São Paulo, sexta-feira, 07 de julho de 2006

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Chávez leva o Mundial à Bolívia e gera crítica

FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A LA PAZ

Fã do futebol argentino e do brasileiro, o motorista boliviano Edwin Mamani, 30, estava condenado a acompanhar os jogos da Copa pelo rádio e a ver só os gols nos noticiários televisivos. Até que, às vésperas do pontapé inicial, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, usou seus petrodólares para comprar os direitos de transmissão e presentear o canal estatal 7, do aliado Evo Morales, em plena campanha eleitoral.
"Foi o governo que conseguiu a Copa para nós", diz Mamani, morador da cidade de El Alto, que concentra a população mais pobre da região metropolitana de La Paz. "Mas não teve influência na política", diz, apesar de ter votado no domingo com os governistas para a escolha da nova Assembléia Constituinte e no referendo sobre mais autonomia aos departamentos (Estados) do país. O governo venceu os dois pleitos.
Os direitos foram comprados pela gigante petroleira venezuelana PDVSA e anunciados por Morales, um fanático por futebol: iniciou a carreira política como dirigente de clube e, na Presidência, criou um time de futebol de assessores, que joga em quase todas as cidades do interior para as quais viaja, no estilo locais x visitantes.
Por causa dos direitos de uma TV a cabo, os jogos foram exibidos com duas horas de atraso nas grandes cidades, com exceção do primeiro jogo e das semifinais e finais. Na área rural, a transmissão é ao vivo.
Apesar de ainda não operar no país, a PDVSA fez campanha para anunciar o pacote, com outdoors espalhados pelo país, onde se vêem fotos de ações sociais de Morales patrocinadas pela Venezuela e o lema: "A PDVSA está na Bolívia, toda a Bolívia está na Copa".
A propaganda chavista, em plena campanha eleitoral, provocou reação dos oposicionistas, que acusaram a Venezuela de ingerência. "O que aconteceria no Brasil se viesse a Mittal Steel [maior siderúrgica do mundo] e, sem ser dona de nenhum caminhão no Brasil, gastasse US$ 100 milhões em publicidade para apoiar o governo? O que diriam, no Brasil, se o Mundial de futebol de Ronaldinho fosse exibido só por cabo e aí viesse a Mittal e comprasse os direitos em troca de publicidade a favor de Geraldo Alckmin ou de outro candidato?", disse o ex-presidente e líder da oposição Jorge Quiroga. "Por que os "bolivianitos" têm de aceitar que esse senhor venha nos dizer o que fazer? Vocês não aceitariam. Porque somos pequenos, temos de aceitar?"
O governo nega ação eleitoral e diz que a PDVSA só viabilizou a transmissão do Mundial. Dentro de campo, a Bolívia não vai à Copa desde 94.


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