São Paulo, quinta-feira, 07 de agosto de 2008

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JUCA KFOURI

O começo do fim do império


A decisão da CAS abre novo precedente para impor limites ao poder desmedido e à arrogância da Fifa

LÁ SE vão 13 anos da decisão da Corte de Justiça da Comunidade Européia que deu ganho de causa a um humilde jogador de futebol belga chamado Jean-Marc Bosman, que apenas queria escolher para que clube trabalharia depois de encerrado seu contrato com o patrão anterior.
Bosman ganhou a parada e acabou com o passe, aquele instrumento escravagista que mantinha o trabalhador vinculado ao empregador mesmo após ter cumprido seu contrato de trabalho.
O que ficou conhecido mundialmente como "Caso Bosman" não demorou a ultrapassar as fronteiras mais civilizadas da Comunidade Européia e, imagine, até ao Brasil chegou, para horror dos retrógrados e dos corruptos.
A decisão de ontem da Corte de Arbitragem do Esporte que acatou o pedido de Werder Bremen, Schalke 04 e Barcelona, empregadores dos brasileiros Diego, Rafinha e do argentino Messi, pode ter o mesmo significado. Os clubes queriam seus profissionais em seus locais de trabalho, e não na China, porque o torneio de futebol olímpico não faz parte do calendário oficial da Fifa.
A reação da Fifa ao descer de sua tradicional arrogância arbitrária e apelar aos espírito olímpico dos clubes fala por si só. Tudo o que a Fifa não quer é ver seu poder discutido em cortes judiciais porque, invariavelmente, perderá.
Como perderam todos aqueles que, aqui mesmo no Brasil, foram acionados na Justiça do Trabalho por atletas ainda na vigência da Lei do Passe, simplesmente por ser tal monstruosidade inconstitucional.
Ocorre que as Fifa e CBF da vida proíbem que seus filiados recorram à Justiça comum antes que se esgotem as instâncias da Justiça Esportiva (aqui com maiúsculas em homenagem à CAS). E, de fato, retaliam os que recorrem mesmo depois que tais etapas se esgotem.
Pois eis que a decisão de ontem fere de morte não só o futebol olímpico, um peixe fora d'água, mas, quem sabe, até mesmo outras datas Fifa, escolhidas sempre ao bel prazer do império instalado na Suíça.
Relembre-se de que, em 1990, a Fifa ameaçou punir a CBF e suspender a participação brasileira na Copa da Itália porque o Flamengo havia acionado a entidade na Justiça comum. Ou o Flamengo retirava a ação ou o Brasil ficaria fora.
A ameaça não foi levada a sério e, ao contrário, o antigo Márcio Braga anunciou que iria à Corte Internacional de Haia contra a Fifa. Que recuou e, rabo entre as pernas, pediu que CBF e clube se entendessem. A Fifa sabe melhor do que ninguém que, se, por um lado, a decisão do CAS favorece seu interesse em acabar com o futebol de campo nos Jogos Olímpicos (quem sabe para abrir portas ao futebol de areia e ao futsal), por outro, bota em risco sua jóia da coroa, a Copa do Mundo.
Não são poucos os clubes europeus que contestam o poder da Fifa em fixar como devam ser as eliminatórias, o calendário das copas continentais, as Copas do Mundo sub isso ou sub aquilo, enfim, que estão cansados de botar azeitonas e por elas pagar nas empadas fifais.
Agora, podem começar a contestar também tais poderes. Um dia a novidade chegará aqui, e a CBF tremerá. Um dia...

blogdojuca@uol.com.br



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