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Chávez leva o Mundial à Bolívia e gera crítica
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A LA PAZ
Fã do futebol argentino e do
brasileiro, o motorista boliviano Edwin Mamani, 30, estava
condenado a acompanhar os
jogos da Copa pelo rádio e a ver
só os gols nos noticiários televisivos. Até que, às vésperas do
pontapé inicial, o presidente da
Venezuela, Hugo Chávez, usou
seus petrodólares para comprar os direitos de transmissão
e presentear o canal estatal 7,
do aliado Evo Morales, em plena campanha eleitoral.
"Foi o governo que conseguiu a Copa para nós", diz Mamani, morador da cidade de El
Alto, que concentra a população mais pobre da região metropolitana de La Paz. "Mas não
teve influência na política", diz,
apesar de ter votado no domingo com os governistas para a escolha da nova Assembléia
Constituinte e no referendo sobre mais autonomia aos departamentos (Estados) do país. O
governo venceu os dois pleitos.
Os direitos foram comprados
pela gigante petroleira venezuelana PDVSA e anunciados
por Morales, um fanático por
futebol: iniciou a carreira política como dirigente de clube e,
na Presidência, criou um time
de futebol de assessores, que
joga em quase todas as cidades
do interior para as quais viaja,
no estilo locais x visitantes.
Por causa dos direitos de
uma TV a cabo, os jogos foram
exibidos com duas horas de
atraso nas grandes cidades,
com exceção do primeiro jogo e
das semifinais e finais. Na área
rural, a transmissão é ao vivo.
Apesar de ainda não operar
no país, a PDVSA fez campanha
para anunciar o pacote, com
outdoors espalhados pelo país,
onde se vêem fotos de ações sociais de Morales patrocinadas
pela Venezuela e o lema: "A
PDVSA está na Bolívia, toda a
Bolívia está na Copa".
A propaganda chavista, em
plena campanha eleitoral, provocou reação dos oposicionistas, que acusaram a Venezuela
de ingerência. "O que aconteceria no Brasil se viesse a Mittal
Steel [maior siderúrgica do
mundo] e, sem ser dona de nenhum caminhão no Brasil, gastasse US$ 100 milhões em publicidade para apoiar o governo? O que diriam, no Brasil, se o
Mundial de futebol de Ronaldinho fosse exibido só por cabo e
aí viesse a Mittal e comprasse
os direitos em troca de publicidade a favor de Geraldo Alckmin ou de outro candidato?",
disse o ex-presidente e líder da
oposição Jorge Quiroga. "Por
que os "bolivianitos" têm de
aceitar que esse senhor venha
nos dizer o que fazer? Vocês
não aceitariam. Porque somos
pequenos, temos de aceitar?"
O governo nega ação eleitoral
e diz que a PDVSA só viabilizou
a transmissão do Mundial.
Dentro de campo, a Bolívia não
vai à Copa desde 94.
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