São Paulo, sexta-feira, 07 de agosto de 2009

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Esquema de doping pode até pôr técnico na prisão

Ao confessar ter dado EPO a atletas, treinador se expõe a investigação criminal

Segundo o Código Penal, Jayme Netto Jr. tem chance de ser condenado por colocar em risco a saúde de outras pessoas, no caso, seus pupilos

JOSÉ EDUARDO MARTINS
MARIANA BASTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Não é somente na esfera esportiva que o técnico Jayme Netto Jr., pivô do maior caso de doping do atletismo brasileiro, pode ser julgado.
Após ter confessado que ministrou doses de EPO (eritropoietina) a seus atletas, o treinador pode ser exposto a um outro processo e corre até o risco de ser condenado à prisão.
Jayme declarou anteontem que injetou a substância proibida sem o conhecimento de seus pupilos. Nos casos mais graves, o uso de EPO, que aumenta a produção de glóbulos vermelhos no sangue, pode resultar na morte da pessoa.
Se o esportista suar muito e se desidratar, o sangue tende a ficar pastoso, o que compromete a circulação sanguínea.
Como a aplicação de EPO expõe a vida ou a saúde de outrem a perigo direto ou iminente, o técnico teria violado o artigo 132 do Código Penal. Se for condenado por isso, Jayme pode ser punido com detenção de três meses a um ano.
O técnico, que não possui habilitação para prescrever medicamento controlado -a EPO é indicada para pessoas com deficiências renais-, ainda pode ter de responder à lei de contravenções penais. Segundo o artigo 47, exercer profissão sem preencher as condições a que por lei está subordinado o seu exercício pode render prisão de até três meses ou multa.
Caso venha a ser comprovada a participação do fisiologista Pedro Balikian e do assistente técnico Inaldo Sena, ambos também podem ser responsabilizados criminalmente.
Por ora, no entanto, o escândalo de doping ficará restrito ao terreno esportivo. De acordo com a legislação dessa área, o caso só vai ser encaminhado à autoridade competente e ao Ministério Público após ser julgado no Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD).
Atualmente, além de serem alvo de uma sindicância da Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt), Jayme e Sena estão sujeitos a perder a habilitação profissional.
O Conselho de Educação Física de São Paulo confirmou o inquérito, que será realizado após o anúncio do veredicto da CBAt. "Os dois [Jayme e Sena] serão enquadrados pelo código de ética e logicamente serão punidos", disse Flavio Delmanto, presidente do conselho.
Jayme e Balikian ainda são alvo de investigação da Unesp. O técnico é professor do Departamento de Fisioterapia da universidade. O fisiologista, que ainda não se pronunciou publicamente, coordena o Laboratório de Fisiologia do Exercício.
Mesmo após ter confessado a participação direta no esquema que resultou em cinco casos de doping, Jayme não foi afastado pela universidade pública.
De acordo com a assessoria de imprensa da Unesp, será aberta uma sindicância na próxima semana, que deve ser composta por quatro ou cinco professores com título superior ao dos investigados.
Em até um mês, a decisão deve sair, com a possibilidade de ambos perderem o direito de dar aulas na universidade.
Ontem, os atletas Jorge Célio da Rocha Sena, Bruno Lins Tenório de Barros e Lucimara Silvestre da Silva abriram mão da análise da contraprova dos exames antidoping e foram suspensos pela confederação brasileira por dois anos, em conformidade com o regulamento da Iaaf, a entidade que gerencia o atletismo mundial.


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