São Paulo, sexta-feira, 07 de setembro de 2007

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FÁBIO SEIXAS

Quando o mundo joga contra


Uma série de barbeiragens e azares pode transformar um título certo num dos maiores tombos dos últimos anos


MAIS ATÉ do que a sensação Hamilton, mais do que o renascido Stoner, se alguém no esporte a motor terminou o primeiro semestre flutuando nas nuvens, foi o veterano Franchitti.
Há dez anos ralando nos EUA, o simpático escocês, de repente, deslanchou. Em maio, venceu Indianápolis. Em junho, levou duas, Iowa e Richmond, tornando-se o primeiro piloto na temporada a ganhar provas em seqüência.
Fechou a primeira metade do campeonato disparado na liderança, com 65 pontos de vantagem sobre Dixon e 72 sobre Wheldon e Kanaan, empatados em terceiro lugar. Mais: vivia aquela fase em que tudo dá certo (vide o que aconteceu nas molhadas e polêmicas 500 Milhas). Passadas 53% das provas, enfim, parecia rumar para um título que seria merecido. Parecia. E seria.
A IRL corre a última etapa no domingo, no oval de 1,5 milha de Chicago. Franchitti ainda é o líder. Mas sua vantagem é quase nula num campeonato que dá 50 pontos para o vencedor de uma prova, 40 para o segundo e daí por diante.
Três pontos. Três pontinhos. E uma série de desventuras, azares e barbeiragens que, no fim de semana, podem transformar um "título-quase-ganho" num dos maiores tombos dos últimos anos. Uma história para virar "case", para ser usada por líderes de times e técnicos de futebol para lembrar os comandados de que o jogo só termina quando acaba.
Em julho, no intervalo de três semanas, viu Dixon conquistar três vitórias consecutivas: Watkins Glen, Nashville e Mid-Ohio. Em agosto, assistiu a Kanaan emplacar duas vitórias. Dixon levou mais uma. E, no último domingo, em Detroit, o baiano venceu de novo.
Mas ficar só nos resultados frios e crus seria raso demais. Porque o que não faltou na vida de Franchitti, nestes dois meses, foi melodrama, no sentido mais patético, violento, romanesco e anti-heróico.
Em Michigan, tinha a vitória nas mãos quando decolou num choque com Wheldon, deu um looping, pousou, foi acertado por Dixon, deu outro looping, pousou de novo. Seis dias depois, em outro oval, Kentucky, voltou a decolar, desta vez em Matsuura. Importante: a prova tinha terminado. Acabou em 13º lugar, virou piada e hit no YouTube.
Duas semanas depois, Sonoma. Franchitti marchava para a vitória até ser atingido num lance infantil de Marco, seu companheiro e filho do dono da equipe, Michael Andretti. No domingo, era terceiro na penúltima volta quando viu Dixon e Rice baterem e o mundo sorrir para ele. Por poucos segundos. Numa manobra suja, o neozeolandês deixou o carro rolar para trás e acertar o escocês, que só cruzou em sexto.
Hoje, Franchitti tem 587 pontos, contra 584 de Dixon e 548 de Kanaan -sim, uma combinação complicada de resultados pode dar o bi ao baiano. Mas tem o peso do mundo sobre os ombros.

fseixas@folhasp.com.br


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