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MOTOR
Sapos viram príncipes
JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
EDITOR-ADJUNTO DE ESPORTE
Os ingleses têm um papel
fundamental na F-1. O esporte é pensado, regido e manufaturado em uma espécie de cinturão que separa Londres de Silverstone. Da primeira, Bernie Ecclestone comanda a FOM. Da segunda, um pequeno feudo comanda há tempos uma estirpe
decadente, a de pilotos britânicos.
Como acontece na Olimpíada,
os pilotos da ilha defendem a
Grã-Bretanha. Para os anais e
para a FIA, Stewart e Clark não
são escoceses, são britânicos. Certamente alguém pode explicar
melhor isso, mas tenho a impressão de que apenas os esportes tradicionalmente disputados entre
as colônias, como futebol e rúgbi,
permitiram o desmembramento.
O automobilismo, por sua vez,
cresceu e se estabeleceu como
uma atividade internacional.
(Mais correto seria dizer européia, já que até hoje há por lá
quem não concorde com essa história de corridas "overseas", em
lugares exóticos como Brasil, Japão, Austrália, Bahrein e China.)
Ou seja, é até compreensível que
eles fossem unidos enfrentar a escumalha no continente, como
gostam de chamar o resto.
Igualmente compreensível é a
necessidade que têm de reafirmar
a importância da ilha no meio.
Quando fazem isso discutindo a
F-1 e cultivando seus verdadeiros
heróis, o fazem com propriedade.
O problema começa quando não
há motivos para tanto carnaval.
Um dos momentos mais constrangedores da última década foi
a glamourização de Damon Hill,
um piloto acessível, correto, pai
de família, mas apenas mediano
na pista. Foi campeão mundial, o
que não quer dizer muita coisa,
principalmente porque correu absolutamente sozinho. Seus adversários eram, digamos, dois estreantes -Villeneuve, vindo da
Indy, e Schumacher, no primeiro
e mais difícil ano de Ferrari.
A coisa mais sensacional que vi
Hill fazer em seu tempo de piloto,
por exemplo, aconteceu longe da
pista. Em uma manhã de sábado,
em um dos intervalos do treino,
conseguiu reunir os compatriotas,
à frente dos boxes da Williams,
para um minuto de silêncio em
homenagem à princesa Diana.
A FIA havia recusado alterar o
horário da sessão, que aconteceria no meio do funeral. Hill se revoltou e distribui um comunicado
pedindo a presença dos súditos,
minutos antes da classificação, na
garagem de sua equipe. Deu certo. Até Ecclestone compareceu.
Processo semelhante aconteceu
com outras esperanças britânicas,
como Coulthard e, mais recentemente, Button. Na falta de bons
resultados, porém, a saída foi forçar a barra. Fazer o quê?
Dou toda essa volta para tentar
mostrar a importância do que
aconteceu nesta semana. O fato
de a Williams anunciar Button
como reforço para 2005 é a notícia do ano por lá, muito mais que
o alemão. A estrela da BAR, após
um começo sem sal na própria
Williams, virou piloto de verdade
neste ano. Não à toa seu futuro
será disputado nos tribunais.
Um futuro que pode transformá-lo, quem sabe, no melhor britânico na F-1 desde Mansell ou
até mais que isso. E fazer jus a um
passado de heróis e glórias.
Sim, falta um Button por aqui.
Mais Button
David Richards afirmou ontem que é responsável "por 400 pessoas
que trabalharam incessantemente para dar a Jenson o carro que ele
tem hoje". É um excelente argumento para a imprensa, talvez nem
tanto nos tribunais. A disputa com a Williams deve durar meses.
Da Matta
Os japoneses queriam mantê-lo. Os alemães, que tocam o time na
Europa e fizeram a bobagem de contratar Ralf, não. A Toyota vai de
mal a pior. Difícil momento para ele, chance de uma vida para Zonta.
Até setembro
Por um esforço olímpico, a coluna só volta a circular após os Jogos ou
em edição extraordinária caso o cdf do alemão faça o dever de casa.
E-mail mariante@uol.com.br
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