, amparado por uma defesa que só levou um gol em seis jogos e por uma produção ofensiva intensa. Dez atletas marcaram os 11 gols, assegurando o melhor ataque do torneio ao lado do da Alemanha. "O povo italiano é assim, fica mais forte nas dificuldades", diz Sergio di Cesare, diretor de relações internacionais da federação italiana.
Alguns jogadores arriscam apontar o responsável pela reviravolta. "O Lippi nos fez acreditar que poderíamos chegar longe, e os problemas com os clubes nos deixaram com vontade de ganhar", diz Del Piero.


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