|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Inspirada na Copa de 82, Itália faz Fifa comemorar
Paolo Rossi, herói do título na Espanha 24 anos atrás, aponta semelhanças no ambiente atual na seleção com o da última conquista
Entidade vê seleção como símbolo do triunfo do futebol sobre manipulações
GUILHERME ROSEGUINI
ENVIADO ESPECIAL A DUISBURGO
RICARDO PERRONE
ENVIADO ESPECIAL A BERLIM
A associação vem do herói do
último título, que está na Alemanha e acompanha a seleção
italiana. "A atmosfera é igual.
Há um espírito de luta que eu
só havia visto naquele time. E
existem também todas as coincidências", diz Paolo Rossi.
Ele se refere à equipe campeã
da Copa em 1982. E relembra
um script que parece se repetir
integralmente. Fora de campo,
escândalos de corrupção e rusgas com a imprensa. Nos gramados, um time que começa
mal e depois decola graças à sua
defesa aguerrida e ao seu ataque letal. No banco, um treinador que uniu seus comandados
ao pregar o resguardo da dignidade de todo o país.
"Tudo o que ocorreu mexeu
com os brios dos atletas. Como
em 1982, o Mundial passou a
valer mais que um título de futebol", afirma Rossi, artilheiro
do certame de 24 anos atrás e
hoje comentarista de TV.
Sua análise é encampada pelos jogadores do atual elenco e
deixa esperançoso não apenas
o torcedor italiano. Nos bastidores, quem comemora o sucesso da Azzurra é a Fifa.
Motivos não faltam. Pressionada antes da Copa a coibir
problemas de manipulação de
resultados que assolavam Brasil, Alemanha e Itália, a entidade anunciou a criação de um órgão para zelar pelos juízes e
combater a corrupção.
Mesmo assim, não se livrou
dos escândalos. Durante o torneio, precisou expulsar um
membro de seu comitê executivo que vendia entradas da Copa
no mercado negro. Também
assistiu a atuações deprimentes de árbitros -um deles chegou a dar dois amarelos ao mesmo jogador sem expulsá-lo.
Os italianos, assim, funcionam quase como redentores,
exemplos de que o futebol, no
final, sempre vence. "É verdade
que o que ocorreu na Itália foi
um escândalo, mas os jogadores reagiram. Estou muito feliz
de ver isso. O futebol é mais forte que tudo", disse Joseph Blatter, presidente da Fifa.
O discurso é ousado, já que o
epílogo deste enredo ainda não
foi escrito. "Se perdermos para
a França, nada do que fizemos
até aqui será lembrado", resume o zagueiro Materazzi.
Em 1982, o elenco teve um final feliz. O país chegou à Espanha denegrido por uma máfia
da loteria esportiva, que envolvia atletas, dirigentes e juízes.
Empatou os três primeiros
jogos, entrou em guerra com a
imprensa. Enzo Bearzot, então
técnico, juntou os cacos. Recuperou Rossi (seis gols no torneio), eliminou o Brasil de Telê
Santana, e o time capitaneado
pelo goleiro Dino Zoff ganhou a
taça com um 3 a 1 sobre a então
Alemanha Ocidental.
Hoje, na Itália, o alvoroço é
provocado por esquemas criados para arranjar o placar de jogos e pode causar rebaixamento de clubes tradicionais como
Juventus, Milan e Lazio.
O turbilhão aumentou quando, na primeira fase da Copa, a
seleção não convenceu. Antes
do confronto com a Austrália, o
primeiro dos mata-matas, o
treinador Marcello Lippi revoltou-se com as críticas da imprensa. Tentou até tirar um jornalista de uma entrevista.
Só que o grupo deslanchou,
amparado por uma defesa que
só levou um gol em seis jogos e
por uma produção ofensiva intensa. Dez atletas marcaram os
11 gols, assegurando o melhor
ataque do torneio ao lado do da
Alemanha. "O povo italiano é
assim, fica mais forte nas dificuldades", diz Sergio di Cesare,
diretor de relações internacionais da federação italiana.
Alguns jogadores arriscam
apontar o responsável pela reviravolta. "O Lippi nos fez acreditar que poderíamos chegar
longe, e os problemas com os
clubes nos deixaram com vontade de ganhar", diz Del Piero.
Texto Anterior: Branco: Como queria, time não vestirá azul Próximo Texto: Vilão em 2000, Del Piero não quer vingança Índice
|