São Paulo, sábado, 07 de agosto de 2004

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MOTOR

Sapos viram príncipes

JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
EDITOR-ADJUNTO DE ESPORTE

Os ingleses têm um papel fundamental na F-1. O esporte é pensado, regido e manufaturado em uma espécie de cinturão que separa Londres de Silverstone. Da primeira, Bernie Ecclestone comanda a FOM. Da segunda, um pequeno feudo comanda há tempos uma estirpe decadente, a de pilotos britânicos.
Como acontece na Olimpíada, os pilotos da ilha defendem a Grã-Bretanha. Para os anais e para a FIA, Stewart e Clark não são escoceses, são britânicos. Certamente alguém pode explicar melhor isso, mas tenho a impressão de que apenas os esportes tradicionalmente disputados entre as colônias, como futebol e rúgbi, permitiram o desmembramento.
O automobilismo, por sua vez, cresceu e se estabeleceu como uma atividade internacional. (Mais correto seria dizer européia, já que até hoje há por lá quem não concorde com essa história de corridas "overseas", em lugares exóticos como Brasil, Japão, Austrália, Bahrein e China.) Ou seja, é até compreensível que eles fossem unidos enfrentar a escumalha no continente, como gostam de chamar o resto.
Igualmente compreensível é a necessidade que têm de reafirmar a importância da ilha no meio. Quando fazem isso discutindo a F-1 e cultivando seus verdadeiros heróis, o fazem com propriedade. O problema começa quando não há motivos para tanto carnaval.
Um dos momentos mais constrangedores da última década foi a glamourização de Damon Hill, um piloto acessível, correto, pai de família, mas apenas mediano na pista. Foi campeão mundial, o que não quer dizer muita coisa, principalmente porque correu absolutamente sozinho. Seus adversários eram, digamos, dois estreantes -Villeneuve, vindo da Indy, e Schumacher, no primeiro e mais difícil ano de Ferrari.
A coisa mais sensacional que vi Hill fazer em seu tempo de piloto, por exemplo, aconteceu longe da pista. Em uma manhã de sábado, em um dos intervalos do treino, conseguiu reunir os compatriotas, à frente dos boxes da Williams, para um minuto de silêncio em homenagem à princesa Diana.
A FIA havia recusado alterar o horário da sessão, que aconteceria no meio do funeral. Hill se revoltou e distribui um comunicado pedindo a presença dos súditos, minutos antes da classificação, na garagem de sua equipe. Deu certo. Até Ecclestone compareceu.
Processo semelhante aconteceu com outras esperanças britânicas, como Coulthard e, mais recentemente, Button. Na falta de bons resultados, porém, a saída foi forçar a barra. Fazer o quê?
Dou toda essa volta para tentar mostrar a importância do que aconteceu nesta semana. O fato de a Williams anunciar Button como reforço para 2005 é a notícia do ano por lá, muito mais que o alemão. A estrela da BAR, após um começo sem sal na própria Williams, virou piloto de verdade neste ano. Não à toa seu futuro será disputado nos tribunais.
Um futuro que pode transformá-lo, quem sabe, no melhor britânico na F-1 desde Mansell ou até mais que isso. E fazer jus a um passado de heróis e glórias.
Sim, falta um Button por aqui.

Mais Button
David Richards afirmou ontem que é responsável "por 400 pessoas que trabalharam incessantemente para dar a Jenson o carro que ele tem hoje". É um excelente argumento para a imprensa, talvez nem tanto nos tribunais. A disputa com a Williams deve durar meses.

Da Matta
Os japoneses queriam mantê-lo. Os alemães, que tocam o time na Europa e fizeram a bobagem de contratar Ralf, não. A Toyota vai de mal a pior. Difícil momento para ele, chance de uma vida para Zonta.

Até setembro
Por um esforço olímpico, a coluna só volta a circular após os Jogos ou em edição extraordinária caso o cdf do alemão faça o dever de casa.

E-mail mariante@uol.com.br


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