São Paulo, domingo, 07 de agosto de 2005

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ESPORTES RADICAIS

X-Games expõem fosso entre ganhos bilionários de empresas e desunião dos atletas da contracultura

Rebeldes encaram sua crise de identidade

JERE LONGMAN
MATT HIGGINS
DO "NEW YORK TIMES'

O bolo dos esportes de ação cresceu muito, mas a desorganização dos praticantes estimula que seja mal dividido. Hoje as modalidades movimentam entre US$ 8 bilhões e US$ 10 bilhões anuais. Mas, sem um consenso entre os atletas, uma ou duas dúzias são milionários, enquanto vários sofrem pela falta de estrutura.
Isso gera uma insatisfação crescente entre praticantes de modalidades radicais, para os quais não há dinheiro suficiente chegando a quem se arrisca nas manobras, especialmente àqueles que integram o segundo escalão.
Enquanto esses atletas tentam exercer mais influência na indústria, há quem tema pelo surgimento de problemas convencionais, como os que afetam ligas mais antigas dos EUA.
Até agora, cerca de 90 praticantes de skate, bicicross e modalidades de motociclismo se associaram na chamada Pro Riders Organization (PRO), uma entidade que surgiu há dois anos. Os objetivos do grupo incluem uma distribuição mais ampla dos prêmios em dinheiro, divisão da receita com as emissoras de TV, acordos de licenciamento, aumento da influência na elaboração das pistas (com ênfase na segurança) e seguro, que, estima-se, metade dos atletas não têm.
"Esses competidores querem manter a aura de membros da contracultura, para seguirem atraindo sua geração. Ao mesmo tempo, querem proteção e benefícios conferidos aos esportes mais antigos, que têm sindicatos por anos", diz Ellen Zavian, advogada que ensina gestão do esporte na Universidade George Washington e que trabalhou para o sindicato dos jogadores da NFL (a liga profissional de futebol americano dos EUA) e representou skatistas.
O aumento da preocupação dos competidores surge enquanto o skate e o bicicross tentam seguir o snowboard nas Olimpíadas radicais, quando as modalidades de ação ganham espaço na TV dos EUA. Desde a última quinta até hoje, quando acabam os X-Games, que acontecem em Los Angeles, a competição teve 18 horas de transmissão diária nos EUA.
Hoje há pouca dúvida a respeito da popularidade dos que já foram chamados de "esportes alternativos". A associação norte-americana de manufaturas desportivas aponta que 2,6 milhões de pessoas andam regularmente de skate nos EUA, tanto quanto o número de crianças e adultos que jogam beisebol, tido como o passatempo número um da família americana.
Hoje, quase todos que praticam beisebol -seja nas ligas menores, seja em competições estudantis- têm a cobertura de algum tipo de seguro.
"Nós não temos plano de aposentadoria nem seguro, enfim, nenhum benefício. É isso o que tentamos alcançar", diz o skatista Omar Hassan, 31. Ele vai além: "Com os patrocinadores despejando todo esse dinheiro, os que estão no topo vivem gordos como porcos. Os que estão atrás, que se quebram, acabam sem nada".
A maior dificuldade na organização dos atletas, segundo especialistas do mercado dos esportes radicais, é superar a natureza de não-conformismo dos praticantes, que preferem liberdade e expressão individual a estruturas rígidas. "Eles estão em uma posição para avançar muito, mas a tarefa seria tão onerosa quanto domesticar gatos", diz Kevin O'Grady, diretor de esportes de ação de uma emissora dos EUA que mostra competições de ação.
Andy Macdonald, 32, um dos skatistas de destaque entre os membros da associação, explica: "Estamos em constante batalha com a idéia de que a razão por que praticamos esses esportes é que não queremos ser organizados".
Por outro lado, há quem deseje ser mais seriamente considerado pelo mercado, para conseguirem contratos mais expressivos, de acordo com Tony Magnusson, diretor-executivo de skate da PRO.
Segundo a revista "Forbes", o skatista aposentado Tony Hawk foi responsável pela geração de US$ 300 milhões (o equivalente a R$ 690 milhões).
Um exemplo da força da união dos atletas de ação foi visto nos X-Games de 2001, na Filadélfia, quando skatistas ameaçaram um boicote pela manutenção de seus direitos de imagem quando os organizadores pretendiam produzir um filme do evento.
Mas os praticantes se questionam se seriam capazes de organizar uma força coletiva suficiente para outro boicote ou para formar uma organização de atletas.
"Seria legal se conseguíssemos boicotar. Mas eles sabem que somos skatistas e que precisamos ganhar o que pudermos, enquanto formos capazes", finaliza Jimmy Marcus, 31.


NA TV - X-Games, ao vivo, às 16h, na ESPN Brasil

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