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ESPORTES RADICAIS
X-Games expõem fosso entre ganhos bilionários de empresas e desunião dos atletas da contracultura
Rebeldes encaram sua crise de identidade
JERE LONGMAN
MATT HIGGINS
DO "NEW YORK TIMES'
O bolo dos esportes de ação
cresceu muito, mas a desorganização dos praticantes estimula
que seja mal dividido. Hoje as
modalidades movimentam entre
US$ 8 bilhões e US$ 10 bilhões
anuais. Mas, sem um consenso
entre os atletas, uma ou duas dúzias são milionários, enquanto vários sofrem pela falta de estrutura.
Isso gera uma insatisfação crescente entre praticantes de modalidades radicais, para os quais não
há dinheiro suficiente chegando a
quem se arrisca nas manobras, especialmente àqueles que integram o segundo escalão.
Enquanto esses atletas tentam
exercer mais influência na indústria, há quem tema pelo surgimento de problemas convencionais, como os que afetam ligas
mais antigas dos EUA.
Até agora, cerca de 90 praticantes de skate, bicicross e modalidades de motociclismo se associaram na chamada Pro Riders Organization (PRO), uma entidade
que surgiu há dois anos. Os objetivos do grupo incluem uma distribuição mais ampla dos prêmios
em dinheiro, divisão da receita
com as emissoras de TV, acordos
de licenciamento, aumento da influência na elaboração das pistas
(com ênfase na segurança) e seguro, que, estima-se, metade dos
atletas não têm.
"Esses competidores querem
manter a aura de membros da
contracultura, para seguirem
atraindo sua geração. Ao mesmo
tempo, querem proteção e benefícios conferidos aos esportes mais
antigos, que têm sindicatos por
anos", diz Ellen Zavian, advogada
que ensina gestão do esporte na
Universidade George Washington e que trabalhou para o sindicato dos jogadores da NFL (a liga
profissional de futebol americano
dos EUA) e representou skatistas.
O aumento da preocupação dos
competidores surge enquanto o
skate e o bicicross tentam seguir o
snowboard nas Olimpíadas radicais, quando as modalidades de
ação ganham espaço na TV dos
EUA. Desde a última quinta até
hoje, quando acabam os X-Games, que acontecem em Los Angeles, a competição teve 18 horas
de transmissão diária nos EUA.
Hoje há pouca dúvida a respeito
da popularidade dos que já foram
chamados de "esportes alternativos". A associação norte-americana de manufaturas desportivas
aponta que 2,6 milhões de pessoas
andam regularmente de skate nos
EUA, tanto quanto o número de
crianças e adultos que jogam beisebol, tido como o passatempo
número um da família americana.
Hoje, quase todos que praticam
beisebol -seja nas ligas menores,
seja em competições estudantis- têm a cobertura de algum tipo de seguro.
"Nós não temos plano de aposentadoria nem seguro, enfim,
nenhum benefício. É isso o que
tentamos alcançar", diz o skatista
Omar Hassan, 31. Ele vai além:
"Com os patrocinadores despejando todo esse dinheiro, os que
estão no topo vivem gordos como
porcos. Os que estão atrás, que se
quebram, acabam sem nada".
A maior dificuldade na organização dos atletas, segundo especialistas do mercado dos esportes
radicais, é superar a natureza de
não-conformismo dos praticantes, que preferem liberdade e expressão individual a estruturas rígidas. "Eles estão em uma posição
para avançar muito, mas a tarefa
seria tão onerosa quanto domesticar gatos", diz Kevin O'Grady, diretor de esportes de ação de uma
emissora dos EUA que mostra
competições de ação.
Andy Macdonald, 32, um dos
skatistas de destaque entre os
membros da associação, explica:
"Estamos em constante batalha
com a idéia de que a razão por que
praticamos esses esportes é que
não queremos ser organizados".
Por outro lado, há quem deseje
ser mais seriamente considerado
pelo mercado, para conseguirem
contratos mais expressivos, de
acordo com Tony Magnusson, diretor-executivo de skate da PRO.
Segundo a revista "Forbes", o
skatista aposentado Tony Hawk
foi responsável pela geração de
US$ 300 milhões (o equivalente a
R$ 690 milhões).
Um exemplo da força da união
dos atletas de ação foi visto nos X-Games de 2001, na Filadélfia,
quando skatistas ameaçaram um
boicote pela manutenção de seus
direitos de imagem quando os organizadores pretendiam produzir
um filme do evento.
Mas os praticantes se questionam se seriam capazes de organizar uma força coletiva suficiente
para outro boicote ou para formar uma organização de atletas.
"Seria legal se conseguíssemos
boicotar. Mas eles sabem que somos skatistas e que precisamos
ganhar o que pudermos, enquanto formos capazes", finaliza
Jimmy Marcus, 31.
NA TV - X-Games, ao vivo, às 16h, na ESPN Brasil
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