São Paulo, sexta-feira, 07 de julho de 2006

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Clóvis Rossi

Nem a eletrônica

CHEGA a ser engraçado ver o tratamento incrivelmente diferente que se dá à mesma partida ou a situações dessa partida conforme quem escreve é português ou francês (no caso, é óbvio, de França 1 x 0 Portugal).
O jornal esportivo "O Jogo" puxou para a capa uma foto de Cristiano Ronaldo chorando e tascou o título: "Roubaram o Puto". Puto, em português de Portugal, pode ser uma porção de coisas, menos o que você está pensando.
É uma alusão a um suposto pênalti sofrido por Cristiano Ronaldo, que teria sido empurrado por trás por Sagnol.
Já "Le Monde", do outro lado, prefere dizer que "o árbitro Jorge Larrionda não se deixou enganar pelos mergulhos grotescos de Cristiano Ronaldo".
Ou seja, se você vê a partida em Portugal, foi um roubo. Se você vê a mesmíssima partida na França, foi um mergulho grotesco. Pior: é bem possível que os dois lados tenham razão.
No primeiro momento, minha sensação foi a de que o jogador de Portugal dera um "mergulho grotesco". Como a TV portuguesa repetiu zilhões de vezes o lance, madrugada adentro, acabei ficando na dúvida.
Sagnol de fato aproxima primeiro uma das mãos do ombro de Cristiano Ronaldo, depois a outra. Mas a imagem não permite estabelecer com absoluta segurança se a mão do francês puxou o português ou apenas roçou nele. Ou talvez nem isso.
Esse lance, mais que qualquer outro, é a razão das reclamações de Luiz Felipe Scolari. Ele não discute (ninguém discute, aliás) que houve o pênalti de Ricardo Carvalho em Thierry Henry.
O que Scolari insinua é que, se um lance como Sagnol/Cristiano Ronaldo fosse na área de Portugal, o juiz teria também dado pênalti, porque a regra, segundo a teoria do treinador, é beneficiar os grandes contra os pequeninos.
Bem feitas as contas, começo a rever meu apoio ao uso da eletrônica para ajudar a apitar futebol. No lance que revoltou os portugueses, nem a eletrônica conseguiria estabelecer com 100% de certeza o que houve. Como é que ficaria, em um caso como esse?
PS: Além de humilhar o Brasil em campo, os franceses o fazem agora fora dele. Jogadores e mídia são unânimes em dizer que foi mais difícil bater Portugal que o Brasil.


crossi@uol.com.br

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