|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Esquema de doping pode até pôr técnico na prisão
Ao confessar ter dado EPO a atletas, treinador se expõe a investigação criminal
Segundo o Código Penal, Jayme Netto Jr. tem chance de ser condenado por colocar em risco a saúde de outras pessoas, no caso, seus pupilos
JOSÉ EDUARDO MARTINS
MARIANA BASTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Não é somente na esfera esportiva que o técnico Jayme
Netto Jr., pivô do maior caso de
doping do atletismo brasileiro,
pode ser julgado.
Após ter confessado que ministrou doses de EPO (eritropoietina) a seus atletas, o treinador pode ser exposto a um
outro processo e corre até o risco de ser condenado à prisão.
Jayme declarou anteontem
que injetou a substância proibida sem o conhecimento de seus
pupilos. Nos casos mais graves,
o uso de EPO, que aumenta a
produção de glóbulos vermelhos no sangue, pode resultar
na morte da pessoa.
Se o esportista suar muito e
se desidratar, o sangue tende a
ficar pastoso, o que compromete a circulação sanguínea.
Como a aplicação de EPO expõe a vida ou a saúde de outrem
a perigo direto ou iminente, o
técnico teria violado o artigo
132 do Código Penal. Se for
condenado por isso, Jayme pode ser punido com detenção de
três meses a um ano.
O técnico, que não possui habilitação para prescrever medicamento controlado -a EPO é
indicada para pessoas com deficiências renais-, ainda pode
ter de responder à lei de contravenções penais. Segundo o artigo 47, exercer profissão sem
preencher as condições a que
por lei está subordinado o seu
exercício pode render prisão de
até três meses ou multa.
Caso venha a ser comprovada a participação do fisiologista
Pedro Balikian e do assistente
técnico Inaldo Sena, ambos
também podem ser responsabilizados criminalmente.
Por ora, no entanto, o escândalo de doping ficará restrito ao
terreno esportivo. De acordo
com a legislação dessa área, o
caso só vai ser encaminhado à
autoridade competente e ao
Ministério Público após ser julgado no Superior Tribunal de
Justiça Desportiva (STJD).
Atualmente, além de serem
alvo de uma sindicância da
Confederação Brasileira de
Atletismo (CBAt), Jayme e Sena estão sujeitos a perder a habilitação profissional.
O Conselho de Educação Física de São Paulo confirmou o
inquérito, que será realizado
após o anúncio do veredicto da
CBAt. "Os dois [Jayme e Sena]
serão enquadrados pelo código
de ética e logicamente serão
punidos", disse Flavio Delmanto, presidente do conselho.
Jayme e Balikian ainda são
alvo de investigação da Unesp.
O técnico é professor do Departamento de Fisioterapia da universidade. O fisiologista, que
ainda não se pronunciou publicamente, coordena o Laboratório de Fisiologia do Exercício.
Mesmo após ter confessado a
participação direta no esquema
que resultou em cinco casos de
doping, Jayme não foi afastado
pela universidade pública.
De acordo com a assessoria
de imprensa da Unesp, será
aberta uma sindicância na próxima semana, que deve ser
composta por quatro ou cinco
professores com título superior
ao dos investigados.
Em até um mês, a decisão deve sair, com a possibilidade de
ambos perderem o direito de
dar aulas na universidade.
Ontem, os atletas Jorge Célio
da Rocha Sena, Bruno Lins Tenório de Barros e Lucimara Silvestre da Silva abriram mão da
análise da contraprova dos exames antidoping e foram suspensos pela confederação brasileira por dois anos, em conformidade com o regulamento
da Iaaf, a entidade que gerencia
o atletismo mundial.
Texto Anterior: Xico Sá: Caim x Abel Próximo Texto: Tranquilo: "Episódio não atrapalha candidatura do Rio", diz Nuzman Índice
|