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Clóvis Rossi
Nem a eletrônica
CHEGA a ser engraçado ver o tratamento
incrivelmente diferente que se dá à mesma
partida ou a situações dessa partida conforme quem
escreve é português ou
francês (no caso, é óbvio, de
França 1 x 0 Portugal).
O jornal esportivo "O Jogo" puxou para a capa uma
foto de Cristiano Ronaldo
chorando e tascou o título:
"Roubaram o Puto". Puto,
em português de Portugal,
pode ser uma porção de
coisas, menos o que você
está pensando.
É uma alusão a um suposto pênalti sofrido por
Cristiano Ronaldo, que teria sido empurrado por trás
por Sagnol.
Já "Le Monde", do outro
lado, prefere dizer que "o
árbitro Jorge Larrionda
não se deixou enganar pelos mergulhos grotescos de
Cristiano Ronaldo".
Ou seja, se você vê a partida em Portugal, foi um
roubo. Se você vê a mesmíssima partida na França,
foi um mergulho grotesco.
Pior: é bem possível que
os dois lados tenham razão.
No primeiro momento,
minha sensação foi a de
que o jogador de Portugal
dera um "mergulho grotesco". Como a TV portuguesa
repetiu zilhões de vezes o
lance, madrugada adentro,
acabei ficando na dúvida.
Sagnol de fato aproxima
primeiro uma das mãos do
ombro de Cristiano Ronaldo, depois a outra.
Mas a imagem não permite estabelecer com absoluta segurança se a mão do
francês puxou o português
ou apenas roçou nele. Ou
talvez nem isso.
Esse lance, mais que
qualquer outro, é a razão
das reclamações de Luiz
Felipe Scolari. Ele não discute (ninguém discute,
aliás) que houve o pênalti
de Ricardo Carvalho em
Thierry Henry.
O que Scolari insinua é
que, se um lance como Sagnol/Cristiano Ronaldo fosse na área de Portugal, o
juiz teria também dado pênalti, porque a regra, segundo a teoria do treinador, é beneficiar os grandes
contra os pequeninos.
Bem feitas as contas, começo a rever meu apoio ao
uso da eletrônica para ajudar a apitar futebol. No lance que revoltou os portugueses, nem a eletrônica
conseguiria estabelecer
com 100% de certeza o que
houve. Como é que ficaria,
em um caso como esse?
PS: Além de humilhar o
Brasil em campo, os franceses o fazem agora fora
dele. Jogadores e mídia são
unânimes em dizer que foi
mais difícil bater Portugal
que o Brasil.
crossi@uol.com.br
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